É sempre positivo iniciar o ano contando notícias boas para facilitar a conjugação do verbo “Esperançar” como diria o grande Paulo Freire. Nos últimos dias de 2021, ventos bons sopraram do Oeste, mais precisamente do Chile. O país andino aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e elegeu o candidato de esquerda Gabriel Boric, derrotando o oponente de extrema-direita, José Antonio Kast, saudoso da ditatura de Pinochet. Boric venceu com 55,9% dos votos (4,6 milhões de votos), contra 44,1% de Kast (3,6 milhões de votos).
Além de ser o presidente eleito mais jovem da história do Chile, aos 35 anos, Boric foi o presidente eleito com mais votos na história do país da América do Sul. Com 8,3 milhões de votos ao total, a participação dos chilenos no segundo turno das eleições presidenciais foi a maior da história desde a redemocratização do país, em 1988.
Neste vídeo do canal “A nova máquina do tempo” você poderá conhecer melhor o perfil do presidente eleito no Chile
DIREITOS IGUAIS
A outra notícia boa está relacionada ao direitos de união homoafetivas: O casamento entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado pelo Congresso do Chile no dia 07 de dezembro. O texto passou primeiro pelo Senado e foi votado logo em seguida pela Câmara dos Deputados, seguindo para a sanção presidencial. Essa era uma demanda de longa data da comunidade LGBTQI+ do país e a lei que autoriza o casamento igualitário foi revisada pela Comissão de Constituição do Senado antes de ir à plenário.
A ministra de Desenvolvimento Social e da Família, Karla Rubilar, disse após a votação que com a aprovação será possível “avançar com os direitos para todos”. “Esta é uma daquelas oportunidades nas quais pensamos nas pessoas”, disse Rubilar. “A aprovação do casamento igualitário nos permite avançar com os direitos para todos. É um marco que mostra o melhor da política.” O projeto busca equalizar direitos e obrigações dos casamentos independentemente do sexo das pessoas que compõem a união.
Para isso, o conceito de casamento entre um homem e uma mulher muda de modo a ser aplicado sem distinção de sexo. Atualmente, o único instrumento legal para unir legalmente casais do mesmo sexo é o Acordo de União Civil, aprovado em 2015, que permite o acesso a quase todos os direitos estipulados pelo casamento, mas nega a possibilidade de adoção e direitos de filiação de filhos pelos casais do mesmo sexo.
“No Chile não somos reconhecidos como família; o casamento igualitário é uma reivindicação de anos”, disse Lorena Grez, que participou da entrega de 20 mil assinaturas a favor da aprovação do projeto.
O Chile se torna o nono país das Américas a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, depois dos seguintes países:
Canadá,
Estados Unidos,
Costa Rica,
Equador,
Colômbia,
Brasil,
Uruguai,
Argentina,
México (onde o casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal em 14 dos 32 estados).
Que esses bons ventos tragam excelentes energias para o Brasil, neste ano decisivo de 2022. 🇨🇱 🇧🇷
Fontes: Revista Exame, Portal G1 e canal “A nova máquina do Tempo – Youtube.
O Instituto de Saúde Pública do Chile (ISP) autorizou na segunda-feira, dia 06 de setembro, a aplicação da vacina contra a covid-19 Coronavac em crianças e adolescentes de 6 a 17 anos. A decisão é para uso emergencial.
O instituto é vinculado ao Ministério da Saúde chileno. O orgão convocou especialistas para participarem da avaliação, baseada especialmente em um estudo chinês feito com mais de 500 crianças e adolescentes de 3 a 17 anos, o qual identificou a produção de anticorpos contra o novo coronavírus.
Cinco dos especialistas do conselho convocado pelo ISP votaram a favor da administração em crianças de 6 anos ou mais, dois foram favoráveis à autorização somente para os adolescentes a partir dos 12 anos e um votou contra a ampliação da faixa etária. A Coronavac está aprovada para uso de emergência em crianças na Indonésia e na China.
No comunicado da decisão, o ISP diz que a aplicação a partir de 6 anos foi escolhida por ser a que os “dados existentes garantem uma boa resposta imune à vacina”. Também foi destacado que o imunizante teria um “bom perfil de segurança”.
Em coletiva de imprensa, o diretor do instituto, Heriberto García Escorza, destacou que a ampliação é importante em meio à disseminação de novas variantes, como a Delta. “Vamos gerando um escudo. Os dados demonstram que as crianças estão aumentando no número de contagiados, por serem os que não estão vacinados. Dentro deste grupo etário, estão por exemplo, crianças transplantadas, imunodeprimidas. E, portanto, é muito necessário aumentar este grupo etário”, declarou.
Escorza ainda reconheceu que a decisão tem repercussão internacional. “Creio que isso nos coloca como um País bastante vanguardista, na mira do mundo”, afirmou. Ele também destacou que a vigilância sanitária chilena é “bastante boa em relação a outros países” e que será importante que médicos, professores e famílias estejam atentos a possíveis reações após a aplicação.
Sobre as crianças de 3 a 5 anos, os especialistas do instituto entenderam haver a necessidade de levantamento de dados mais completos, especialmente da resposta imunogênica e de reações. “É um grupo que tem uma resposta imune mais forte”, afirmou o diretor do instituto. “Portanto, é importante esperar um estudo de fase 3 para tomar uma maior decisão.” Ele citou como exemplo um estudo com 4 mil pessoas no País, que será liderado pela Pontifícia Universidade Católica do Chile.
A decisão foi celebrada pelo ministro da Saúde chileno, Enrique Paris. Ele classificou a autorização como uma “grande notícia”, especialmente para a população em idade escolar.
Assim como o Brasil e outros países, o Chile por enquanto realiza a aplicação apenas da vacina desenvolvida pela Pfizer com a BioNTech no público entre 12 e 17 anos. A Coronavac é a principal vacina aplicada no País, no qual 86% da população em idade elegível está com o esquema vacinal completo.
Anvisa considerou dados insuficientes para autorização no Brasil
No Brasil, a aplicação da Coronavac em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos foi rejeitada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 18 de agosto. A decisão foi unânime e considerou que o perfil de segurança na população não foi suficientemente demonstrado nos dados enviados pelo Instituto Butantan.
A agência também apontou dificuldade de determinar a eficácia da vacina para crianças. A ausência de algumas informações sobre a proteção da Coronavac em adultos, ainda não enviadas pelo Butantan, comprometeu a análise, destacaram os diretores da Anvisa.
Apesar de os participantes do estudo terem apresentado “resposta imune robusta” quanto à indução de anticorpos neutralizantes, a eficácia da vacina em crianças é desconhecida, segundo a Anvisa, porque não houve correlação no estudo atual com a proteção obtida em adultos.
A morte do ícone da TV brasileira, Tarcísio Meira, que havia tomado as duas doses da CoronaVac e mesmo assim evoluiu para um quadro grave da Covid, acendeu o debate para a necessidade de um reforço na imunização no país.
Nosso vizinho andino Chile começou nesta quarta-feira (11) a administrar a terceira dose das vacinas contra a covid-19, num plano de reforço focado inicialmente nos quase dois milhões de cidadãos maiores de 55 anos já vacinados duas vezes com o imunizante chinês O processo de vacinação em massa contra a covid-19, por lá, começou em fevereiro passado, e nestes seis meses 82,44% da população-alvo completou sua pauta de vacinação, em boa medida com a fórmula do laboratório Sinovac. O Governo chileno tomou a decisão logo depois de detectar que essa vacina continua demonstrando importantes sinais de efetividade contra casos de hospitalização, internação em UTI e morte, mas que sua eficácia para prevenir a doença sintomática caiu de 67% a 58,49%, segundo um estudo divulgado na semana passada pelo Ministério da Saúde, que incluiu milhões de pessoas.
Com este processo de reforço, o Chile se torna o primeiro país da América do Sul a iniciar a terceira etapa da vacinação contra a covid-19 já que o Uruguai, outro país que aprovou a medida, anunciou que irá começar a reforçar a imunização na próxima semana. No resto da América Latina, a República Dominicana iniciou em julho a inoculação com a terceira injeção.
Com 65% da população já completamente vacinada, o Chile é um dos países com a campanha de proteção contra o coronavírus mais adiantada do mundo.
Segundo a subsecretária de Saúde do país, Paula Daza, indivíduos com mais de 55 anos receberão uma terceira dose da AstraZeneca da Universidade de Oxford. Já para aqueles que estão abaixo dessa idade, será oferecida posteriormente a Comirnaty da Pfizer e BioNTech. Por ora, os chilenos que tomaram duas doses da Astrazeneca ou da Pfizer não serão contemplados com o reforço. Mas eles configuram uma minoria: a CoronaVac foi aplicada em 90% dos vacinados do país.
A decisão do governo vem como uma resposta aos estudos e orientações dos cientistas de instituições locais, que observaram uma diminuição da eficácia da vacina da Sinovac com o passar dos meses.
A nação sul-americana também passa por um momento de relativa estabilidade da pandemia, com quedas nos números de casos e mortes por covid-19. Mas a chegada da variante Delta ligou o sinal de alerta das autoridades sanitárias locais e acelerou a discussão e a decisão sobre a necessidade de uma terceira dose.
Por enquanto, ainda não há nenhuma definição sobre o reforço vacinal no Brasil, mas tanto o Ministério da Saúde quanto o Instituto Butantan (responsável por finalizar a produção da CoronaVac no país) admitem que avaliam e consideram essa possibilidade.
Na dúvida, melhor garantir
De acordo com o painel da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, o Chile contabiliza até o momento 1,6 milhões de casos e 35 mil mortes pela covid-19.
O pior período da pandemia por lá ocorreu entre junho e julho de 2020, quando o país alcançou uma média móvel de 240 óbitos por dia. A nação também registrou uma segunda onda entre março e junho de 2021 e ultrapassou a média de 7,3 mil diagnósticos diários da infecção pelo coronavírus.
É curioso notar que, nesse segundo período de maior gravidade, não houve um aumento proporcional na taxa de mortes (embora elas tenham subido), o que reforça a ideia de que as vacinas estão cumprindo na prática o que foi visto nos estudos clínicos: uma proteção contra os casos mais graves, que exigem intubação e podem matar.
Falando na imunização, o Chile é o terceiro lugar no mundo com a campanha mais adiantada (só fica atrás de Emirados Árabes Unidos e Uruguai), em que 65% da população está com as duas doses e 8% com a primeira aplicação. Todos esses dados vêm do Our World In Data, portal que reúne estatísticas e informações sobre a pandemia.
Com um cenário relativamente tranquilo, o governo local decidiu aliviar as políticas restritivas e colocar em marcha o plano de retomada das atividades econômicas e sociais.
Mas dois acontecimentos criaram uma preocupação nas autoridades sanitárias e deram força aos projetos de distribuir a terceira dose. Primeiro, a confirmação da chegada da variante Delta em território chileno, que já foi detectada inclusive em pessoas que não viajaram ao exterior (o que confirma a transmissão comunitária dessa linhagem).
A experiência de outros países, como Israel, Reino Unido e Estados Unidos, mostra que essa nova versão do coronavírus é mais transmissível e está por trás do descontrole nos números de casos confirmados, mesmo nos lugares com a vacinação bem encaminhada.
A boa notícia é que a vacina continua tendo uma eficácia considerável mesmo após esse tempo. Os autores ainda destacam que foram poucos (menos de 3%) os participantes que tiveram covid-19 grave após estarem completamente imunizados.
Mesmo assim, os especialistas recomendaram que o Ministério da Saúde do Chile avaliasse a possibilidade de oferecer uma terceira dose, para garantir que o sistema imunológico continue “antenado” para evitar um ataque bem-sucedido do coronavírus.
A bioquímica e imunologista Marcela Gatica, da Universidade de La Serena, localizada no norte do Chile, chama a atenção para o fato de a pesquisa, que ganhou muito destaque, ainda não ter sido publicada em periódicos científicos, o que dificulta uma avaliação mais aprofundada sobre seus resultados.
Ela também critica a falta de critérios ou explicações para definir os tipos de vacinas que serão aplicadas em cada faixa etária. “De forma geral, uma parte da população recebeu a informação da terceira dose com alegria e tranquilidade. Mas, por outro lado, uma parcela também ficou em dúvida sobre o que isso significa e o que realmente se sabe sobre essa questão”, analisa.
“Também há um sentimento questionando se é certo dar uma terceira dose enquanto outros países não têm vacinas”, completa.
E no Brasil?
Com pouco mais de 52 milhões de doses aplicadas (36% do total), a CoronaVac é a segunda vacina contra a covid-19 mais utilizada no Brasil — ela só fica atrás da Astrazeneca, com 68 milhões de unidades (48%).
A discussão sobre a necessidade de reforço, porém, está menos avançada por aqui. Até o momento, o assunto foi mencionado por cima em discursos e entrevistas de políticos e gestores de saúde. Foi o caso, por exemplo, do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Ele disse recentemente que “tudo indica que precisaremos de uma terceira dose”.
O diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, seguiu uma linha de raciocínio parecida e declarou que algumas vacinas demandarão esse reforço. Por outro lado, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) declarou que ainda não acredita na necessidade da dose adicional.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, parece concordar. Ao reclamar sobre anúncios adiantados feitos por representantes de Estados e municípios sobre esse tópico, ele reafirmou a urgência de focar e avançar na vacinação com duas doses.
Do ponto de vista oficial, o Ministério da Saúde vai iniciar um estudo para avaliar a necessidade de reforço para quem tomou a CoronaVac.
“A pesquisa, que será realizada em parceria com a Universidade de Oxford e deve começar em duas semanas, vai verificar a intercambialidade dessa vacina com outros imunizantes disponíveis para a população brasileira”, afirma a assessoria de imprensa do ministério, após um pedido de esclarecimentos feito pela BBC News Brasil.
De acordo com a pesquisadora Sue Ann Clemens, que vai coordenar a investigação direto de Oxford, na Inglaterra, o objetivo é vacinar pessoas que já tenham tomado as duas doses da CoronaVac há pelo menos seis meses.
Os 1,2 mil voluntários serão divididos em quatro grupos: um receberá um reforço da própria CoronaVac, enquanto os outros tomarão os imunizantes da Pfizer, da Astrazeneca ou da Janssen. A partir desses resultados, as autoridades públicas brasileiras poderão decidir até o final do ano se adotam a mesma estratégia do Chile ou não.
O médico Jorge Elias Kalil Filho, professor titular de imunologia clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, revela que esse assunto também está sendo debatido pelo comitê técnico que assessora o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, do qual ele faz parte.
É possível que esse grupo faça novas orientações e recomendações sobre a questão ao longo das próximas semanas. A reportagem da BBC News Brasil também procurou o Instituto Butantan, responsável por finalizar a produção da CoronaVac a partir da importação dos insumos da China.
“Já temos estudos iniciados no Brasil e em outros países que preveem a necessidade de uma dose de reforço anual contra a covid-19, assim como acontece hoje em relação à influenza (gripe). Essa hipótese vem sendo amplamente discutida, especialmente diante do avanço da variante Delta”, responderam os representantes da entidade, por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa.
“Vale ressaltar que o avanço da Delta [no país] está sendo acompanhado por meio da Rede de Alertas das Variantes do Sars-CoV-2 [o coronavírus responsável pela pandemia atual], coordenada pelo Butantan e, por enquanto, não foi considerado representativo do ponto de vista populacional”, completam.
O momento certo entre a precipitação e o atraso
O resumo da ópera, portanto, é que o Brasil avalia a possibilidade de um reforço na vacinação contra a covid-19 no futuro, mas ainda estamos longe de qualquer definição sobre esse tópico. Do ponto de vista científico, esse compasso de espera até faz sentido: não temos evidências suficientes e um consenso entre os especialistas de que a dose adicional será realmente necessária.
A imunologista Ana Karolina Marinho, do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), entende que é importante que especialistas e gestores discutam esse assunto e se planejem para o futuro.
“Nós não sabemos ainda quanto tempo dura a imunidade pela vacina ou pela infecção natural. Temos estudos mostrando que ela se mantém por pelo menos seis ou até oito meses, mas ainda precisamos de dados mais sólidos”, contextualiza.
Já Kalil acredita que é necessário começar a aplicar uma terceira dose agora nos grupos vulneráveis, como indivíduos com mais de 80 anos, aqueles que fizeram ou que têm algum problema no sistema imunológico. “Muito provavelmente essa população se beneficiaria dessa estratégia, especialmente se aqueles que tomaram a CoronaVac lá atrás receberem agora uma dose da Pfizer ou da AstraZeneca”, diz.
“Nós temos que fazer projeções das hospitalizações e mortes por covid-19 daqui para frente e pensar em proteger aqueles que mais precisam”, completa o professor, que aponta a chegada de uma boa quantidade de lotes de imunizantes ao Brasil ao longo dos próximos meses, segundo o planejamento do Ministério da Saúde, como um caminho para suprir essa possível demanda extra.
Enquanto não temos uma definição, é importante que, do ponto de vista individual, todo mundo continue fazendo a sua parte e vá ao posto de saúde nas datas estipuladas. Todas as vacinas contra a covid-19 usadas no PNI foram aprovadas pela Anvisa e têm a segurança e a eficácia comprovadas em estudos rigorosos.
E, claro, mesmo com qualquer definição sobre o reforço, todas as pessoas (incluindo os vacinados) precisam continuar se cuidando e respeitando as orientações de distanciamento físico, uso de máscaras, preferência por lugares bem arejados e higiene das mãos.
Em uma decisão carregada de simbolismo e refletindo o espírito da Convenção Constitucional do Chile, que teve início no dia 04 de julho, Elisa Loncón foi eleita a presidente do órgão que deve redigir a nova constituição do país.
A indígena, de 58 anos, presidirá o órgão que criará a nova Carta Magna, que deve substituir a atual, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Loncón é professora, linguista e ativista mapuche — maior etnia indígena do Chile. Ela foi eleita por maioria absoluta (96 dos 155 votos) no segundo turno da sessão de abertura da Convenção.
“Agradeço o apoio das diferentes coalizões que deram sua confiança e depositaram seus sonhos no chamado feito pela nação mapuche para que votassem em uma pessoa mapuche, uma mulher, para mudar a história deste país”, declarou Loncón no primeiro domingo do mês, ao aceitar o posto com o punho cerrado acima da cabeça.
“Você pode dialogar com a gente, não tenha medo, porque também está instalada uma política do medo. Há muito preconceito sobre uma candidata indígena e mapuche. Então, esse é um chamado para nos libertarmos dos nossos preconceitos e interagir em condições iguais”, disse Loncón em uma entrevista recente ao periódico chileno “La Tercera”.
Sua eleição é uma mudança drástica para grupos que não estão reconhecidos na atual Constituição. “Esta convenção vai transformar o país e torná-lo plurinacional e intercultural”, declarou a professora.
A eleição de Loncón é também uma amostra da maioria dos progressistas entre os 155 parlamentares que compõem a assembleia. Com uma direita enfraquecida, com apenas 38 das 155 cadeiras, e a ascensão de candidatos independentes — em sua maioria progressistas —, a convenção terá a missão de colocar no caminho um país duramente afetado por uma crise social e institucional.
Loncón ocupa umas das 17 cadeiras reservadas para povos indígenas, sete das quais estão ocupadas por representantes do povo mapuche, duas pelo povo aimará e um para representantes de cada um dos outros povos: kawésqar, rapanui, yagán, quechua, atacameño, diaguita, colla e chango.
Elisa Loncón é professora e militante mapuche – Imagem Divulgação
Nascida em Traiguén, na região de La Araucanía, no sul do Chile, um reduto mapuche, Loncón viveu a sua infância na comunidade Lefweluan. Recentemente, ela contou ao jornal espanhol El País que para ir à escola “tinha que viajar por oito quilômetros de sua casa na comunidade mapuche”, percurso que costumava fazer a pé. A maior parte da família dela ainda vive naquela comunidade.
Loncón se formou como professora de inglês na Universidade La Frontera, em La Araucanía, e fez pós-graduação no Instituto de Estudos Sociais de Haia e na Universidade de Regina, no Canadá. Ela também possui doutorado em Humanidades pela Universidade de Leiden, nos Países Baixos, e um doutorado em literatura na Pontifícia Universidade Católica do Chile.
Eleição simbólica
A eleição de Loncón é simbólica porque um dos principais debates para a redação da nova Carta Magna é o reconhecimento dos povos indígenas. A definição dos direitos para as comunidades indígenas e o debate sobre um Estado plurinacional são temas fundamentais.
Entre as demandas das comunidades indígenas está a criação de um Estado que aceite a autonomia e os direitos desses povos. Além disso, pedem garantias em termos territoriais e de reconhecimento de sua cultura e língua, entre outros pontos.
“Esse é um grande problema que vai custar caro, que precisará de muitas reparações históricas. E obviamente é complicado porque toca em direitos de propriedade. Mas é fundamental. Os modelos da Nova Zelândia e do Canadá são os mais interessantes (sobre o tema)”, propôs o doutor em Ciência Política Juan Pablo Luna, professor da Universidade Católica do Chile, em recente entrevista à BBC Mundo (serviço em espanhol da BBC).
Chile e Uruguai estão entre os poucos países latino-americanos que carecem de reconhecimento explícito dos povos indígenas em suas constituições. Do outro lado estão a Bolívia e o Equador, duas nações que não só reconhecem esses povos, mas também optaram por consagrar o caráter plurinacional de suas constituições.
Elisa com a bandeira Mapuche – GETTY IMAGES
Luna afirmou que a inclusão de direitos garantidos e reconhecidos na Constituição para as comunidades indígenas não representa apenas um forte efeito simbólico.
O doutor em Ciência Política apontou que vários países da América Latina que incorporaram esses direitos, como Brasil e a Colômbia, passaram a ter a Justiça como aliada dos povos indígenas para o reconhecimento de seus direitos constitucionais — como questões territoriais, acesso à saúde, entre outros direitos.
O prazo para que uma proposta de Constituição no Chile fique pronta é, no máximo, um ano desde o início oficial dos trabalhos, no domingo. Em 2022, um plebiscito, com voto obrigatório, definirá pela aprovação ou rejeição da proposta.
A atual Constituição chilena, herdada da ditadura Pinochet, é repudiada por muitos setores do país por seu modelo neoliberal no qual foram privatizados serviços básicos como água, educação e previdência.
Muita sorte ao povo chileno nesses novos tempos que surgem! ✊ 🌹 🇨🇱
Na primeira semana da campanha de vacinação em massa contra covid-19 em idosos, o Chile já havia ultrapassado o marco de um milhão de pessoas imunizadas. A meta do governo chileno é vacinar toda a população que faz parte do grupo de risco — incluindo pacientes crônicos e profissionais de saúde — ainda no primeiro trimestre de 2021, de modo a imunizar 15 milhões dos 19 milhões de habitantes do país até julho.
Em meados de 2020, o governo chileno enfrentou fortes questionamentos em relação à gestão da pandemia, à medida que o país registrava grandes taxas de infecção por covid-19. Mas agora está sendo aplaudido por seu plano de vacinação. A campanha é gratuita e voluntária. De acordo com os últimos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde do país, 2.375.725 pessoas foram imunizadas no Chile contra a covid-19 até o final do mês passado.
Até o dia 19 de fevereiro, o país havia administrado 15,03 doses da vacina para cada 100 habitantes — segundo a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Número muito superior às 3,07 doses no Brasil, 1,48 na Argentina e 1,22 no México. O desempenho até agora coloca o país como líder latino-americano e 7º no ranking mundial de taxa de vacinação contra a doença, liderado por Israel (82,40).
Mas como o Chile alcançou esse resultado?
De acordo com Luis F. López-Calva, diretor regional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da América Latina e Caribe, para que uma campanha de vacinação seja bem-sucedida, três fatores importantes devem ser levados em consideração: primeiramente, dispor de recursos financeiros para adquirir as vacinas; segundo, ter uma boa estratégia para distribuir as doses e, finalmente, ter capacidade institucional e estrutura governamental para implementá-la.
“Essas três características foram bem atendidas no caso do Chile”, afirmou López-Calva à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Compra antecipada de vacinas e diversificação
O Chile agiu rapidamente e logo assinou acordos com diferentes desenvolvedores de vacinas contra covid-19. Até agora, o país já garantiu mais de 35 milhões de doses de vacinas, das quais 10 milhões são da empresa americana Pfizer-BioNTech, outras 10 milhões da chinesa Sinovac e o restante da AstraZeneca, da Johnson & Johnson e do consórcio Covax, iniciativa liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para garantir o acesso universal à vacina.
Além disso, está em meio a negociações para comprar doses da vacina russa Sputnik V, que em breve poderá garantir as duas doses necessárias da vacina para toda a população.
O país também foi o primeiro da América do Sul a iniciar a vacinação contra o covid-19.
As autoridades começaram a imunizar os profissionais de saúde da linha de frente em 24 de dezembro com as doses fornecidas pela Pfizer/BioNTech, às quais se somaram as do laboratório chinês Sinovac na campanha de vacinação em massa que começou no dia 03 de fevereiro.
Para isso, é preciso levar em conta que o Chile dispõe de recursos para obter a vacina. Membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), possui um dos maiores PIB per capita da região, embora também deva ser levado em consideração que apresenta uma taxa de desigualdade superior à média da OCDE. Segundo López-Calva, “a compra das vacinas foi prevista com bastante tempo, houve um bom planejamento”.
“E a ideia era priorizar: primeiro os profissionais de saúde, depois os idosos — para os quais o Chile adquiriu um número significativo de doses da Pfizer — e depois ter vacinas de outras empresas farmacêuticas para o resto da população”.
Nesse sentido, López-Calva acredita que foi importante apostar na diversificação na hora da compra, diferentemente de alguns países de alta renda, por exemplo, que apostam apenas nas vacinas ocidentais.
“A diversificação de desenvolvedores tem sido muito importante porque o mercado está muito distorcido e a oferta muito limitada. Alguns países optaram por um ou outro e só recentemente estão tentando diversificar”, afirmou o diretor regional do PNUD.
Colaboração científico-clínica
Para Alexis Kalergis, acadêmico da Universidad Católica de Chile e diretor do Instituto Millennium de Imunologia e Imunoterapia, a colaboração científico-clínica foi fundamental para alcançar alguns dos acordos.
“Foi estabelecido um acordo de colaboração acadêmica-científica entre a Universidade Católica e a Sinovac, que visa o desenvolvimento recíproco e colaborativo de vacinas contra a SARS-CoV-2, por meio de estudos científicos e clínicos”, explica Kalergis à BBC News Mundo.
“Este acordo deu origem a algo muito importante, que foi a possibilidade de acesso prioritário e preferencial a um fornecimento de doses para uso no Chile, uma vez aprovado pelos respectivos órgãos reguladores”.
“Este direito obtido pela Universidade Católica foi transferido 100% para o Estado do Chile por meio de um convênio entre a Universidade Católica e o Ministério da Saúde. O que permitiu ao nosso país poder garantir um fornecimento antecipado e prioritário de doses para os próximos meses”, acrescenta.
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Capacidade institucional e coordenação
O Chile também possui uma sólida rede de atendimento primária, por meio da qual já são realizadas outras campanhas anuais de vacinação, afirma a jornalista Paula Molina. Segundo ela, tanto essa rede robusta quanto a experiência em campanhas de vacinação têm facilitado a logística. E em relação a isso, o Chile tem uma vantagem.
“Temos uma população pequena e ela está muito concentrada na região metropolitana (Santiago)”, diz Molina. Além da capacidade institucional em termos de centros de saúde, López-Calva também destaca a utilização de recursos materiais e humanos existentes para acelerar o ritmo da vacinação.
Assim, estádios, centros educacionais e esportivos foram transformados em postos de vacinação, e todo profissional de saúde capacitado — como dentistas e parteiras — foi chamado para realizar a vacinação. “É uma estratégia que tem funcionado bem e acho que outros países podem aprender com ela”, avalia o diretor regional do PNUD. Nesse sentido, a colaboração entre os diferentes níveis de governo tem sido fundamental.
“Tem havido uma coordenação do governo central mas com muita intervenção dos governos regionais, dos governos locais, viabilizando espaços ao ar livre, ginásios, estádios, para poder haver mais postos de vacinação.” Segundo López-Calva, em estruturas mais descentralizadas, onde os governos locais têm mais autonomia, como no Brasil ou no México, esse tipo de estratégia e planejamento leva mais tempo.
Contra o ‘turismo das vacinas’.
As autoridades chilenas retificaram o plano inicial de vacinação divulgado pelo Ministério da Saúde e anunciaram na semana passada que não vão vacinar estrangeiros não residentes no país contra a covid-19, com o objetivo de evitar o chamado “turismo das vacinas”.
“Os estrangeiros que estão no país com visto de turista (…), ou aqueles que se encontram de forma irregular, não terão direito de se vacinar no Chile”, declarou o ministro das Relações Exteriores, Andrés Allamand.
Para ter acesso à imunização, é necessário ter nacionalidade chilena, permanência ou residência no país, ou, na ausência disso, uma solicitação de visto em andamento, esclareceu o chanceler.
“O que se tenta evitar é o turismo da vacina, não se trata de não vacinar estrangeiros, mas de não vacinar pessoas com visto de turista”, diz López-Calva a respeito do anúncio chileno.
Pelo novo decreto, todos os migrantes em situação irregular também são excluídos da campanha de vacinação, o que deixa sem vacina os milhares de estrangeiros que entraram no país nas últimas semanas pela fronteira ao norte com a Bolívia — e que estão em quarentena preventiva.
A boa notícia de hoje na luta contra a pandemia vem dos Andes: Uma empresa chilena de biotecnologia se encontra atualmente na vanguarda mundial da corrida por uma vacina contra a covid-19. Como princípio ativo, os pesquisadores da Desert King utilizam uma substância extraída da casca e da madeira de uma árvore nativa chamada quilaia. Essa substância é usada na imunização que está sendo desenvolvida pela farmacêutica americana Novavax.
Em setembro, a Desert King anunciou que a vacina entrou na fase 3 de testes, tornando-se assim uma das onze pesquisas a alcançarem tal etapa no mundo inteiro. Até 10 mil voluntários com idades entre 18 e 84 anos deverão participar do estudo.
O diretor administrativo da Desert King,Andrés González, acredita que a empresa farmacêutica poderá começar a produzir as doses da vacina já no início de 2021, após a conclusão do estudo de fase 3. Contudo, não é possível prever atualmente quando uma imunização contra o coronavírus estará de fato disponível e como sua distribuição será regulada.
Também conhecida como árvore de casca de sabão, a quilaia (Quillaja saponaria) contém em sua casca cinza e rachada compostos chamados saponinas – tensoativos naturais à base de plantas, ou seja, substâncias semelhantes a sabão que, ao entrarem em contato com a água, desenvolvem uma espuma estável. As saponinas diminuem a tensão superficial dos líquidos e podem ligar substâncias que normalmente se repelem, como água e gordura.
Algumas dessas saponinas têm ainda uma propriedade adicional que entra em jogo no desenvolvimento de uma vacina. “A vacinação é composta por dois elementos: o antígeno e o chamado adjuvante”, explica González. “O antígeno ativa as defesas do próprio corpo, enquanto o adjuvante transporta o antígeno para as células. Além disso, essa substância aumenta a resposta imunológica do corpo.”
A Desert King examinou as diferentes propriedades das cerca de 50 saponinas da quilaia e identificou duas substâncias capazes de atuarem como adjuvantes: QS7 e QS21. “Já estamos produzindo quantidades industriais de saponinas de quilaia para Novavax”, disse González.
Sabedoria indígena
Desde o século 17, o povo indígena mapuche, nativo do Chile, conhece as propriedades curativas da casca e das flores do Küllay, como eles chamam a árvore. A espécie pode atingir 20 metros de altura e ter um tronco de até 1,5 metro de diâmetro.
Entre suas folhas sempre verdes e lisas como o couro, escondem-se pequenas flores branco-amareladas em forma de estrelas. A quilaia floresce de outubro a janeiro e fornece um mel aromático durante esta época. Com suas cinco pontas, as cápsulas das frutas lembram o anis estrelado.
Na medicina mapuche, o extrato da casca é tradicionalmente utilizado como expectorante em casos de doenças respiratórias. Uma infusão ou tintura alcoólica de suas flores também é usada para tratar doenças reumáticas, enquanto o extrato de sua casca pode ajudar contra doenças estomacais.
Graças às suas propriedades saponáceas, a casca foi usada como xampu natural no passado. Hoje, a substância espumante também é usada na indústria alimentícia, por exemplo, na produção de cerveja e outras bebidas.
Uso sustentável da quilaia
A quilaia é uma árvore adaptável e de cultivo fácil, capaz de crescer mesmo em solo árido e nas encostas de montanhas. “Mas a espécie está sofrendo as consequências das mudanças climáticas”, observa o silvicultor René Carmona, da Universidade do Chile, em Santiago. “As secas que o Chile sofreu nos últimos dez anos danificaram sobretudo as árvores nas encostas”.
Os produtores de saponina de quilaia no Chile valorizam muito o manejo sustentável das árvores, limitando-se a podá-las e não derrubá-las. “A poda direcionada das árvores ajuda a garantir que elas tenham menos biomassa e, consequentemente, necessitem de menos água para que possam enfrentar melhor a seca”, explica González.
Agora ainda falta convencer a população sobre a importância de proteger as quilaias, diz Carmona. Nisso, a comercialização do princípio ativo da árvore pode desempenhar um papel importante. “O fato de uma empresa farmacêutica internacional usar essa substância no desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19 nos ajuda a demonstrar o valor dessa árvore. Esperamos que isso leve a uma mudança de mentalidade e que as pessoas não continuem convertendo a quilaia em lenha de maneira negligente”, acrescenta.
Com fogos de artifício, bandeiras e a esperança em um novo começo, dezenas de milhares de chilenos festejaram nas ruas o resultados do histórico plebiscito realizado nodia 25 de outubro deste ano.
Uma esmagadora maioria de quase 80% dos eleitores votaram no “aprovo”, que permitirá a substituição da Constituição herdada da ditadura comandada por Augusto Pinochet.
Mas em cinco dos 346 distritos do país, o sentimento predominante depois do domingo não deve ter sido de alegria, já que neles — Vitacura, Las Condes e Lo Barnechea, todas na região metropolitana de Santiago; Colchane (Tarapacá) e La Antártica (Magallanes) — a maioria dos eleitores votou para manter o status quo.
Mas o que os cinco distritos onde o “rejeito” venceu têm em comum?
“Dos cinco, dois são muito particulares”, explica Carmen Le Foulon, pesquisadora do Centro de Estudos Políticos, à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
“A Antártica é uma base científica [com a presença do exército] e o número de votos é muito pequeno: votaram 31 pessoas. Já Colchane faz fronteira com a Bolívia e também é pequena (teve 505 votos)”, diz Le Foulon. Os outros três, no entanto, são muito mais significativos, concordam os especialistas consultados pela BBC News Mundo.
Riqueza e educação
Para começar, Las Condes, Vitacura e Lo Barnechea pertencem à região metropolitana de Santiago, a capital chilena.
As três concentram mais de 400.000 habitantes (de um total de 7,1 milhões em toda a região e 18,7 milhões no país) e estão localizadas lado a lado, no nordeste da cidade.
Mas não é só isso.
“Elas são as que concentram a maior riqueza e o maior nível educacional”, diz Rodrigo Pérez Silva, professor assistente da Universidad Mayor e pesquisador em economia urbana.
“Essa votação reflete essa divisão. Não só que 80% do país é a favor de fazer mudanças e há uma parcela de 20% que resiste, mas além disso: esse voto contrário está superconcentrado em uma única parte do país, em três comunas da região metropolitana onde estão o poder político e econômico. Onde estão as elites.”
Uma única exceção a esse padrão homogeneizado é Lo Barnechea, dentro do qual há grandes desigualdades socioeconômicas — com partes muito ricas, tal como La Dehesa, e outras muito pobres, como Cerro 18.
No total, esses três distritos somaram 166.544 votos “rejeito”, compondo 10,2% segundo o cômputo final do Serviço Eleitoral do Chile.
“Há dois universos aqui”
A atual Constituição do Chile foi aprovada em 1980 e para muitos está na base das desigualdades do país, promovendo a privatização dos serviços básicos e atribuindo ao Estado um papel residual.
O triunfo do “aprovo” é interpretado por muitos como a vitória das reivindicações cidadãs que eclodiram nos protestos de outubro de 2019 e que desde então pedem mudanças estruturais e profundas.
A própria convocação de um plebiscito foi anunciada em novembro de 2019, após 28 dias de grandes protestos em um dos países mais desiguais da América Latina.E na capital, Santiago, essa desigualdade se traduz em uma inegável segregação social e geográfica.
“Há dois universos aqui. Tudo funciona de maneira diferente e as pessoas não se misturam. Ninguém quer fazer muitas mudanças”, disse à BBC News Mundo S.L., uma mulher de 40 anos que nasceu, foi educada e vive em Vitacura.
Nesta comuna, o percentual de pessoas em lares sem condições básicas, como rede de esgoto e água, é de 0,5%, contra 8,3% em média na região de Santiago ou 14,1% em todo o país, segundo dados compilados pela Biblioteca do Congresso Nacional do Chile.
Se falarmos da pobreza “multidimensional” — que considera diferentes problemas de acesso a direitos, como na saúde e educação —, os dados são ainda mais contundentes: 3,48% contra a média de 20,7% no Chile.
E ainda que a moradora de Vitacura entrevistada pela BBC News Mundo tenha ela votado em “aprovo”, ela teve dúvidas e percebeu que em seu entorno social e profissional todos votaram contra uma nova Constituição.
“Hesitei porque comecei a ver o que aconteceu em outros processos constituintes da América do Sul. Nenhum país melhorou depois”, explica.
Segundo ela, nestas comunas existe o receio do discurso de refundação, da “perda de privilégios e da incerteza”. Além disso, as mudanças foram vinculadas à violência ocorrida nas manifestações.
“Destruíram a cidade. Talvez fosse necessário, mas agora continuamos com manifestações violentas e panelaços todos os dias.” Ela destaca também a preocupação das pessoas que conhece com mudanças no regime de “propriedade privada e do sistema tributário, que tem a ver com as aposentadorias”.
“Não tem tanto a ver com esquerda e direita, mas com propriedade e riqueza”, conclui.
Manifestações que ocorrem no Chile desde outubro de 2019 motivaram plebiscito sobre nova Constituição. GETTY IMAGES
Com isso, concorda Patricio Fernández, jornalista e autor de Sobre la marcha, livro que escreveu após observar de perto a eclosão social que se iniciou em 2019.
“Isso é politicamente transversal”, disse Fernández à BBC News Mundo.
“A eclosão social tem muitas leituras e ingredientes, mas eu diria que há uma coisa muito evidente — a manifestação ou ilusão de uma cidadania emergente que questiona sua relação justamente com as elites, com os governantes.”
E, segundo Pérez Silva, os resultados do plebiscito são uma “interpelação” justamente à elite que se recusa a perder seus privilégios para que haja uma “redistribuição de riquezas, oportunidades, educação, saúde, pensões etc…”
Um estudo recente realizado pela organização Círculo de Directores e pela empresa de análise de dados Unholster indicou que pessoas consideradas parte da “elite” do país — acadêmicos, empresários, figuras públicas —subestimam as desigualdades econômicas e de oportunidades que as separam das classes mais baixas.
“Membros da elite pensavam que pessoas das comunas pobres ou médias tinham plano de saúde — e não há nada mais longe da realidade do que isso”, apontou Antonio Díaz-Araujo, gerente geral da Unholster.
Esse padrão também foi observado em questões como valores de propriedade ou níveis de educação.
“E os votos só confirmam que a distância (entre a elite e o resto da população) é brutal”, finaliza Díaz-Araujo.
Exatamente 47 anos depois sua morte, que aconteceu em 23 de setembro de 1973, um soneto datilografado do poeta Pablo Neruda foi apresentado no Chile. É a primeira versão de Sangre de Toro, um poema de 1965 em homenagem a um popular vinho húngaro. Ele o escreveu durante uma viagem de lazer que fez em agosto daquele ano à Hungria, junto com o escritor guatemalteco MiguelÁngel Asturias e suas respectivas esposas.
Ambos escreveram versos enquanto viajavam pelo país, comiam e bebiam, sem imaginar que logo receberiam o Nobel: Asturias em 1967 e Neruda em 1971. “Revendo as lembranças de minha mãe, que acabara de falecer, encontrei uma caixa de plástico com fotos antigas, documentos e cartas. De repente, apareceu um papel, fino e em razoáveis condições. Era um poema de Neruda, assinado por ele”, diz a médica chilena Marcia Telteinboim, que fez a descoberta.
O poema diz assim:
“Robusto vino, tu familia
no llevaba diademas ni diamantes:
sangre y sudor pusieron en su frente
una rosa de púrpura fragante.
Se convirtió la rosa en toro urgente:
la sangre se hizo vino navegante
y el vino se hizo sangre diferente.
Bebamos esta rosa, caminante.
Vino de agricultura con abuelos,
de manos maltratadas y queridas,
toro con corazón de terciopelo.
Tu cornada mortal nos da la vida
y nos deja tendidos en el suelo
respirando y cantando por la herida”.
Quatro anos depois da viagem, em 1969, os dois poetas publicaram o livro Comiendo en Hungría. Foi publicado em húngaro, castelhano, francês, alemão e russo. Ao contrário da primeira versão que agora aparece, o poema incluído naquela edição tem uma palavra adicional no primeiro verso: “Robusto vino, tu familia ardiente”, diz o poema definitivo.
Para Grínor Rojo, professor do Centro de Estudos Culturais da Universidade do Chile, estudioso da obra de Neruda, o chileno “foi quem escreveu o poema, sem dúvida”. “É um poema muito nerudiano, pela sua riqueza figurativa. Neruda é um poeta de extraordinária imaginação sensorial e os cinco sentidos estão presentes neste brevíssimo texto. Este é Pablo Neruda na íntegra”, explica Rojo.
O primeiro dos textos que compõem o livro de 1969 dá conta do espírito com que foi composto:
“Comer está na moda!
Com pedra e pau, faca e cimitarra, com fogo e tambor as pessoas avançam para a mesa. Os grandes continentes desnutridos explodem em mil bandeiras, em mil independências. E tudo vai para a mesa: o guerreiro e a guerreira. Sobre a mesa do mundo, com todo mundo à mesa, voarão as pombas.
Busquemos no mundo a mesa feliz.
Busquemos a mesa onde o mundo aprende a comer. Onde aprende a comer, beber, cantar!
A mesa feliz.”
O soneto Sangre de Toro tem outra particularidade notável: trata-se de um soneto (uma composição poética muito especial) escrito por um autor que, justamente, não se caracterizou por escrever com formas estabelecidas. “Acredito que, nesse sentido, a escrita formal de Neruda pode ser comparada à pintura realista de Pablo Picasso. Não é o que o artista faz ou fez principalmente, em nenhum dos dois casos. Mas quando isso acontece, o resultado é um esbanjamento de maestria”, diz Rojo, que indica que outra exceção na obra de Neruda são os Cien Sonetos de Amor, de 1959.
O poema datilografado foi salvo quase milagrosamente. O poeta e sua mulher, Matilde Urrutia, eram muito amigos do advogado Sergio Telteinboim e de sua esposa, a graduada em comércio exterior Perla Grinblatt. Compartilhavam a filiação ao Partido Comunista e, nos anos sessenta, quando os Telteinboim viviam com suas três filhas na cidade de Viña del Mar, compareciam com frequência aos almoços e às famosas festas que Neruda realizava em sua casa em Valparaíso, La Sebastiana.
O poeta acolhia seus convidados com bebida, boa mesa e com versos inéditos, que distribuía em pequenos pedaços de papel que hoje são um tesouro: “Qualquer manuscrito ou texto datilografado dele que tenhamos em nosso poder, como este de Sangre de Toro, é uma joia”, observa o professor Rojo.
Os Telteinboim Grinblatt chegaram a ter uma quinzena desses versos de Neruda, mas a maioria não durou para além do golpe de Estado de 1973, quando as casas das famílias de esquerda foram invadidas pelos militares e os próprios moradores se desfizeram dos papéis e documentos comprometedores, em meio à repressão política. A mais nova das filhas, Marcia, tinha 11 anos e se lembra daqueles dias de “turbilhão e medo” em que boa parte da memória material de sua família foi perdida. Com a morte do pai, em 2006, as descendentes nunca imaginaram que Sangre de Toro tivesse sobrevivido entre as lembranças do apartamento de sua mãe em Santiago.
Sergio Teitelboim e Perla Grinblatt, o casal de amigos de Neruda que guardou seu soneto ‘Sangre de Toro’, fotografados nos anos sessenta – Arquivo Pessoal.
“Provavelmente nem ela sabia que esse documento estava guardado”, diz Marcia, cuja mãe morreu em Santiago no dia 14 de julho, aos 94 anos. Junto com esse papel “fino e em razoáveis condições” onde o poema foi datilografado, naquela noite de inverno a médica também encontrou um convite de 1961 para a inauguração de La Sebastiana. Junto com suas irmãs Patricia e Berta, decidiram doar os dois documentos ao Arquivo Central Andrés Bello da Universidade do Chile, em uma cerimônia virtual que aconteceu no dia 23 de setembro deste ano.
No domingo, 22 de maio de 1960, o Chile sofreu o terremoto mais forte já registrado na história.
Eram 15h11. Por cerca de 10 minutos, o país foi atingido por fortes solavancos ao longo de mil dos seus quase 5 mil quilômetros de costa no Pacífico.
Com magnitude 9,5, o terremoto liberou energia equivalente a 20 mil bombas de Hiroshima e causou um tsunami com ondas de até 25 metros devastando populações costeiras.
Estima-se que mais de 1,6 mil pessoas morreram, 3 mil ficaram feridas e 2 milhões ficaram desabrigadas no sul do país, segundo dados do Serviço de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês).
A geografia do Chile mudou. Houve populações que afundaram e outras áreas subiram vários metros; um vulcão entrou em erupção e vários rios mudaram seu curso.
A fúria do terremoto se espalhou por todo o mundo. As ondas sísmicas sacudiram o planeta e o fizeram vibrar por vários dias.
Enquanto a terra tremia, um tsunami se formou no oceano, atingindo também a costa oeste continental dos EUA, o Havaí, as Filipinas e o Japão, totalizando mais de 200 mortes.
Impacto na prevenção de desastres
“Era um monstro planetário”, como descreveu Tom Jordan, então diretor do Centro de Terremotos do Sul da Califórnia, em um artigo da revista científica Nature, no 50º aniversário da tragédia.
O Grande Terremoto do Chile, também conhecido como Terremoto de Valdívia em alusão à cidade mais afetada, ainda é lembrado como uma das maiores catástrofes do país 60 anos depois.
A hecatombe, no entanto, também deixou lições valiosas para a ciência e a prevenção de desastres.
O que aconteceu, como foram sentidos seus efeitos e que dados este terremoto deixou para os cientistas que estudam como a Terra treme?
Um dia trágico
Desde sábado, 21 de maio, a costa chilena, perto de Concepción, já havia registrado fortes terremotos de magnitude superior a 8, mas o grande sismo ocorreu no dia seguinte.
A cerca de 160 quilômetros da costa da cidade de Valdívia, a placa tectônica de Nazca se movia cerca de 30 metros abaixo da placa sul-americana.
Esse fenômeno no qual duas placas contíguas se sobrepõem é conhecido como zona de subducção.
A ruptura que causou a sobreposição, segundo o USGS, se estendeu por mais de mil quilômetros de norte a sul, entre as cidades de Lebu e Puerto Aysén.
O atrito entre as duas placas liberou séculos de energia acumulada, causando os maiores danos na região entre Valdívia e Puerto Montt.
Grande parte da destruição foi causada por ondas de tsunami ao longo da costa.
Cidades como Puerto Saavedra foram completamente destruídas e houve graves danos em outros locais como Corral.
Terremoto liberou energia equivalente a 20 mil bombas de Hiroshima – GETTY
O terremoto transformou a geografia
Em Valdívia, a terra afundou 2,7 metros. Nos arredores da cidade, vários rios mudaram de curso, algumas planícies se tornaram zonas úmidas e milhares de hectares de campos cultivados e de pastagem foram perdidos.
“Mudou a paisagem drasticamente”, diz Daniel Melnick, pesquisador do Instituto de Ciências da Terra da Universidade Austral do Chile e diretor do Núcleo Milenio Cyclo, um centro que estuda o ciclo sísmico em zonas de subducção, à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
“Ainda nos arredores de Valdívia, podemos ver postes telegráficos no meio do rio, cercas, docas e estradas submersas”, acrescenta.
Com o tempo, a formação das áreas úmidas também atraiu plantas e espécies de aves antes inéditas na região.
Em Maullín e Chiloé, o afundamento do solo “também foi brutal”, explica Melnick.
Em outros lugares o chão não afundou, mas subiu. A ilha de Guafo, por exemplo, subiu quatro metros. Já a Ilha Guamblin subiu 5,6 metros.
Em 24 de maio, dois dias após o terremoto, o vulcão Puyehue entrou em erupção, lançando vapor e cinzas a 6 mil metros acima do nível do mar.
Essa erupção, que durou várias semanas, se deveu ao movimento de placas que fizeram com que o continente se espalhasse e abrisse espaço para a liberação do magma.
“Seria como se você estivesse removendo a rolha de um champanhe”, diz Melnick.
Após o terremoto, a área do Chile se expandiu o equivalente a 1,5 mil campos de futebol.
Efeito global
O terremoto causou um tsunami que se espalhou por todo o Pacífico.
O atrito entre as placas sacudiu o oceano a uma profundidade de 3 mil metros.
O mais afetado foi o Chile, onde em algumas áreas a forma da baía acabou aumentando a força do tsunami, mas as ondas também atingiram outros pontos do planeta.
Quinze horas após o terremoto, um tsunami atingiu o Havaí, causando 61 mortes e danos graves em Hilo, com ondas com mais de 10 metros de altura. Nas Filipinas, as ondas mataram 32 pessoas e na Ilha de Páscoa, Samoa e Califórnia houve danos materiais.
Fora do Chile, a 17 mil km de distância, o maior desastre ocorreu no Japão, onde 22 horas após o terremoto ondas de 5,5 metros atingiram a região de Honshu, destruindo 1,6 mil casas e matando 138 pessoas.
Terremoto de Valdívia é o de maior magnitude já registrado, e causou um tsunami com ondas de 25 metros.
O planeta vibrou
O Chile está localizado no chamado Anel de Fogo, uma área ao redor do Pacífico onde ocorrem alguns dos maiores terremotos e erupções vulcânicas.
O terremoto de 1960 foi tão forte que vibrou o planeta inteiro por vários dias. Chegou até a afetar a rotação da Terra, reduzindo os dias em milissegundos.
“Essas mudanças não são visíveis pelas pessoas”, diz Melnick, “mas as equipes de medição percebem isso”.
Lições da catástrofe
Mas os efeitos dolorosos e impressionantes do terremoto também deixaram lições para os cientistas que estudam esses fenômenos.
As vibrações planetárias que ele gerou, por exemplo, nos permitiram entender melhor como as ondas sísmicas viajam pela Terra.
O terremoto produziu as primeiras evidências das oscilações do planeta, que são úteis para entender melhor sua estrutura interna.
Compreender essas vibrações também é útil para gerar alertas de tsunami após um terremoto.
De fato, após o Grande Terremoto no Chile, em 1965, foi criado um Sistema de Alerta de Tsunami, que foi fundamental para a detecção de tsunamis em todo o mundo.
O fato de ter sido concluído que o terremoto se devia a uma zona de subducção era “revelador”, segundo Melnick.
Antes desse terremoto, não se sabia como ocorria um terremoto em uma falha que não era visível.
Descobrir que existem zonas de subducção “foi a descoberta das placas tectônicas, uma das maiores descobertas da geologia”, diz o geólogo.
O Chile está localizado no chamado “Anel de Fogo” onde ocorrem alguns dos maiores terremotos e erupções vulcânicas do mundo. GETTY
Ao estudar essas zonas de subducção em várias partes do mundo, os geólogos podem estimar que um terremoto gigante como o do Chile pode ocorrer aproximadamente a cada 300 anos.
Por sua vez, os sedimentos deixados pelos tsunamis em várias costas agora também servem como um indicador para os geólogos identificarem outros locais que podem ser propensos a terremotos gigantes.
Mas para Melnick, além das lições técnicas, também é muito valioso continuar lembrando as histórias do terremoto.
Segundo ele, os testemunhos daqueles que vivenciaram o desastre serviram para elaborar estratégias de sobrevivência e para que as novas gerações estejam mais bem preparadas.
As histórias contadas pelos idosos que viveram o terremoto de 1960 foram muito úteis para as novas gerações entenderem melhor como um terremoto e um tsunami funcionam, para se prepararem melhor e como agir diante de um fenômeno que é inevitável e imprevisível.
“Lembrar do terremoto salva vidas”, conclui Melnick.
O Chile vive há mais de 40 dias a maior onda de protestos desde à redemocratização. Apesar das tristes cenas de violência, a população chilena tem muitas razões pra comemorar, afinal, várias reivindicações estão sendo atendidas. Uma delas foi anunciada no último dia 27: A Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade o projeto de lei que reduz temporariamente em 50% os rendimentos de parlamentares e de outras autoridades, como o presidente, ministros e governadores.
A iniciativa, motivada pelas manifestações, segue para o Senado. O projeto foi apresentado há seis anos pelos deputados Gabriel Boric e Giorgio Jackson. A nova legislação deixa de fora, por enquanto, salários de prefeitos, integrantes do Judiciário e funcionários do Ministério Público.
Câmara dos deputados chilena localizada na cide litorânea de Valparaíso.
De acordo com o a imprensa chilena, a medida tem caráter temporário e deixa de fora benefícios extras dos parlamentares, como verba de gabinete e outras benesses. Há cerca de um mês, o presidente Sebastián Piñera deu sinal verde para o projeto, como parte das medidas para enfrentar a crise social no país.
Agora, o total dos rendimentos parlamentares, somando salários e benefícios, não poderá ultrapassar 20 salários mínimos. Por lei, um deputado recebe cerca de 6 milhões de pesos chilenos líquidos (R$ 31,2 mil) por mês. Se aprovado o projeto, esse valor cairá à metade (R$ 15,6 mil).
Imagina se a moda pega no Brasil? 🤔 Provavelmente muita gente ia deixar de concorrer nas próximas eleições não é? 😄