A História que não é oficial

A História é contada sempre pelo lado dos “vencedores”. Deve ser por isso então que quando estudamos na escola, sobre a chegada de Cristóvão Colombo aqui nas Américas, aprendemos que ele se deparou com um continente ocupado de maneira irregular e habitado por povos pouco civilizados em sua maioria. Essa versão dos fatos, porém, está sendo cada vez mais contestada; muitos estudiosos, como historiadores e arqueólogos, estão descobrindo que a vida em nosso continente não era bem assim como foi retratada nos registros dos conquistadores europeus.

Nesse vídeo, produzido pela BBC Brasil, podemos ver como as recentes descobertas revelam que as sociedades pré-colombianas eram muito mais desenvolvidas e complexas do que costuma estar presente no inconsciente coletivo. A população do continente americano era bem próxima da que havia na Europa no mesmo período, por exemplo. E alguns povos utilizavam técnicas de engenharia mais avançadas em relação àquelas que eram conhecidas no Velho Continente. Em tempos de alerta sobre as mudanças climáticas, que são a maior ameaça da humanidade no século 21, os povos pré-hispânicos tem muito a nos ensinar também sobre sustentabilidade.

Click no link abaixo para se surpreender com a complexidade das sociedades formadas pelos povos originários:

Fonte: Youtube

E se a Europa tivesse sido conquistada pelos incas?

A última obra do escritor Laurent Binet, um romancista francês de 44 anos, responde uma pergunta que milhões de latino-americanos provavelmente já se fizeram muitas vezes. O que teria acontecido se a América tivesse “descoberto” e colonizado a Europa, e não vice-versa?

Em Civilizações, o escritor imagina um mundo onde um pequeno e bastante plausível acidente na história mudou o rumo do planeta: exploradores vikings, em vez de simplesmente passarem pela costa canadense, são forçados a se estabelecer no continente americano. Quinhentos anos depois, sua herança — na forma de armas de ferro, anticorpos e cavalos — transformou a resposta dos índios Taino, no Caribe, à chegada de Colombo.

No romance, em 1531, é o último rei do império inca, Atahualpa, quem invade a Europa e inicia a colonização do império de Carlos 5º, do sacro império romano-germânico. A BBC News Mundo (serviço da BBC em espanhol) conversou com o escritor francês sobre esse cenário imaginado.

BBC – O sr. é um escritor francês que responde a uma pergunta que os latino-americanos já se fizeram muitas vezes. De onde veio a ideia?

Laurent Binet – A ideia me ocorreu no outono de 2015, depois de ser convidado para a Feira do Livro de Lima. Esse foi o gatilho, porque naquela viagem descobri muitas coisas sobre os índios pré-colombianos, os incas e a conquista de (Francisco) Pizarro (europeu que invadiu e dominou o Peru) que achei muito interessantes.

Depois me deram um livro de Jarred Diamond chamado Guns, Germs and Steel (Armas, Germes e Aço), no qual há um capítulo inteiro sobre Atahualpa e Pizarro. Neste capítulo Diamond quem pergunta por que foi Pizarro quem veio ao Peru para capturar Atahualpa e não Atahualpa quem foi à Europa capturar Carlos 5º.

E foi isso que me deu a ideia. Isso me fez pensar: Por que não? Agora vejo em que condições seria possível que a coisa acontecesse ao contrário. E os elementos da resposta também me foram dados por Jarred Diamond, porque sua teoria é que os incas, os nativos americanos, precisavam de três coisas principais para poder resistir aos espanhóis: cavalos, aço e, acima de tudo, anticorpos.

Os vikings chegaram ao Canadá, mas não se estabeleceram por lá

BBC – Em seu livro,o sr. imagina que para isso bastaria uma pequena mudança na história.

Binet – Exatamente. Eu acredito nos acasos da história. Quer dizer, acho que existem grandes tendências e a história não muda quando você estala os dedos. Mas isso não significa que não haja grandes coincidências. Uma das questões é que os europeus tinham mais animais domésticos do que os nativos americanos. E em contato com esses animais eles ficavam mais expostos aos micróbios. Por que foram os europeus que conquistaram o mundo e não os asiáticos ou os africanos? E talvez a resposta seja por que eles tinham porcos e vacas. Acho que é uma ideia interessante.

Agora, também se sabe que os vikings chegaram ao Canadá por volta do ano mil. Eles chegaram, mas não ficaram. Se eles tivessem ficado, tudo poderia ter sido muito diferente. Portanto, este é o meu ponto de partida: o que aconteceria se Cristóvão Colombo chegasse em Cuba e encontrasse indígenas que tinham cavalos, armas de ferro e 400 anos para se preparar para a chegada de seus micróbios?

BBC – Quando começou a escrever simplesmente se deixou levar pela pergunta e pelo prazer de tentar respondê-la através de um romance, ou também tinha um propósito político?

Binet – Você é sempre político, queira ou não, um texto sempre acaba sendo político. Eu tinha certeza de que seria divertido, e também muito interessante, ter a perspectiva dos derrotados. Há, de fato, outro livro sobre os incas, The Vision of the Vanquished (A Visão dos Aniquilados), de Nathan Wachtel, que explica como os incas viram a chegada dos espanhóis. E esse exercício de inversão foi claramente algo que me interessou e eu queria olhar para externos à nossa própria sociedade. Achei isso tão divertido quanto interessante.

Mas o livro foi construído numa perspectiva um tanto erudita, pois gosto de fazer muita pesquisa. Pensei nisso como um jogo e é por isso que o livro tem o mesmo nome de um jogo de computador: Civilization. O título em francês também é escrito assim, com z, como em inglês, porque é uma referência ao jogo. Tudo que fiz foi colocar no plural. Não é civilização, mas civilizações.

BBC – O sr. descreve uma Europa com poucas liberdades e muitas desigualdades, fragmentada pelas guerras religiosas em 1500. E Atahualpa aproveita esse momento para conquistá-la. Mas o tipo de sociedade um pouco mais justa e igualitária que você oferece aos “levantinos” — como você chama os europeus — é um reflexo da sociedade inca?

Binet – Certamente havia diferenças (entre a sociedade inca e as sociedades europeias). Mas minha intenção não era estabelecer uma hierarquia e dizer que os indígenas eram melhores. Nem os incas, nem os astecas tinham democracias. Eram impérios imperialistas, que de fato estavam em processo de expansão.

É por isso que eu não queria que o modelo de Atahualpa fosse Erasmus (de Roterdã), mas Maquiavel. Porque Atahualpa não era escritor ou poeta, mas chefe de Estado. E como chefe de estado, ele precisava de Maquiavel mais do que de Erasmus. Portanto, suas decisões são pragmáticas.

Se ele ajuda os judeus, os muçulmanos ou os camponeses alemães, e se ele se alinha com a França, é por pragmatismo, o mesmo pragmatismo de Hernán Cortés (espanhol que destruiu o império asteca). No México, Cortés fez algo semelhante: aliou-se a todos os povos indígenas conquistados pelos astecas.

Então para mim é puro pragmatismo, como Cortés e Pizarro. E em um nível estratégico ao longo de meu livro Atahualpa se comporta e raciocina como Cortés e Pizarro. Onde posso encontrar aliados? Bem, entre as minorias oprimidas, foi o que Cortés fez.

E então ele arma uma armadilha para Carlos V, assim como Pizarro fez em Cajamarca para capturar Atahualpa. Sabemos pelos próprios conquistadores que Atahualpa era alguém inteligente, agradável. Mas usando esses elementos eu o torno mais astuto, um pouco como um espelho de Cortés. Na verdade, devo confessar que tenho uma queda por Cortés.

Binet resolveu escrever o livro após uma viagem ao Peru

BBC – Mas então por que os incas e não os astecas? Montezuma teria sido o protagonista se antes de ir à Feira do Livro de Lima você tivesse ido a Guadalajara?

Binet – Pode ser. E fui depois na Feira de Guadalajara. Então sim, a escolha foi um pouco fruto do acaso, mas ao mesmo tempo fico feliz por ter escolhido os incas, porque sua organização econômica e social me parece mais interessante. Então foi um acaso, mas um acaso feliz.

BBC – No livro, há muitos episódios em que o sr. parece inverter o que aconteceu durante a conquista.

Binet – Sim. Por exemplo, o massacre de Toledo (episódio do livro) equivale ao massacre de Cholula nas mãos de Cortés e seus homens, simplesmente transferido para a Espanha.

BBC – Quanto tempo gastou pesquisando e documentando para identificar e compreender todos esses episódios?

Binet – Foram quatro anos de trabalho. Na França, o livro saiu em 2019, então foram quatro anos de trabalho e muitas leituras de todos os tipos. Especificamente sobre os incas, existem muitos livros muito bons em francês, mas uma de minhas fontes mais importantes foi Garcilaso de la Vega, assim como as crônicas da conquista. Pedro Pizarro, primo de Francisco Pizarro, por exemplo, escreveu a história da conquista do Peru, e muitos conquistadores espanhóis forneceram testemunhos muito valiosos sobre os incas.

Na verdade, eles são os únicos, porque não há depoimentos escritos dos próprios incas. Mas Garcilaso de la Vega foi fundamental para me ajudar a entender a organização política, econômica e social dos incas, suas regras e seu sistema de distribuição de terras, que me interessou muito.

BBC – O livro também destaca seu papel de provedor dos mais vulneráveis, como uma versão do Estado de bem estar social primitivo.

Binet – Exatamente. Porque a pergunta que todos me fazem é o que seria diferente na Europa hoje se os Incas tivessem nos invadido? E minha resposta nesse caso foi: teríamos tido seguridade social muito antes.

Armas e cavalos foram uma grande vantagem dos espanhóis

BBC – E o sr. realmente acha que as coisas teriam acontecido assim? Realmente acha que nosso mundo seria muito diferente?

Binet – Acredito que pelo menos não teríamos um sistema capitalista, mas uma economia planejada. Acho que essa seria a principal diferença. E quando se trata de questões religiosas, acho que uma parte significativa da Europa poderia ter adotado o culto do Sol. Mas não tenho certeza se o catolicismo teria desaparecido completamente. Eu ainda gosto de imaginar um mundo no qual os incas invadem a Europa e então os astecas se juntam a eles e, finalmente, os incas e astecas se aliam contra os católicos e os muçulmanos turcos de Suleiman.

E acho que, geopoliticamente, isso também teria reconfigurado muitas coisas em uma época em que, como você bem sabe, a religião era muito instável na Europa. Houve Martinho Lutero, Henrique 8º que criou sua própria igreja na Inglaterra…

Certamente muitas coisas teriam mudado. Mas também não acho que teríamos paz na Terra e democracia depois do século 17, de forma alguma. Acho que as guerras teriam continuado. Só que em vez de igrejas, outros tipos de templos teriam sido construídos, então também teria havido muitas mudanças arquitetônicas, artísticas, etc. Muitas mudanças. Embora até que ponto é algo que não posso saber.

BBC – O sr., como escritor, parece estar brincando com a história. É o que mais te interessa?

Binet – Certamente estou interessado na relação entre história e ficção. Na verdade, todos os meus três romances falam sobre isso, apenas de ângulos diferentes. A questão é confrontar a realidade e a ficção e ver como se relacionam. Às vezes eles se fundem, às vezes eles se rejeitam, às vezes eles se casam, e todas essas possibilidades me interessam. História é certamente minha matéria favorita.

Fonte: BBC Brasil

Tecnologia a laser revela dados surpreendentes sobre a sociedade maia

A civilização maia é, sem dúvida, uma das mais fascinantes do mundo pré-colombiano. Desde a época da escola, estudamos um pouco sobre a cultura desses povos tão interessantes e tão desenvolvidos e parece que sempre haverá alguma descoberta que irá nos surpreender sobre essa incrível sociedade. Foi o que aconteceu, agora em 2018, com a publicação de um estudo pela  Revista Science.

De acordo com essa  nova e abrangente pesquisa arqueológica realizada na Guatemala, a civilização maia  experimentou um auge civilizatório com notório e complexo patamar de construção de cidades.

Os dados trazem um panorama até então inédito de uma coleção de resquícios arqueológicos cobertos por floresta tropical no norte da Guatemala, na América Central.

O estudo é resultado de um consórcio de 18 pesquisadores de instituições norte-americanas, europeias e guatemaltecas, em uma iniciativa denominada Patrimônio Cultural e Natural Maia (Pacunam).

Desde 2016 os cientistas vinham analisando uma área de 2,1 mil quilômetros quadrados na Reserva Biosfera Maia, no Departamento de Peten, na Guatemala.

Para tanto, eles utilizaram mapas gerados por uma tecnologia chamada LiDAR (da sigla em inglês Light Detection and Ranging, ou seja, detecção e medição com luz). A técnica de mapeamento a laser revelou mais de 60 mil construções.

É o mais amplo estudo já realizado até hoje na arqueologia mesoamericana. Como o mapeamento topográfico permite “ver” o que há por baixo da floresta, o material sugere “uma reavaliação da demografia, da agricultura e da política dos maias”, conforme noticia a Science.

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Maias praticavam agricultura de forma intensa e tinham complexo de estradas

Sofisticação

“A mais surpreendente conclusão a que chegamos foi a magnitude e a densidade de algumas cidades maias. Ainda existem teorias que classificam as cidades maias como de baixa densidade. Estes dados claramente demonstram que tais teorias estão equivocadas”, afirmou à BBC News Brasil o arqueólogo ítalo-guatemalteco Francisco Estrada-Belli, pesquisador da Universidade Tulane, dos Estados Unidos, e autor de, entre outros livros, The First Maya Civilization: Ritual and Power Before the Classic Period.

“Ressalto também que a escala e a onipresença das construções, bem como a manipulação realizada por eles na paisagem natural, são surpreendentes”, comentou à reportagem o antropólogo norte-americnao Marcello Canuto, professor de estudos latino-americanos da Universidade Tulane.

“Estas informações nos ajudam a entender como eram altos o nível de trabalho e a interdependência socioeconômica na sociedade maia.”

Estrada-Belli acredita que tais informações podem contribuir para se valorizar melhor a cultura e a civilização dos maias – povo que viveu seu auge entre os anos de 250 e 950 e estava praticamente colapsado quando a América foi conquistada pelos europeus, a partir de 1492.

“O estudo fornece uma grande quantidade de dados sobre a forma de urbanismo e agricultura praticada pelos maias. Portanto, as teorias sobre esses elementos fundamentais agora podem ser reavaliadas a partir de uma base mais sólida”, diz o arqueólogo.

O antropólogo Canuto complementa, lembrando que com tais dados à mão, agora se pode melhor realizar análises comparativas entre a civilização maia e outras culturas ancestrais ao redor do mundo.

O mapeamento a laser identificou mais de 61.480 construções antigas escondidas em meios às densas florestas tropicais do norte da Guatemala. Após extensa análise, os cientistas envolvidos no estudo puderam reconhecer edificações urbanas, estruturas rurais e redes de transporte.

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Vista de Tikal acima encoberta pela floresta, abaixo descoberta pela tecnologia Lidar. 

No total, 12 áreas independentes – ou 12 conjuntos de resquícios arqueológicos – foram estudados, todos na mesma região.

Os dados permitem inferir que mais de 11 milhões de habitantes viveram na região entre os anos de 650 e 800, o chamado Período Clássico Tardio. Uma densidade populacional de 100 habitantes por quilômetro quadrado – para efeitos de comparação, a densidade demográfica do Estado de São Paulo, por exemplo, é de 166 pessoas por quilômetro quadrado.

Uma população de tal escala exigiria agricultura praticada de forma intensiva – o que, até então, não era algo apontado como existente na região. Conforme enfatizam os cientistas, esta seria a única maneira de sustentar tanta gente em uma área de tais dimensões.

As imagens confirmam a hipótese. Há indícios de que grande parte do solo da região tenha sido fortemente modificado, justamente pelas práticas agrícolas.

Os pesquisadores encontraram sinais de uma eficiente rede de estradas conectando as cidades e as vilas da região e, para surpresa, remanescentes de algumas fortalezas, provavelmente erigidas com o objetivo de guarnecer os centros urbanos – o que indica a existência de conflitos bélicos.

Um arqueólogo levaria um século para ver o que tecnologia LIDAR registra em dois dias 

O poder da tecnologia Lidar é tal que está sendo usada em atividades tão diversas quanto a prospecção de jazidas para a mineração ou o mapeamento dos fundos marinhos. É também um elemento essencial na direção e na segurança dos carros autônomos, que usam o Lidar para fazer a composição instantânea de um lugar.

“Em 18 anos consegui cobrir 47 quilômetros quadrados. O Lidar cobriu 308 quilômetros quadrados em cerca de dois dias”, afirma o arqueólogo Francisco Estrada-Belli. “Para fazer isso eu precisaria trabalhar 118 anos e não conseguiria o mesmo nível de detalhe. Sempre me escapariam coisas que eu não vi nesses últimos 18 anos, mesmo passando sobre elas”, acrescenta.

Para o especialista em tecnologia Lidar do NCALM, o hondurenho Juan C. Fernández, “o Lidar é a tecnologia mais eficaz e precisa para mapear a topografia”. Entre suas aplicações estão a engenharia para projeto de estradas, o monitoramento do estado e do tamanho das florestas, em geologia o estudo da deformação da Terra devido a erupções vulcânicas e terremotos… “No caso do mundo maia e especificamente nas planícies, permite mapear com incrível nível de detalhe e precisão o que está escondido pela floresta”, acrescenta este pesquisador da Universidade de Houston.

Sujar os sapatos

Na mesma edição da Science, um artigo assinado pela arqueóloga americana Anabel Ford, diretora do Centro de Pesquisas Mesoamericanas da Universidade da Califórnia, e pelo antropólogo e arqueólogo Sherman Horn, pesquisador da Universidade Tulane, comenta a descoberta dos cientistas do consórcio Pacunam.

Os acadêmicos, entretanto, fazem uma ressalva: essa “arqueologia de computador”, baseada em estudos de imagens, não pode vir a substituir os métodos consagrados e tradicionais de pesquisa arqueológica. Para eles, os pesquisadores devem continuar de “botas no chão”, revirando in loco em busca dos indícios históricos.

Fontes: Sites BBC News  e El País Brasil

Olhar vigilante

A colonização da chamada América Espanhola  é considerada uma das mais cruéis de todos os tempos. Milhares e milhares de vidas foram ceifadas sem a menor piedade pelo homem branco que aqui chegou sentindo-se dono de tudo. Esse triste capítulo da história da humanidade se tornou conhecido graças a bravos homens que tiveram coragem de relatar, mesmo correndo o risco de sofrer perseguições, tudo que se passava nas chamadas Novas Índias. Uma dessas personalidades é Frei Bartolomeu de Las Casas.  

Nascido em Sevilha, Espanha, em 1474, Frei Bartolomeu chegou na América Central no início do século XVI. A princípio veio com a missão de “catequizar” os índios, mas após ouvir um sermão em que outro missionário espanhol condenava a forma cruel como os índios eram tratados no Novo Mundo, mudou sua forma de pensar e agir passando a defender a causa indígena. Não usava, porém, nenhuma arma de fogo, sua forma de combater a tirania espanhola era através da palavra escrita.

Tive oportunidade de ler recentemente Brevíssima Relação da Destruição das Índias  – O Paraíso Destruído, uma de suas marcantes obras.  A leitura é indispensável pra quem tem interesse em conhecer mais profundamente sobre como foi a “colonização” espanhola, mas aviso desde já, que não é uma leitura nada fácil,  porque é necessário ter estômago forte pra acompanhar página a página, em detalhes, todos os tipos de atrocidades cometidas pelos espanhóis em solo americano.

Frei Bartolomeu tinha o olhar atento e humano, e não poupava critica aos sanguinários homens que vieram para cá com a missão de trazer  a palavra de Deus, e no entanto, serviam apenas ao deus chamado dinheiro.

Além de tornar pública as atrocidades cometidas pelos espanhóis, Frei Bartolomeu combateu na Europa a ideia de que a escravização dos índios era natural, já que muitos naquela época defendiam a ideia de que eles já nasceriam submissos. Ao morrer com 92 anos, Frei pôde ver alguns avanços em relação ao tratamento dado aos índios, mas muito longe daquilo que ele almejou. Sua importância, porém, na defesa dos índios, é incontestável, afinal, se não houvesse alguém para desafiar a história oficial, hoje poderíamos acreditar que na  América pré-colombiana havia apenas habitantes selvagens, desprovidos de cultura. Sua obra nos mostra claramente quem eram na verdade os selvagens, desprovidos de qualquer humanidade…

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