Neste domingo, dia 07 de Agosto de 2022, o Brasil celebrou 08 décadas de vida de um seus maiores artistas de todos os tempos, Caetano Veloso. O irmão de Betânia, filho de dona Canô nos encanta com sua poesia transformada em música e nos alenta nos momentos mais difíceis. Um aniversário tão especial não poderia deixar de ser comemorado em grande estilo. O cantor se apresentou em uma live transmitida para todo o Brasil, diretamente do Rio. Grandes nomes da arte brasileira estavam presentes no evento: Gilberto Gil, Lulu Santos, Ana Carolina, Vanessa da Mata, William Bonner, Renata Vasconcellos, Wagner Moura, Sabrina Sato, Marcelo Serrado, Marcos Palmeira, Rodrigo Santoro, Dira Paes, Djavan, entre outros.
Aclamado no Brasil, Caetano é reconhecido também mundialmente; quem é fã dos filmes de Almodóvar, por exemplo, já deve ter reparado a presença do brasileiro nas trilhas sonoras do diretor espanhol. Um outro gringo, fã declarado de Caetano, é o uruguaio Jorge Drexler. A pedido do Jornal ” O Globo”, o cantor e compositor escreveu um texto em homenagem ao ídolo e amigo. Confira abaixo:
‘Quando eu for jovem quero ser que nem Caetano Veloso’
“A primeira vez que vi Caetano Veloso foi no ano de 1985, durante o carnaval de Salvador da Bahia. Em traje de banho, e em meio a uma compacta massa de corpos banhados pela chuva, o suor e a cerveja, descia eu pela Rua Carlos Gomes atrás de um trio elétrico e a caminho da Praça Castro Alves quando, ao olhar pra cima, vi uma imagem do Caetano pintada em uma faixa de rua que atravessava de um lado ao outro da avenida.
Como um semideus, ele sorria pra nós desde as alturas enquanto a sua cidade, transbordante de beleza inteligente, música, cor e desejo, o homenageava na sua maior festa popular. Acho que foi a primeira vez que entendi, profundamente, o que a música podia significar em uma sociedade, assim como o papel que poderia chegar a ter na minha própria vida.
Compreendi também que existia um outro mundo além daquele opressivo e cinza dos tempos da ditadura no Uruguai, onde eu tinha crescido. Um mundo onde eu tinha algo a fazer: canções.
No Brasil de hoje, que aos poucos está se despertando de seu próprio pesadelo, também opressivo e cinzento, é difícil ver em perspectiva algo tão grande quanto a figura de Caetano. Mas eu – que embora me sinta em casa no Brasil, o enxergo de fora – posso me permitir ver o país como ele é: um gigante cultural que tem a canção popular como centro identitário.
Esse fenômeno incomum foi gerado por uma geração incomum de “cancionistas”.
Realmente incomum.
A concentração de talento na música brasileira do último meio século é algo insólito, talvez apenas comparável a fenômenos como o Século de Ouro espanhol ou o Tin Pan Alley de Nova York.
O Brasil protagonizou (e ainda protagoniza) uma espécie de Era de Ouro Tropical.
Talvez só ao longo de décadas vamos perceber o privilégio que foi termos sido contemporâneos de uma série de fenômenos da magnitude da Bossa Nova, do Tropicalismo e da MPB.
E Caetano Veloso é parte central da espinha dorsal desse milagre musical.

A sua excelência insólita, como compositor e intérprete, o coloca como um dos seus dínamos essenciais. Caetano, que tem conseguido se manter sempre atento, sempre aberto a cada época e evitando o abraço pétreo da consagração, aquela cabeça de Medusa que transforma em estátua de si mesmo o artista que assume sua própria glória.
Só o fui conhecer pessoalmente em novembro de 1993, quando ele foi tocar pela primeira vez no Uruguai, com “Circuladô ao vivo” (talvez o melhor show que já vi na minha vida!). O impacto que me provocou foi tanto que sua presença cênica reverbera em mim ainda hoje, cada vez que piso em um palco.
Caetano é belíssimo, por dentro e por fora, com essa aura de semideus que vi naquela faixa no carnaval de 1985. Mais do que nunca, ele agora está aí: charmoso, inovador, inspirador e com aquela elegância natural realçada pelos seus tropicais 80 anos.
Quando eu for jovem quero ser que nem Caetano Veloso.
Fonte: Site Jornal O Globo
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