Se você era um bom aluno de geografia na escola, com certeza se lembra de ter estudado sobre os “tigres asiáticos”. A expressão foi criada para fazer uma analogia entre a força, a agilidade e a audácia típicas do comportamento de felinos encontrados no sudeste do continente e o vigoroso crescimento econômico de algumas nações que, até os anos 1970, eram consideradas bastante empobrecidas.
Os primeiros tigres asiáticos foram: Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e Hong Kong (que atualmente pertence à China). O sucesso desses primeiros tigres atraiu as atenções dos países vizinhos: Filipinas, Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietnã que passaram a adotar reformas econômicas e estruturais capazes de atrair mais investimentos.
Do outro lado do mundo, o Panamá, um pequeno país que conecta a América do Sul à América Central, vem chamado a atenção dos economistas do mundo inteiro, por possuir características semelhantes às dos tigres asiáticos. Tanto que ganhou o apelido de “Singapura” latino – americana, já que nos últimos 25 anos, foi o país que alcançou o maior crescimento econômico da região.

Existem alguns fatores que explicam este êxito panamenho, vamos ver alguns deles:
Diferentemente de outras nações centro – americanas como Honduras, Nicaragua o El Salvador, o país abriu sua economia ao mundo há mais de 30 anos, quando a região estava enfrentava a chamada “década perdida”, no meio de uma profunda crise econômica.
“O Panamá experimentou um salto quântico econômico”, disse à BBC Mundo, Alejandro Santos, chefe da Missão no Panamá e chefe da divisão no e Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI). “Foi um impulso gigantesco, comparável a de outros países asiáticos como Singapura ou Coreia do Sul”.
E assim demonstram as cifras: nos últimos 25 anos, o Panamá liderou o crescimento econômico da região com um índice de 5,9%, seguido por República Dominicana, Peru, Chile e Costa Rica, segundo as estimativas do FMI.
De fato, o Panamá expandiu sua economia mais que o dobro da média regional.
Os arranha – céus da capital, Ciudad de Panamá e o impactante fluxo comercial que transita por seu icônico canal, somado ao sabor cosmopolita da metrópole e ao dinheiro que corre por suas veias, criam a aparência de uma “joia do progresso”.
No entanto, o Panamá está longe de ser um paraíso: é um dos países mais desiguais da região e esteve no centro de um dos maiores escândalos de corrupção dos últimos anos na América Latina. Documentos de arquivos secretos, obtidos a partir de um escritório de advocacia no país, revelaram um esquema global de ocultação de patrimônio e dinheiro por parte de líderes mundiais, chefes de Estado e figuras públicas. O caso ficou conhecido como o escândalo do Panamá Papers.
Grande Salto
Até os finais da década de 1980, os países latino – americanos viviam os duros efeitos da onda de recessão que assolava a América Latina, naquele momento. Dívidas impagáveis, grandes déficites fiscais e volatividades inflacionárias e de tipos de câmbios, eram uma constante na época.
Por outro lado, o Panamá, que tinha um certo nível de estabilidade política, começou a se abrir ao comércio internacional, conta Santos. “Se a isso somamos uma posição geográfica privilegiada, podemos ver porquê o pais terminou se transformando em um dos grandes centros internacionais de comércio, finanças e atividades logísticas” – acrescenta o especialista.
O grande motor que move a máquina
Mais recentemente a ampliação do Canal do Panamá (concluída a meados de 2016), permitiu ao país dobrar sua capacidade de tráfico marítimo. Embora o canal não seja a única razão do crescimento econômico, ele permitiu que o país abrisse caminho para muitos investimentos. “O Panamá investiu muito nos últimos cinco anos”, disse José Cuesta, economista do Banco Mundial, em conversa com a BBC Mundo.
Prova disso é que as taxas de investimento chegaram a cerca de 40%, fazendo com que o país mantenha seu ritmo de crescimento ecônomico, através do desenvolvimento de indústrias como a de logística, telecomunicações e de finanças. O aeroporto tem sido outra fonte de investimento, além do metrô e de outras obras de infra estrutura como pontes e sistemas de água e saneamento. “Isto tem permitido reduzir consideravelmente a pobreza”, desde um 22% em 2010 a 13% em 2018, explica o especialista. Na prática, nos últimos quatros anos, 150.000 pessoas saíram da pobreza.
Desigualdade
Baixar a pobreza é uma coisa, porém, diminuir a desigualdade é algo bem diferente.
“A desigualdade do Panamá é uma das mais altas da América Latina”- aponta Cuesta.
” E a América Latina é a região mais desigual do mundo”.
O ranking da desigualdade (medido pelo Coeficiente de Gini) estabelece o Brasil como o país mais desigual da região, seguido por Honduras e Panamá, segundo os últimos dados disponíveis no Banco Mundial, que correspondem a 2017.
A Venezuela não está incluída na lista, porque não existe informação oficial disponível. “Para o Panamá que é um país com alta porcentagem de inversão, não se pode justificar facilmente esse nível tão alto de desigualdade” – afirma José Cuesta.
Olhando mais profundamente para o país aparece um desafio ainda maior: a precária situação em que se encontram as comunidades indígenas.
“A pobreza nessas localidades é 10 vezes maior que no resto do país”. Nessas condições, enfatiza Cuesta, se faz necessária uma política social “mais ambiciosa”, com aumento do gasto social para proteger as pessoais mais pobres”.

Mineração
Apesar dos escândalos de corrupção e da impunidade, a economia segue se expandindo. E embora, em 2018 o crescimento econômico não tenha sido tão alto: 3,7%, o FMI projeta que neste ano o país voltará a crescer em torno de 6%.
Se a previsão se confirmar, o crescimento do Panamá vai superar o Chile como o país com maior crescimento econômico per capita da região em 2019. Mas isso depende da recuperação do setor da construção (que no ano passado enfrentou uma extensa greve) e do nível de exportações que alcance a mina Cobre Panamá, operada pela empresa canadense, First Quantum. A firma espera vender cerca de 320.000 toneladas anuais de concentrado deste mineral quando alcance seu nível máximo de produção.
“O grande desafio do Panamá é manter o ritmo de crescimento”, disse Alejandro Santos do FMI, algo que não é nada fácil quando uma economia está correndo a toda velocidade.
Muito interessante a evolução da economia desse pequeno país, não é? E é muito triste constatar que o Brasil, infelizmente, lidera o ranking da desigualdade social na região 😦
Isso, é sem dúvida, algo que precisamos mudar… 🇧🇷
Fontes: BBC Mundo, Revista Exame e Site Stoodi
Deixe um comentário