Economia da América Latina é uma das mais afetadas pela epidemia do coronavírus

Toda cautela é pouca na hora de tentar antecipar o inegável impacto econômico do coronavírus: grande parte do que está ocorrendo hoje só será plenamente visível e quantificável no decorrer das semanas ou meses. Os sinais, entretanto, chegam em peso e falam por si só: há algo de grave acontecendo no sempre frágil jogo de equilíbrio em que se move a economia.

A Bolsa de Nova York perdeu quase um quinto do seu valor em menos de um mês; a migração da renda variável para a renda fixa – a prova mais evidente do temor que paira sobre o mercado – é evidente; o consumo global de petróleo afunda a um ritmo inclusive maior que na Grande Recessão; a saída de capitais dos emergentes se multiplica; e cada vez mais organismos internacionais reconhecem que ainda não dispõem dos elementos de julgamento suficientes para se aventurarem com uma cifra concreta de impacto.

Pouco a pouco, as certezas do impacto econômico começam a emergir. Entre elas, que ser uma das regiões do mundo com menos casos de contágios não a exime de sofrer o dano financeiro associado a qualquer epidemia: a América Latina não tem de forma alguma garantida a sua imunidade, e foi pega no contrapé, mergulhada num já longo período de baixo crescimento e com pouca margem de ação para reverter a esperada redução da demanda.

As consequências já começaram a ser sentidas em várias frentes: sacudida nas Bolsas, acompanhando os grandes mercados mundiais; moedas indo à lona; redução nas previsões nas previsões de crescimento e uma clara mudança de padrão nas exportações de matérias primas. “A região está perante sua possível segunda década perdida… das últimas três. O coronavírus chega num péssimo momento, de baixo crescimento”, observa Lourdes Casanova, diretora do Instituto de Mercados Emergentes, ligado à Universidade Cornell (EUA).

No aspecto sanitário, a epidemia chegou à América Latina através do Brasil, com um homem que voltou infectado de uma viagem à Itália. Desde então, o vírus avançou em ritmo mais lento que em outras latitudes: o verão austral talvez tenha ajudado, como também a distância geográfica e as poucas conexões aéreas com as zonas mais afetadas.

Primeiro paciente infectado da América Latina chegou ao Brasil depois de uma viagem à Itália.

O número de contágios é oito vezes maior nos EUA e 160 vezes maior na Europa. Mas o dinheiro corre por vias bem distintas: na mente dos economistas, está gravada a fogo a relação direta entre menor atividade global, menor consumo de matérias primas e golpe na linha de flutuação de muitas economias da região. A eterna dependência dos produtos básicos, sem valor agregado, agrava a exposição latino-americana a um choque desta espécie.

As primeiras a sofrerem o golpe foram as divisas regionais, algumas das quais já estavam nos ossos: o real brasileiro e o peso chileno flertavam com seu mínimo histórico bem antes do coronavírus monopolizar tudo. Só o peso mexicano sustentava a cotação.

Mas além dos sempre voláteis mercados financeiros – Bolsas, câmbio, renda fixa –, que já antecipam uma guinada radical no caminho de crescimento global e regional, “há um impacto claro sobre as exportações e, portanto, sobre o crescimento. Ainda não vemos contágio para o setor de serviços, com impacto doméstico, mas o risco está aí, e as autoridades de política econômica deveriam estar observando-o”, afirma Martín Castellano, chefe de análise para a América Latina do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês).

A estreita relação com a China nas últimas décadas se transforma em uma faca de duplo fio na balança comercial de muitos países latino-americanos. Pouco mais de uma década atrás, quando o bloco ocidental sucumbia à crise financeira, esse gancho permitiu à região se isolar das consequências da queda dos EUA e Europa. Hoje, por outro lado, é motivo de alarme: embora a China vá pouco a pouco voltando à normalidade, “a atividade econômica ficou muito reduzida, com um impacto significativo”, observa por email Otaviano Canudo, ex-diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental e hoje fellow da Brookings Institution. Segundo os cálculos da OCDE, um ponto a menos de crescimento na China implica uma queda em idêntica proporção no crescimento da região. E a migração da volatilidade para os spreads da dívida pública, como recorda Sebastián Neto, chefe de unidade do organismo para a região, também é muito maior.

Três das grandes economias regionais – Brasil, Chile e Peru – têm no gigante asiático o principal destino de seus produtos, e o fantasma de 2015, quando as matérias primas desabaram e as principais economias latino-americanas se ressentiram, está na memória. Se nos primeiros dias os temores se centravam nos minérios de uso industrial – ferro e cobre, sobretudo –, o que situava as nações andinas como maiores prejudicados, o recente desabamento do petróleo por uma combinação de menor demanda (maior baixa trimestral em décadas, superior inclusive à registrada no auge da Grande Recessão) e descoordenação entre a OPEP e a Rússia, pôs o foco sobre Venezuela, Equador, Colômbia, Brasil e México, grandes produtores regionais. Em questão de dias, o México, segunda maior economia latino-americana – e um dos países menos afetados pela epidemia, por sua escassa exposição à China, onde tudo começou –, passou ao olho do furacão financeiro. Primeiro porque o desmoronamento do petróleo representa um duro baque para sua já abaladíssima petroleira estatal Pemex. Segundo porque, à medida que o vírus se globaliza – ou, melhor dizendo, se ocidentaliza –, suas consequências econômicas também o fazem.

Estamos começando a mudar o enfoque, vendo-o não só como um golpe para a economia chinesa, mas como algo que vai muito além”, aponta, pedindo anonimato, o estrategista para a América Latina de uma importante gestora de recursos. “Nos EUA, por exemplo, vão comprar os mesmos carros nestas circunstâncias? Temos dúvidas, e isso afeta o México e também o Brasil, onde dois terços de suas exportações são matérias primas. São “tempos difíceis” para a região, afirma por telefone. “Estamos vendendo com as duas mãos e esperando que os números se estabilizem para comprar com três mãos.” E quando os investidores apertam o botão de pânico, a história diz claramente que a peça latino-americana do dominó global costuma ser uma das primeiras a cair: sua exposição à volatilidade é inclusive maior que a do resto dos emergentes.

Na sopa de letras que os economistas identificam ao lerem as curvas dos gráficos – ou seja: L, uma queda da atividade sem recuperação à vista; V, rápido desabamento, rápida recuperação; U, descida busca, descenso, recuperação demorada –, Neto aposta na última opção. “Não há dúvidas de que haverá efeito sobre o crescimento. O período de recuperação já não será de um trimestre nem um semestre, e sim mais”. O resultado desse coquetel é um quadro cinza, muito mais sombrio que o desenhado no final de 2019 – que, verdade seja dita, era mais prudente que pessimista. O Goldman Sachs foi o último a revisar seu quadro macro para os principais países da região: Brasil e Equador crescerão 0,7 ponto percentual a menos (1,5% em vez de 2,2% no primeiro caso; e de -0,3% a um lúgubre -1% no segundo); Peru, 0,5 a menos (2,8% em lugar de 3,3%); e Colômbia, 0,4 (3% em vez de 3,4%).

Economia de países emergentes como o Brasil é uma das mais afetadas em momentos de crise mundial – Reprodução Internet.

Ao contexto adverso se soma uma menor margem de manobra para políticas contracíclicas que em crises anteriores. A depreciação generalizada das moedas latino-americanas delimita o campo de ação da política monetária – juros mais baixos contribuem para a retomada da atividade, mas também estimulam a saída de recursos. Esse é, justamente, o maior desafio regional neste ponto, segundo Neto: a “limitadíssima capacidade de aplicar estímulos num momento em que é preciso ter muito cuidado com o potencial impacto sobre a saída de capitais”. No plano fiscal, a margem é igualmente curta, com volumes de dívida pública que, como recorda Castellano, do IIF, duplicaram em grande parte da região desde 2009. Naquela época, estes países puderam fazer frente. “Só os países com espaço fiscal ou monetário e com reservas de divisas estrangeiras poderão responder ao choque”, conclui Canudo. Tempos bicudos, sem poções mágicas.

Texto de Ignacio Fariza – Retirado do caderno de Economia – Jornal El País.

Forte, apesar dos escândalos

Se a economia brasileira segue em desacelaração há alguns anos, a do nosso vizinho Peru, segue numa crescente já há duas décadas. Apesar de também ter sido envolvido em recentes escândalos da corrupção na política, o país andindo conseguiu manter sua estabilidade econômica.

Em um cenário bem diferente do visto no Brasil, as acusações de corrupção oriundas da operação Lava Jato no Peru não parecem ter afetado de forma contundente a economia do país – uma das que mais crescem na América Latina.

Desdobramentos da investigação em território peruano tiveram um momento marcante com o suicídio do ex-presidente Alan García,  em abril deste ano, quando a polícia tentava prendê-lo. Ele era acusado de receber propina da empreiteira Odebrecht durante seu segundo mandato, entre 2006 e 2011 – o que García negava.

No entanto, mesmo com as complicações políticas trazidas pela Lava Jato desde o início de 2017, quando ela se expandiu para países vizinhos – e que levaram a acusações de corrupção contra quatro ex-presidentes – , no ano passado, a economia do país cresceu 4%, segundo o Banco Central local. Para 2019, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima uma expansão de 3,9%, ficando atrás – na América Latina – só da Bolívia, seu vizinho, com crescimento estimado de 4%.

Já a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) prevê um crescimento de 3,6% neste ano. De qualquer forma, o índice é muito acima do 1,3% previsto para a região e do tímido 1,8% estimado para o Brasil.

Os números mostram que a economia peruana não saiu dos trilhos, mesmo com ramificações locais dos escândalos envolvendo obras públicas, campanhas políticas e propinas que ocorreram no Brasil.

Além de Alan García (1949-2019), que governou o país duas vezes (1985-1990) e (2006-2011), os ex-presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) respondem judicialmente a processos decorrentes das investigações da Lava Jato. Uma das principais líderes da oposição, Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, também foi acusada de receber irregularmente dinheiro da Odebrecht para suas campanhas políticas.

Nesse cenário conturbado, no ano passado a economia peruana completou vinte anos consecutivos de crescimento e estabilidade, como observaram analistas e fontes do governo ouvidos pela BBC News Brasil. Ou seja, a queda do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski, que foi substituído, no ano passado, pelo seu vice, Martín Vizcarra, também não teve impacto significativo sobre a saúde da economia.

Entrevistados apontaram como uma das razões para a trajetória de crescimento o fato de que Toledo, García, Humala e Kuczynski terem mantido os principais pilares econômicos do país: abertura do mercado, ambiente de previsibilidade para investimentos estrangeiros, livre comércio, inflação e gastos baixos.

Peru 01
Outra chave para a estabilidade estaria no comércio exterior.

País com cerca de 32 milhões de habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de US$ 211 bilhões, segundo dados oficiais, o Peru diversificou sua lista de exportações nos últimos anos.

Além do seu histórico setor da mineração, passou a exportar ouro, incrementado por empresas chinesas instaladas em seu território, e produtos do ramo agroindustrial – o Peru é hoje um dos maiores exportadores mundiais de abacate, aspargos e uvas.

“Há quem diga que o problema é que estamos dependentes demais do mercado asiático, para onde são enviadas 47% das exportações do país. Sendo que somente cerca de 30% deste total vão para a China. Mas também é verdade que nestes vinte anos, passamos a exportar para outros mercados como o europeu, por exemplo. A economia peruana ganhou diversidade nesses anos de estabilidade”, explicou o economista Carlos Aquino, da Universidade de San Marcos, de Lima.

Segundo ele, ao contrário da Venezuela, que depende do petróleo, e do México, que se apoia nos EUA para suas exportações, a economia peruana diversificou sua produção e mercados.

machu-picchu-22032019140516475
Outro setor que cresceu bastante no país foi o do turismo. Imagem  Reprodução Internet

Infraestrutura

Mas Aquino acredita que houve impacto, sim, da Lava Jato sobre os rumos da economia do país.”Se não fosse a Lava Jato, poderíamos estar crescendo em torno de 6% e não 4%”, disse. Ele observou que o setor de obras públicas não está entre as principais atividades do país, mas que não deixa de ser um motor para o crescimento.

“O setor de obras públicas não chega sequer a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) peruano e este é um dos motivos para que a economia continue crescendo, mesmo que menos do que poderia alcançar se não fosse (a Lava Jato).”

Uma fonte do governo observou que as obras afetadas pela operação seriam fundamentais para melhorar a fraca infraestrutura do país. “Com mais estradas e portos, o país poderia ampliar suas exportações”, observou. O analista político Alfredo Torres, diretor do instituto IPSOS de Peru, no entanto, disse à BBC News Brasil acreditar que “foram feitas obras que não eram prioridade”.

“Foram gerados empregos, mas em estradas pouco usadas, por exemplo. Agora, com as investigações, algumas obras foram paralisadas e o processo de licitações ficou mais complexo, o que estancou o investimento público e as associações público-privadas na área de infraestrutura.”

Para ele, “naturalmente” este freio tem consequências econômica e social. Ele explica: “um ponto a menos no Produto Interno Bruto (PIB), como resultado deste freio nas obras públicas, significa menos emprego e menor arrecadação fiscal para programas sociais, por exemplo”.

Informalidade

Apesar do crescimento estável, o Peru enfrenta problemas profundos, que vão além da falta de infraestrutura, como altos índices de pobreza e de informalidade, mesmo num ambiente propício para investimentos e taxas baixas de inflação e de juros.

Em 2004, o índice de pobreza era de 58,7% no país, segundo dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística e Informática (INEI). No ano passado, 2018, este índice era de 21,7% – muito mais baixo que em 2004, porém acima dos 20,7% de 2016, o que gerou preocupação em setores públicos do país.

Outro desafio permanente para os peruanos é o mercado de trabalho informal. Em 2004, a informalidade chegava a 80%. No ano passado, estava em 65%, ainda de acordo com dados oficiais.

“A informalidade vinha caindo todos os anos desde 2004. A má notícia é que parou de cair em 2018”, disse ao jornal El Comercio, de Lima, o economista Elmer Cuba, da consultoria Macroconsult. A economia local conta com inflação baixa (cerca de 2% anual) e o câmbio tem histórico recente de pouca variação.

Obras da Odebrecht no Peru

Entre as obras da Odebrecht citadas em casos de corrupção no Peru está a rodovia Interoceânica Sul, que liga o país ao Brasil e foi concluída em 2010. O presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, revelou ter pago propinas para conseguir os contratos do projeto durante o governo do ex-presidente Toledo, segundo a imprensa peruana. Toledo mora nos Estados Unidos e, em maio do ano passado, o Peru apresentou aos EUA um pedido de extradição do ex-presidente.

Além da Interoceânica e do metrô de Lima, cujas acusações envolviam o ex-presidente Alan García, a Odebrecht tem “em torno de vinte obras públicas em todo o país”, segundo fontes do governo peruano. A lista inclui o gasoduto de Casemira e o porto petroquímico, cujas obras ficaram congelados depois do início das investigações contra a empresa.

Procurada, a Odebrecht não respondeu aos contatos da reportagem para esclarecer que obras possui no país e quais estariam paralisadas ou foram modificadas após as investigações.

odebrecht
A Odebrecht tem em torno de vinte obras públicas em todo o país, segundo fontes do governo peruano. Imagem Reprodução Internet

Fontes do governo disseram à BBC News Brasil que a empresa “vem colocando freio” nos seus investimentos no Peru desde que as autoridades passaram a investigar o chamado “Clube da Construção”, como ficou conhecido um cartel que envolveria a empreiteira brasileira e representantes locais do setor de obras públicas.

A Odebrecht admitiu ter pago US$ 29 milhões de propina no Peru, entre 2005 e 2014, em troca da obtenção de contratos. Em fevereiro deste ano, a empreiteira assinou um acordo de colaboração com os promotores da Lava Jato no país, no qual se comprometeu a fornecer informações e pagar uma indenização de cerca de US$ 230 milhões.

Para o analista político Alfredo Torres, “é uma novidade” o fato de a Justiça não ter recebido “interferência” dos setores políticos.

Já no Brasil, é díficil dizer o mesmo…

Fonte: Site BBC Brasil

 

Em que cidades da América Latina é mais caro comprar um apartamento?

Conseguir realizar o sonho da casa própria é um desafio cada vez maior em muitos países. Nas últimas décadas, os investimentos da classe média a nível mundial, estão estagnados, enquanto, por outro lado, a fatia do bolo que 10% da população mais rica do planeta concentra tem aumentado, segundo informou, recentemente, a Organização para Cooperação e Desenvolvilmento Econômico (OCDE).

Nesse contexto, as grandes cuidades latino-americanas tem experimentado um crescente aumento do valor dos apartamentos, especialmente, nos bairros mais procurados por trabalhadores jovens.

A capital argentina, Buenos Aires, tem em média o metro quadrado mais caro da  América Latina, seguida pela capital chilena Santiago, a capital uruguaia  Montevidéu e o Rio de Janeiro, segundo um estudo da consultora Navent e da Universidad Torcuato Di Tella,  localizada no bairro Belgrano em Buenos Aires,  que analizou 14 grandes cidades latinas.

Oscilação

A investigação se concentrou em algumas das cidades mais ricas da região, calculando o preço através de uma média dos anúncios de compra e venda publicados.  Os munícipios onde houve um aumento maior do preço dos apartamentos nos últimos meses foram: Monterrey (México) e  Rio de Janeiro, (Brasil). As maiores quedas ocorreram em Santiago (Chile), Ciudad de Panamá (Panamá) e Quito (Equador).

 Ao comparar o poder aquisitivo das moedas locais, as maiores altas se registraram em Ciudad de México,  Monterrey (México) e Bogotá (Colombia) e as quedas mais fortes aconteceram em Buenos Aires, Córdoba e Rosario (Argentina).

Departamentos

 

Tempos difíceis esses que vivemos não é?

Fonte: BBCMundo.com

Blog no WordPress.com.

Acima ↑