Economia da América Latina é uma das mais afetadas pela epidemia do coronavírus

Toda cautela é pouca na hora de tentar antecipar o inegável impacto econômico do coronavírus: grande parte do que está ocorrendo hoje só será plenamente visível e quantificável no decorrer das semanas ou meses. Os sinais, entretanto, chegam em peso e falam por si só: há algo de grave acontecendo no sempre frágil jogo de equilíbrio em que se move a economia.

A Bolsa de Nova York perdeu quase um quinto do seu valor em menos de um mês; a migração da renda variável para a renda fixa – a prova mais evidente do temor que paira sobre o mercado – é evidente; o consumo global de petróleo afunda a um ritmo inclusive maior que na Grande Recessão; a saída de capitais dos emergentes se multiplica; e cada vez mais organismos internacionais reconhecem que ainda não dispõem dos elementos de julgamento suficientes para se aventurarem com uma cifra concreta de impacto.

Pouco a pouco, as certezas do impacto econômico começam a emergir. Entre elas, que ser uma das regiões do mundo com menos casos de contágios não a exime de sofrer o dano financeiro associado a qualquer epidemia: a América Latina não tem de forma alguma garantida a sua imunidade, e foi pega no contrapé, mergulhada num já longo período de baixo crescimento e com pouca margem de ação para reverter a esperada redução da demanda.

As consequências já começaram a ser sentidas em várias frentes: sacudida nas Bolsas, acompanhando os grandes mercados mundiais; moedas indo à lona; redução nas previsões nas previsões de crescimento e uma clara mudança de padrão nas exportações de matérias primas. “A região está perante sua possível segunda década perdida… das últimas três. O coronavírus chega num péssimo momento, de baixo crescimento”, observa Lourdes Casanova, diretora do Instituto de Mercados Emergentes, ligado à Universidade Cornell (EUA).

No aspecto sanitário, a epidemia chegou à América Latina através do Brasil, com um homem que voltou infectado de uma viagem à Itália. Desde então, o vírus avançou em ritmo mais lento que em outras latitudes: o verão austral talvez tenha ajudado, como também a distância geográfica e as poucas conexões aéreas com as zonas mais afetadas.

Primeiro paciente infectado da América Latina chegou ao Brasil depois de uma viagem à Itália.

O número de contágios é oito vezes maior nos EUA e 160 vezes maior na Europa. Mas o dinheiro corre por vias bem distintas: na mente dos economistas, está gravada a fogo a relação direta entre menor atividade global, menor consumo de matérias primas e golpe na linha de flutuação de muitas economias da região. A eterna dependência dos produtos básicos, sem valor agregado, agrava a exposição latino-americana a um choque desta espécie.

As primeiras a sofrerem o golpe foram as divisas regionais, algumas das quais já estavam nos ossos: o real brasileiro e o peso chileno flertavam com seu mínimo histórico bem antes do coronavírus monopolizar tudo. Só o peso mexicano sustentava a cotação.

Mas além dos sempre voláteis mercados financeiros – Bolsas, câmbio, renda fixa –, que já antecipam uma guinada radical no caminho de crescimento global e regional, “há um impacto claro sobre as exportações e, portanto, sobre o crescimento. Ainda não vemos contágio para o setor de serviços, com impacto doméstico, mas o risco está aí, e as autoridades de política econômica deveriam estar observando-o”, afirma Martín Castellano, chefe de análise para a América Latina do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês).

A estreita relação com a China nas últimas décadas se transforma em uma faca de duplo fio na balança comercial de muitos países latino-americanos. Pouco mais de uma década atrás, quando o bloco ocidental sucumbia à crise financeira, esse gancho permitiu à região se isolar das consequências da queda dos EUA e Europa. Hoje, por outro lado, é motivo de alarme: embora a China vá pouco a pouco voltando à normalidade, “a atividade econômica ficou muito reduzida, com um impacto significativo”, observa por email Otaviano Canudo, ex-diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental e hoje fellow da Brookings Institution. Segundo os cálculos da OCDE, um ponto a menos de crescimento na China implica uma queda em idêntica proporção no crescimento da região. E a migração da volatilidade para os spreads da dívida pública, como recorda Sebastián Neto, chefe de unidade do organismo para a região, também é muito maior.

Três das grandes economias regionais – Brasil, Chile e Peru – têm no gigante asiático o principal destino de seus produtos, e o fantasma de 2015, quando as matérias primas desabaram e as principais economias latino-americanas se ressentiram, está na memória. Se nos primeiros dias os temores se centravam nos minérios de uso industrial – ferro e cobre, sobretudo –, o que situava as nações andinas como maiores prejudicados, o recente desabamento do petróleo por uma combinação de menor demanda (maior baixa trimestral em décadas, superior inclusive à registrada no auge da Grande Recessão) e descoordenação entre a OPEP e a Rússia, pôs o foco sobre Venezuela, Equador, Colômbia, Brasil e México, grandes produtores regionais. Em questão de dias, o México, segunda maior economia latino-americana – e um dos países menos afetados pela epidemia, por sua escassa exposição à China, onde tudo começou –, passou ao olho do furacão financeiro. Primeiro porque o desmoronamento do petróleo representa um duro baque para sua já abaladíssima petroleira estatal Pemex. Segundo porque, à medida que o vírus se globaliza – ou, melhor dizendo, se ocidentaliza –, suas consequências econômicas também o fazem.

Estamos começando a mudar o enfoque, vendo-o não só como um golpe para a economia chinesa, mas como algo que vai muito além”, aponta, pedindo anonimato, o estrategista para a América Latina de uma importante gestora de recursos. “Nos EUA, por exemplo, vão comprar os mesmos carros nestas circunstâncias? Temos dúvidas, e isso afeta o México e também o Brasil, onde dois terços de suas exportações são matérias primas. São “tempos difíceis” para a região, afirma por telefone. “Estamos vendendo com as duas mãos e esperando que os números se estabilizem para comprar com três mãos.” E quando os investidores apertam o botão de pânico, a história diz claramente que a peça latino-americana do dominó global costuma ser uma das primeiras a cair: sua exposição à volatilidade é inclusive maior que a do resto dos emergentes.

Na sopa de letras que os economistas identificam ao lerem as curvas dos gráficos – ou seja: L, uma queda da atividade sem recuperação à vista; V, rápido desabamento, rápida recuperação; U, descida busca, descenso, recuperação demorada –, Neto aposta na última opção. “Não há dúvidas de que haverá efeito sobre o crescimento. O período de recuperação já não será de um trimestre nem um semestre, e sim mais”. O resultado desse coquetel é um quadro cinza, muito mais sombrio que o desenhado no final de 2019 – que, verdade seja dita, era mais prudente que pessimista. O Goldman Sachs foi o último a revisar seu quadro macro para os principais países da região: Brasil e Equador crescerão 0,7 ponto percentual a menos (1,5% em vez de 2,2% no primeiro caso; e de -0,3% a um lúgubre -1% no segundo); Peru, 0,5 a menos (2,8% em lugar de 3,3%); e Colômbia, 0,4 (3% em vez de 3,4%).

Economia de países emergentes como o Brasil é uma das mais afetadas em momentos de crise mundial – Reprodução Internet.

Ao contexto adverso se soma uma menor margem de manobra para políticas contracíclicas que em crises anteriores. A depreciação generalizada das moedas latino-americanas delimita o campo de ação da política monetária – juros mais baixos contribuem para a retomada da atividade, mas também estimulam a saída de recursos. Esse é, justamente, o maior desafio regional neste ponto, segundo Neto: a “limitadíssima capacidade de aplicar estímulos num momento em que é preciso ter muito cuidado com o potencial impacto sobre a saída de capitais”. No plano fiscal, a margem é igualmente curta, com volumes de dívida pública que, como recorda Castellano, do IIF, duplicaram em grande parte da região desde 2009. Naquela época, estes países puderam fazer frente. “Só os países com espaço fiscal ou monetário e com reservas de divisas estrangeiras poderão responder ao choque”, conclui Canudo. Tempos bicudos, sem poções mágicas.

Texto de Ignacio Fariza – Retirado do caderno de Economia – Jornal El País.

Você moraria em um apartamento de apenas 10 metros?

O corre-corre das grandes cidades faz com que muita gente perca muitas horas de seu dia no deslocamento do trabalho pra casa. Pensando em evitar esse transtorno, muitos jovens acabam optando por buscar uma moradia mais próxima ao seu local de trabalho. O problema é que pagar um aluguel, ainda mais em países cujos salários médios não são muito altos, não é uma tarefa fácil.

Pensando em atender essa demanda, o setor imobiliário latino – americano vem investindo cada vez mais na construção de microapartamentos.

Eles são tão pequenos quanto o espaço de uma vaga de estacionamento.

“São os menores da América Latina, diz Alexandre Frankel, diretor-executivo da Vitacon, empresa que está construindo microapartamentos  de 10 m² em São Paulo. Logo que o projeto VN Higienópolis chegou ao mercado, as unidades foram vendidas por aproximadamente R$ 70 mil. O prédio ainda está em construção e o lançamento está previsto para o fim deste ano.

Como nas grandes cidades os engarrafamentos se tornaram um pesadelo e os preços das moradias estão nas alturas, as construtoras estão erguendo apartamentos minúsculos em áreas centrais para jovens profissionais, estudantes e investidores, que enxergam neles uma oportunidade rentável.

Em cidades como São Paulo, Buenos Aires, Bogotá ou Cidade do México, as pessoas podem passar facilmente três horas por dia se deslocando de casa para o trabalho. E como o salário médio não permite comprar imóveis maiores, quem mora sozinho prefere perder espaço e ganhar tempo.

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Este apartamento de 10 m² em São Paulo foi vendido por R$ 70 mil

Embora alguns arquitetos digam que é como trancar alguém em uma cela na prisão, outros veem os microapartamentos como uma solução com alta rentabilidade para um problema urbano que vai continuar piorando.

Os defensores da nova tendência afirmam que o fenômeno é uma resposta à dinâmica da chamada gig economy, ou economia compartilhada, em que os jovens trabalham de forma independente, têm filhos mais tarde e usam espaços de trabalho compartilhados (coworking).

Assim, os arquitetos estão projetando edifícios com microapartamentos e grandes espaços compartilhados, onde as pessoas que querem socializar podem passar boa parte do tempo. “As pessoas dormem em seu apartamento, mas o prédio é parte da sua casa”, explica à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, Alexandre Frankel.

A empresa dele construiu vários edifícios com microapartamentos em São Paulo, mas nenhum, até então, havia batido o recorde de 10 m². E, de fato, no futuro, ele não será capaz de voltar a construir espaços tão pequenos, porque a regulamentação não permite mais – o limite mínimo permitido hoje para as unidades é de 11 m². “Se eu pudesse fazer menor, eu construiria”, diz Frankel.

E esse é justamente um ponto-chave: na maioria dos grandes centros urbanos, as leis não permitem a construção em uma escala tão pequena. Embora em cidades como Tóquio, onde a densidade populacional é uma das mais altas do mundo e os preços são proibitivos, existam microapartamentos de até 8 m².

As cidades expulsam as pessoas

Em outras cidades latino-americanas, os microapartamentos também estão se proliferando, mas com tamanhos um pouco maiores, que beiram os 20 m². Embora a alta densidade populacional e o tráfego excessivo de veículos não sejam um problema novo na região, a verdade é que pioraram em muitas cidades.

E se, acrescentarmos a isso o aumento dos preços e a ascensão da classe média, temos o cenário perfeito para que o fenômeno dos microapartamentos comece a se expandir, pelo menos enquanto houver demanda para colocar lenha na fogueira. Em Buenos Aires, também estão sendo desenvolvidos projetos imobiliários desse tipo. Alguns em bairros nobres e outros em áreas de classe média.

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A tendência de viver em microapartamentos teve uma forte alta em cidades como Tóquio, Londres e Nova York

“Fazemos produtos para pessoas de classe média que não conseguem comprar (um imóvel), que não têm acesso à moradia”, explica à BBC News Mundo Pablo Brodsky, diretor comercial da Predial, empresa que vende microapartamentos de 18 m² a 30 m², com preços a partir de US$ 40 mil (R$ 153 mil) e US$ 50 mil (R$ 192 mil), respectivamente.

“As cidades expulsam as pessoas. É por isso que os microapartamentos são uma tendência que veio para ficar.” Brodsky acredita, no entanto, que tudo tem um limite, ou seja, você não pode construir moradias tão pequenas quanto as de São Paulo. “Eu não moraria em 10 m²”, diz ele.

Aluguel para turistas

Outras empresas desenvolveram projetos em áreas mais nobres, como Belgrano ou Palermo, que não têm menos de 20 m² e custam pelo menos US$ 55 mil (R$ 211 mil).

Muitos imóveis são comprados por investidores que, em alguns casos, alugam as propriedades em plataformas como o Airbnb ou até mesmo como escritórios. “Devido à desvalorização do peso, é muito rentável alugar (os apartamentos) para turistas que pagam em dólar, em vez de alugá-los por um ano inteiro”, afirma Manuel Mel, gerente de vendas da Mel Propriedades.

Os imóveis também são comprados por pais de estudantes do interior do país que vão estudar na capital ou por jovens profissionais. “Eles têm uma localização muito boa, estão conectados ao metrô e podem ser comprados por pessoas que teriam que esperar mais cinco anos.”

E como as regras que permitem construir microapartamentos em Buenos Aires foram modificadas há poucos meses, é possível que nos próximos anos sejam desenvolvidos mais projetos desse tipo.

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Muitos investidores compram os microapartamentos e alugam em plataformas como Airbnb

As pessoas ainda buscam espaços maiores

“Esse fenômeno ainda não é tangível para o caso do México”, diz à BBC News Mundo José Luis Madrigal, gerente-geral da empresa CADU Residencial.  “Há um aumento nos preços de imóveis, especialmente na Cidade do México, e uma demanda alta que a oferta não consegue assimilar.”Mas as pessoas ainda estão à procura de empreendimentos maiores, com pelo menos 65 m².

De qualquer forma, ele argumenta, a tendência é que os espaços sejam reduzidos – não só devido ao aumento dos preços, mas também à redução do crescimento populacional e às condições de vida e trabalho atreladas à economia compartilhada.

Em alguns sites de imobiliárias, é possível encontrar apartamentos de 20 m², principalmente para alugar. Se trata, em muitos casos, de moradias antigas reformadas, diz Leonardo González, analista do site Propiedades.com.

E há uma demanda por espaços pequenos entre membros da geração millennial, uma vez que não é fácil para eles comprar um apartamento. “Muitos não têm uma renda garantida, tampouco condições para comprar uma propriedade”, explica.

A mesma situação se repete em todo o mundo, especialmente nas grandes cidades, onde a casa própria se tornou um sonho cada vez mais distante. Não é à tôa que muitos profissionais recém-formados tentam ficar na casa dos pais o maior tempo possível com a ideia de economizar.

E outros, cansados ​​de passar horas presos no trânsito, acabam preferindo os microapartamentos. Uma ideia que deixa muitos urbanistas indignados, se perguntando por que não foram feitas políticas de planejamento urbano a tempo. Seja como for, o fato é que as megacidades continuarão crescendo e a demanda por moradia dificilmente vai desacelerar.

E você o que acha desses microespaços? São uma boa opção? Ou concorda com alguns arquitetos que os consideram uma pequena prisão? 🤔

Fonte:  BBC Brasil

 

 

Em que cidades da América Latina é mais caro comprar um apartamento?

Conseguir realizar o sonho da casa própria é um desafio cada vez maior em muitos países. Nas últimas décadas, os investimentos da classe média a nível mundial, estão estagnados, enquanto, por outro lado, a fatia do bolo que 10% da população mais rica do planeta concentra tem aumentado, segundo informou, recentemente, a Organização para Cooperação e Desenvolvilmento Econômico (OCDE).

Nesse contexto, as grandes cuidades latino-americanas tem experimentado um crescente aumento do valor dos apartamentos, especialmente, nos bairros mais procurados por trabalhadores jovens.

A capital argentina, Buenos Aires, tem em média o metro quadrado mais caro da  América Latina, seguida pela capital chilena Santiago, a capital uruguaia  Montevidéu e o Rio de Janeiro, segundo um estudo da consultora Navent e da Universidad Torcuato Di Tella,  localizada no bairro Belgrano em Buenos Aires,  que analizou 14 grandes cidades latinas.

Oscilação

A investigação se concentrou em algumas das cidades mais ricas da região, calculando o preço através de uma média dos anúncios de compra e venda publicados.  Os munícipios onde houve um aumento maior do preço dos apartamentos nos últimos meses foram: Monterrey (México) e  Rio de Janeiro, (Brasil). As maiores quedas ocorreram em Santiago (Chile), Ciudad de Panamá (Panamá) e Quito (Equador).

 Ao comparar o poder aquisitivo das moedas locais, as maiores altas se registraram em Ciudad de México,  Monterrey (México) e Bogotá (Colombia) e as quedas mais fortes aconteceram em Buenos Aires, Córdoba e Rosario (Argentina).

Departamentos

 

Tempos difíceis esses que vivemos não é?

Fonte: BBCMundo.com

Legalizar para combater

A América Latina é, infelizmente, uma das regiões mais violentas do mundo. A pobreza e a desigualdade social são fatores que estimulam jovens a se integrarem  à facções criminosas brasileiras e às pandillas ou maras como são conhecidos esses grupos em outros países latinos. As pandillas têm origem nos Estados Unidos, mas logo se espalharam por diversos países americanos, modificando sua forma de atuação conforme a região em que estão inseridas.

Pedro Gallego Martínez, autor de um livro sobre o tema, define a pandilla como um “agrupamentos de jovens de ambos os sexos, que se unem com a finalidade de controlar um bairro ou um território e fazem do pertencimento ao grupo uma forma de vida que lhes leva a cometer qualquer tipo de delito e inclusive perder a vida”. Martínez afirma ainda que três são as saídas para o que os jovens pandilleiros chamam de “la vida loca”: a prisão, o hospital e o cemitério.

O domínio sobre o território é o fundamento de todas as ações. O uso de uma linguagem própria, pichações e tatuagens são meios de identificação não só de seus membros, mas das áreas pertencentes a cada uma das gangues.

Dentre os fatores de surgimento ou expansão das pandillas estão: processos de exclusão social, cultura da violência, crescimento urbano rápido e desordenado, desorganização comunitária, dinâmicas violentas e dificuldades de construção da identidade pessoal.  Muitos jovens procuram esses grupos para se sentirem parte de algo maior. O financiamento de tais grupos vem de fontes diversas, como a extorsão, o tráfico de drogas e o sequestro.

Um estudo da Comissão Espanhola de Ajuda ao Refugiado (Cear) sobre o tema afirma que “a força com que tais grupos se implantam e crescem pegou as autoridades centro-americanas desprevenidas. Os governos só se conscientizaram da dimensão do problema quando a criminalidade aumentou drasticamente e o controle das maras sobre os bairros já era um fato consolidado.”

Se trata de um problema complexo, e por tanto, difícil de ser solucionado. A  resposta dos Estados às pandillas costuma ser  reativa e repressiva. Em El Salvador, a política de repressão às gangues conhecida como “mano dura” fez com que a população carcerária dobrasse em quatro anos. O encarceramento em massa contribuiu para que as maras se fortalecessem ao arregimentar novos membros. A divisão das prisões por gangues fez com que os grupos pudessem se organizar ainda mais, passando a comandar suas ações mesmo detrás das grades.

 Em El Salvador, um acordo de paz entre a Mara Salvatrucha e o Barrio 18, mediado pela Igreja Católica, Organização dos Estados Americanos (OEA) e sociedade civil, fez com que a taxa de homicídios despencasse. A “paz” durou pouco. Com a mudança de governo e a volta de uma política de segurança voltada para o confronto direto, os índices dobraram, tornando El Salvador o país mais violento da América Central.

O Equador, no entanto, está na contra mão de seus vizinhos e resolveu adotar uma postura diferente para enfrentar esse problema: legalizar a atuação desses grupos.

O processo

Ana Rodríguez, pesquisadora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e ministra da Cultura em 2016, foi uma das promotoras do processo à época.

“Para evitar abusos e reivindicar a vontade de evitar ações violentas, começamos a promover a legalização”, explica.

Rodríguez diz ter sido fundamental o apoio do governo e da polícia do Equador – o que incluiu a disponibilização, para os “pandilleros”, de centros de apoio e treinamentos para o mercado de trabalho.

“Não foi preciso convencê-los. Foi uma vontade mútua acabar com a discriminação contra eles”, revela Rodríguez.

 Um exemplo aconteceu com Os Latin Kings (ou “Reis e Rainhas Latinos”)  que são agora a Kings Catering, uma pequena empresa do ramo gastronômico.

Essa é uma das gangues que está prestes a completar 11 anos de idade como organização “legalizada” no Equador, parte de um processo sem precedentes no país que contribuiu para uma redução em mais de 70% nos homicídios.

Agora  a coroa de ouro remete a comida de qualidade. Em pouco mais de uma década, as cores amarelo e preto, combinadas com uma coroa de ouro como símbolo, passaram a ganhar novos significados nas ruas de Quito, capital do Equador. Hoje, as roupas características dos jovens  da Latin Kings já não remetem mais ao medo ou à ilegalidade.

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Os Latin Kings deixaram a violência, mas mantêm seus símbolos – BBC Brasil

Não foi uma caminhada fácil, mas os resultados obtidos em dez anos já são destacados por organizações internacionais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A entidade destaca que o programa teve influência significativa na redução da violência local. Segundo dados do BID, os assassinatos no Equador caíram de 15,35/100 mil habitantes em 2011 para 8,17 em 2014 e uma taxa próxima a 5 em 2017 – no Brasil, essa taxa é de cerca de 30 homicídios por 100 mil habitantes.

A difícil transição

Manuel Zúñiga é o “Inca”, isto é, o presidente dos Latin Kings. Seu nome é King Majestic entre os “pandilleros” – como são chamados membros desses grupos marcadamente jovens, informais e vinculados a determinadas regiões.

No passado, ele aprendeu a usar armas, roubar veículos e viver na prisão; hoje, ele é o representante legal de sua “pandilla” (ou “nação”, como chamam em alguns casos) e trabalha na Universidade Católica de Quito, uma instituição privada, com um escritório e tudo mais.

Ele não utiliza mais suas antigas calças largas, mas continua a vestir com orgulho as cores de seu grupo e colares que ganhou como líder.

“Inca” também não esconde suas tatuagens e explica que cada uma simboliza os valores de seu grupo ou suas experiências pessoais.

“Nossa transição foi graças à união e à maturidade de todos nós. Não foi fácil, mas foi o de mais positivo para a nossa nação”, explica o líder.

Zúñiga acrescenta que os “reis e rainhas” estavam “cansados ​​de tantos abusos e discriminação”.

Mas “foi muito difícil convencer os irmãos porque vivíamos em um mundo de violência”, diz.

“Agora que veem nossos passos como positivos, muitos irmãos estão se juntando a nós”, conta à BBC News Mundo enquanto viaja em um carro dirigido por um desses “irmãos” da universidade até seu bairro, em um trajeto com quase uma hora de duração.

No início, apenas 20 “pandilleros” decidiram “se legalizar”. Agora, eles são mais de mil, com origem nos Latin Kings e também em outras gangues.

A pesquisadora Ana Rodríguez conta que o modelo funcionou e conseguiu se expandir até mesmo em direção às gangues inimigas dos Latin Kings.

“Uma das principais dificuldades foi mudar a imagem dos ‘pandilleros’, mas esse signo foi mudado.”

O relatório “Inclusão social de baixo: As pandillas de rua e seus possíveis efeitos na redução da taxa de homicídios no Equador”, do BID, também destaca as conquistas do programa – iniciado em 2007.

“Descobrimos que a legalização desses grupos ajudou a reduzir drasticamente a violência e o crime e, ao mesmo tempo, garantiu um espaço cultural e legal para transformar o capital social das gangues em meios eficazes para alcançar uma mudança de comportamento”, destaca o relatório.

A empresa

Manuel anda com seus “irmãos” pelos corredores da Universidade Católica de Quito.

É 30 de outubro, e o Kings Catering tem dois importantes serviços a oferecer: um almoço dos decanos da instituição e outro do conselho das universidades equatorianas.

Ninguém se surpreende ao ver que jovens com várias tatuagens nos braços, camisetas estampadas e longos colares preparam e servem comida: no menu do dia, arroz pesto com frango recheado.

Para Manuel, uma das maiores conquistas na década foi a superação do estigma que os cercava.

A socióloga Alejandra Delgado, coordenadora do programa de inclusão dos “pandilleros” da Universidade Católica, combina suas aulas com o trabalho ao lado dos “reis e rainhas latinos”. O grau de confiança que ela construiu com o grupo é notável.

Os Latin Kings não trabalham apenas no serviço gastronômico como também recebem treinamento técnico em áreas como serigrafia e informática. Os entes envolvidos buscam projetos que funcionem a longo prazo e gerem empreendimentos próprios.

Luis Enrique, um dos “pandilleros”, tornou-se recentemente o primeiro do grupo a cursar Sociologia na universidade. Ele frequenta as aulas com quase uma dúzia de colares, tatuagens nos braços e uma camiseta com os símbolos de sua “nação”.

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Luis Henrique é o primeiro do grupo a cursar  Sociologia na PUC de Quito – BBC Brasil

Os percalços

Apesar dos resultados celebrados, porém, a legalização das gangues não foi capaz de erradicar a violência entre grupos de jovens no Equador.

E embora o general de polícia Patricio Carrillo, agora parte do Ministério do Interior equatoriano, reconheça as conquistas do programa, ele também alerta para as dificuldades atuais de sua manutenção.

Membros do governo reconhecem que o surgimento de novos grupos violentos não legalizados e o cenário econômico atual, de queda na renda dos equatorianos, dificulta o apoio aos “pandilleros”.

Para Carrillo, a redução da violência no país não passa apenas pelo trabalho com as organizações juvenis mas também pela aproximação entre a polícia e as comunidades, subdivididas em áreas de atuação dos agentes de segurança.

Lições

Curiosamente, as conquistas da experiência equatoriana não parecem ter chamado a atenção de outros países latino-americanos.

Para especialistas consultados pela BBC News Mundo, a experiência é pouco conhecida e há resistência em países próximos, como El Salvador, a uma eventual alocação de recursos públicos para membros de gangues.

“É preciso implementar uma mudança estrutural, não só do governo, mas também da polícia – como aconteceu no Equador”, defende Rafael Gude, pesquisador do BID que trabalhou com “pandillas” no Equador e na América Central.

A socióloga Ana Rodríguez afirma que o processo equatoriano deveria ser replicado em outros países – mudando a abordagem “criminalizadora” dos membros de gangues.

“É muito difícil que isso seja alcançado se os governos continuarem atribuindo a culpa pelos problemas em suas ruas às organizações de jovens. Eles (os governos) devem reconhecer que a violência é produto da desigualdade, e não das gangues.”

Para ela, os Estados com problemas de violência mostram a repressão contra as gangues como uma conquista, apesar da evidente ineficiência dessa política na redução de homicídios.

A opinião da sociólogia encontra semelhanças com a de Manuel Zúñiga, presidente dos Latin Kings, que expressa desejar que “irmãos” em outros países sigam o mesmo caminho de sua “nação” e possam andar com suas tatuagens e camisetas pretas com coroa dourada sem dificuldades nos corredores de universidades e órgãos governamentais.

Fontes: Sites BBC Brasil News e  Jornal O Povo

 

As 10 marcas mais famosas da América Latina

A América Latina está longe de figurar entre as regiões mais ricas do mundo. Mas nem por isso deixamos de ter marcas importantes e conhecidas no planeta inteiro.  A empresa britânica de marketing e comunicação WPP lançou recentemente, no já tradicional relatório Brandz, o ranking com as 50 empresas mais importantes da América Latina. Confira abaixo a lista com as 10 primeiras colocadas:

10. Bodega Aurrera

Esta rede de supermercados mexicana concentra sua oferta em produtos acessíveis para consumidores de baixa renda. Pertence ao Walmart do México, uma subsidiária local da multinacional de origem norte-americana.

De acordo com o relatório Brandz, parte de seu sucesso reside na sua capacidade de criar formatos de lojas mais flexíveis, que operam em cidades menores ou em locais onde as lojas de departamentos não têm a capacidade de competir. Tem um valor de US$ 3,757 bilhões.

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9. Águila

Com mais de um século de existência, Águila é uma das quatro marcas de cerveja incluídas na lista das dez mais valiosas da América Latina e a única de origem colombiana. Ela é conhecida por ter sido patrocinadora de muitas atividades populares e da seleção colombiana de futebol.

A marca teve o seu início em uma fábrica criada em Barranquilha em 1913 que mais tarde se tornou parte do grupo da cerveja Bavaria. Desde 2016, pertence à multinacional AB InBev, a maior cervejaria do mundo. O relatório Brandz  atribui  a ela um valor de US$ 3,924 bilhões.

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8. TV Globo

Avaliado em US$ 4,3 bilhões, esse gigante da comunicação no Brasil é o único canal de televisão incluído entre as dez maiores marcas do ranking. Além disso, é uma das 8 que entraram pela primeira vez neste ano na lista das 50 marcas mais valiosas da América Latina.

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7. Cerveja Brahma

Embora tenha aumentado seu valor em 2% entre o relatório de 2017 e o de 2018, a cervejaria brasileira caiu do 2º para o 7º lugar, o que se deve basicamente ao fato de haver outras marcas que tiveram melhor desempenho.

Fundada em 1888 no Brasil, ela acabou se integrando mais de um século depois à AB InBev. Atualmente é a segunda cerveja com maior participação de mercado no Brasil. Seu valor é estimado em US$ 4,478 bilhões.

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6. Falabella

Se no relatório de 2017 a Falabella foi considerada a marca mais valiosa do Chile, no ano de 2018 ela registra um aumento de 26% em seu valor, que chegou a US$ 5,4 bilhões.

Essa rede de lojas de departamento foi criada em 1958 e possui dezenas de unidades espalhadas pelo país. A partir dos anos 90, se estabeleceu também no Peru, na Argentina e na Colômbia. Em 2017, foi incluída pela revista Forbes entre as 100 empresas mais inovadoras do mundo.

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5. Telcel

Com mais de 72 milhões de assinantes, esta é uma das três empresas mexicanas incluídas na lista das 10 marcas mais valiosas e a única pertencente ao setor de telecomunicações.

Atualmente, ela tem 65% de participação de mercado no México. Foi uma das empresas que teve o maior aumento em seu valor entre 2017 e 2018: 32% – que elevou seu valor a US$ 6,048 bilhões.

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4. Itaú

É o maior banco privado do Brasil e tem presença em de 21 países e mais de 5 mil agências na América Latina. Fundado há quase um século, atende cerca de 60 milhões de clientes.

Parte de seu grande porte se deve à sua fusão em 2008 com o Unibanco.

O relatório Brandz 2018 indica que seu valor como marca aumentou em 42% durante o ano passado, chegando a US$ 6,198 bilhões.

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3. Bradesco

De todas as marcas incluídas entre as dez mais valiosas da América Latina em 2018, o Bradesco foi a que mais aumentou seu valor em termos percentuais no último ano: 58%. Criado em 1943 como um banco que prestava serviços para pequenas empresas, cresceu em ritmo acelerado e em menos de uma década se tornou uma das maiores instituições financeiras privadas do Brasil.

Segundo o relatório Brandz, seu valor atualmente é de US$ 7,018 bilhões.

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2. Skol

Em 2016 e 2017, a cerveja Skol, que pertence à AB InBev, foi a marca mais valiosa da América Latina. No relatório da Brandz de 2018 caiu para a segunda posição depois de registrar um crescimento em seu valor de apenas 1%, o que a deixa com valor de US$ 8,263 bilhões. Desde 1988, é uma das cervejas mais populares no Brasil.

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1. Corona

Comercializada em cerca de 120 países em todo o mundo, esta cerveja mexicana, criada em 1925 pelo Grupo Modelo, é a marca mais valiosa da América Latina. Não só é a mais vendida no México, mas também a cerveja importada mais consumida em 50 dos países em que é comercializada.

Seu valor, de acordo com o relatório de Brandz, aumentou 8% no ano passado, chegando a US$ 8,292 bilhões.

 

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E você se surpreendeu com essa lista?  Eu esperava ver a cerveja Quilmes da Argentina entre as melhores colocadas.  Você sentiu falta de alguma marca também?

Fonte: Site BBC Brasil News

Imagens: Reprodução – Internet

Protestos à moda latina

Nunca se debateu tanto sobre política no Brasil. No sábado dia 29 de setembro, faltando muito pouco tempo para o primeiro turno das eleições, milhares de pessoas saíram pelas ruas do país protestando contra o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro. Foi o famoso protesto do #ELENÃO.  No dia seguinte, outro grande número de pessoas saiu em marcha pelas ruas, dessa vez para demostrar apoio ao presidenciável. Desde as grandes manifestações de 2013, o brasileiro está se acostumando a cada vez mais  se manifestar com o intuito de demostrar seu descontentamento com o cenário político. Foi assim também em 2016 quando milhares de pessoas saíram às ruas pedindo o afastamento da presidente Dilma Rousseff, enquanto por outro lado, milhares pediam sua permanência. Desde a época dos caras pintadas, que exigiram a saída do presidente Collor em 1992, nunca mais havia existido tanta mobilização pelo país.

Pelo clima de incertezas que tomou conta do Brasil, imagino que daqui pra frente as manifestações vão ser uma constante cada vez maior. Mas nosso país não é um caso isolado na América Latina, pelo contrário, já faz tempo que nossos vizinhos demostram seu descontentamento em relação a diversos temas das mais variadas maneiras. O jornalista Ariel Palácios fez uma lista, em sua coluna na Revista ÉPOCA, de 11 curiosidades sobre as manifestações produzidas pelos latinos, confira abaixo:

1 – Frigideira-Power, o panelaço, invento chileno que os argentinos tornaram mundialmente famoso

Os primeiros ” cacerolazos” (“panelaços” em espanhol, derivado de “cacerola”, que significa “panela”) surgiram no Chile para protestar contra o presidente socialista Salvador Allende em 1971. No entanto, em 1982, 1983, 1986 e 1989 os panelaços chilenos foram direcionados contra o ditador de extrema direita, o general Augusto Pinochet, demonstrando que os panelaços não possuem exclusividade ideológica, e que podem ser uma modalidade de protesto por parte de críticos da esquerda, direita ou centro.

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Protesto no Chile contra a ditadura de Augusto Pinochet

Em 1996, a modalidade dos panelaços atravessou a Cordilheira dos Andes, sendo adotada pelos argentinos. Naquele ano, em Buenos Aires e nas principais cidades da Argentina vastos setores das população recorreram a panelaços  para protestar contra a política neoliberal do presidente peronista Carlos Menem. Em 2001 e 2002, essa modalidade de protesto teve seu apogeu de forma quase diária contra o presidente Fernando De La Rúa, da União Cívica Radical, e os peronistas Adolfo Rodríguez Sáa e Eduardo Duhalde. Na época, na imprensa internacional, a imagem de ruas e avenidas entupidas de pessoas batendo panelas associou o “panelaço” à Argentina.

Em 2008, 2009, 2010 e 2013, houve panelaços contra o governo da presidente peronista Cristina Kirchner. O último panelaço significativo, em 2013, reuniu 700 mil pessoas em Buenos Aires. A cidade (o distrito federal) tinha 2,7 milhões de habitantes naquele ano. Isto é, 25% da cidade bateu panelas. Na capital argentina, se um panelaço não atinge a faixa de 20% da população, não é levado em conta como relevante.

Um panelaço é uma modalidade de protesto que consiste em bater utensílios de cozinha metálicos para gerar um barulho que pretende ser interpretado como o som da “irritação popular”. No entanto, o mundo do panelaço no Cone Sul é flexível: não é condição sine qua non o uso das panelas e frigideiras. Nos últimos panelaços portenhos, foi utilizada de forma intensa a garrafa de plástico, que produz um som seco também adequado para expressar irritação. Os “panelaceiros” heterodoxos portenhos argumentam que a vantagem das garrafas é que não estraga as panelas de casa, além de serem mais leves. Na contra-mão, os “panelaceiros” ortodoxos sustentam que nada substitui a sonoridade metálica das frigideiras.

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Na Argentina um panelaço com menos de 20% de participação popular é considerado irrelevante

Historiadores franceses argumentam que os primeiros “casserolades” (panelaços) surgiram em Paris em 1830 para protestar contra o rei Louis-Phillipe.

2 – Piquetes, a modalidade favorita dos argentinos

Em 1996, milhares de desempregados no empobrecido interior da Argentina começaram a protestar bloqueando estradas com escombros e pneus em chamas. Chamados inicialmente de “fogoneros”, estes manifestantes foram imediatamente rebatizados como “piqueteiros”, por causa dos piquetes que realizavam nas estradas das províncias de Salta e Jujuy – no norte da Argentina – e em Neuquén, no sul. Os piqueteiros pediam comida e trabalho. Eles eram ex-integrantes da classe média das pequenas cidades do interior que dependiam das grandes estatais como a petrolífera YPF ou as Ferrovias Argentinas. Mas as privatizações da primeira metade dos anos 90 deixaram grande parte dessas pessoas sem trabalho. Com a fome assolando essas arruinadas cidades, começaram a surgir protestos espontâneos de desempregados, que, como modus operandi para pressionar o governo, decidiram bloquear estradas.

Durante o governo De la Rúa o fenômeno cresceu e chegou às grandes cidades. Nos anos seguintes, a modalidade do piquete deixou de ser exclusiva dos desempregados e foi absorvida por sindicalistas, integrantes da classe média e ruralistas (e até por fanáticos religiosos).

modus operandi mudou com o passar dos anos. No início, quando eram poucos, os piqueteiros bloqueavam estradas com pneus em chamas. Atualmente os bloqueios são feitos com “barreiras humanas” de diversas magnitudes.

Para o caso de piquetes feitos por “piqueteiros-habitués”, pertencentes a grupos sociais, os bloqueios podem contar com um acompanhamento musical de bumbos (instrumento clássico das mobilizações do peronismo e que nos últimos anos também foram usados por outros grupos políticos). O verso preferido (em caso de necessidade de cânticos de estímulo), prolongando as vogais “i” e o “e”, gritam em coro “Piiiii-queeee-teros, carajo!”

Os argentinos reservam os panelaços para grandes ocasiões. Mas, para protestar no cotidiano preferem os “piquetes”, isto é, o bloqueio de estradas ou ruas.

3 – Apagões e buzinaços, modalidades limitadas

Uma modalidade que volta e meia retorna na América Latina são os “apagões”, isto é, o ato de apagar as luzes para demonstrar que uma significativa porção da população está indignada com alguma coisa. Esta talvez seja uma das mais ilustrativas formas de protesto, já que durante um apagão é possível ver quais bairros de uma cidade apagaram suas luzes. Em 1996, os argentinos realizaram vários apagões em protesto contra a corrupção e o crescente desemprego no governo Menem. No entanto, esta modalidade possui uma limitação temporária, já que só tem efeito se realizada durante a noite.

Os buzinaços são outra modalidade para expressar a fúria contra um governo ou uma situação. Mas, requerem que as pessoas estejam sentadas em seus veículos. É eficaz, mas difícil de coordenar e os decibéis acabam sendo incômodos para os próprios manifestantes. Bater panelas está ao alcance de todos. Tocar uma buzina exclui os setores mais pobres, que não possuem automóveis.

4 – “Panelas populares”

As “ollas populares” (panelas populares) não têm a ver com os “panelaços”, mas sim com a distribuição – em uma data específica – de pratos de comida para pessoas pobres como forma de manifestação solidária, para indicar que um determinado governo federal, estadual ou municipal nada faz para combater a fome da população. Devido à possibilidade de comer nestas manifestações, o fluxo de pessoas é sempre significativo. Além disso, esta modalidade cria um vínculo entre o manifestante que alimenta e o alimentado. Este fenômeno cresceu na Argentina a partir do final dos anos 80, quando a hiperinflação assolava o país.

5 – Escraches, a manifestação personalizada

Nos anos 90 os argentinos desenvolveram a modalidade do “escrache” (escracho), que consiste em um protesto personalizado, realizada na frente das residências das pessoas-alvo. A modalidade foi usada com frequência por grupos de defesa dos direitos humanos que protestavam na frente da casa de ex-integrantes da ditadura militar (1976-83) que haviam conseguido escapar da Justiça graças às anistias. O objetivo era que a identidade da pessoa que havia cometido torturas, sequestros e assassinatos fosse conhecida por seus vizinhos. Nos “escrachos” entoam-se cânticos alusivos às mães dos supracitados, alguns epítetos, e eventualmente, o arremesso de objetos contundentes, tinta ou lama contra as janelas e paredes da residência. Os chilenos aplicam uma modalidade similar, denominada “funas”, que pretendem obter uma sanção social quando a punição jurídica foi esquivada.

6 – Sentados, contra Maduro

Desde 2014, os críticos do regime de Nicolás Maduro realizaram os mais variados tipos de protesto. Um deles é uma modalidade clássica mundial, as “marchas”. Isto é, caminhar por um trajeto pré-determinado até um ponto de concentração para realizar uma reclamação ou reivindicação. Completar o trajeto – ou não – dependerá do surgimento da polícia no meio do caminho, com intenções de descontinuar a marcha.

Outra modalidade é a dos “Plantones”, que consiste em sentar em algum lugar durante horas, em grupo, em sinal de protesto. Esta modalidade conta com a vantagem de não irritar a polícia, já que os manifestantes podem ser facilmente removidos, caso as forças de segurança assim desejarem. A modalidade – que tem um tom pacífico – também facilita a participação de crianças e idosos. Mas tampouco gera o mesmo impacto midiático de uma marcha.

7 — Guarimbas, símbolo da resistência venezuelana

Enquanto os “plantones” são pacíficos e podem ser rapidamente removidos (ou auto-removidos), uma modalidade que indica uma determinação maior de resistir são as “guarimbas”, denominação das barricadas realizadas em ruas ou avenidas. São o símbolo da resistência anti-Maduro. As “guarimbas” superam os “piquetes” argentinos, já que o formato venezuelano assemelha-se mais às barricadas realizadas na França durante a revolução de 1848, já que são altas e levam tempo para serem destruídas. O intuito é impedir a passagem de veículos das forças de segurança e de policiais (e não somente o de dificultar seu trânsito).

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Na Venezuela as manifestações contrárias a Maduro são reprimidas com violência

8 — Os tranques da Nicarágua

Enquanto os venezuelanos preferem realizar bloqueios de poucas horas nas ruas e avenidas, isto é, nos centros urbanos, os nicaraguenses optam pelos “tranques” (bloqueios) de vários dias de duração em estradas. A densidade dessas barricadas é de tal magnitude que, entre abril e julho, no apogeu dos protestos populares contra o presidente Daniel Ortega, as forças de segurança tiveram que usar escavadeiras para arrasar os “trancazos”.

Os “tranques” na Nicarágua possuem grande repercussão em toda a América Central, já que o fechamento das vias de transporte terrestre nicaraguense colapsa toda a região.

9 – Protesto gráfico

Os venezuelanos também contam com o “Pancartazo”, algo equivalente ao “faixaço”, já que “pancarta” é faixa ou cartaz com dizeres. O dia de um “pancartazo” é a jornada de colocar cartazes e faixas de protesto em todas as paredes possíveis. Uma espécie de overdose gráfica para expor uma situação ou indignação aos transeuntes (os pancartazos começaram também a serem usados gradualmente em cidades do interior da Argentina). Os venezuelanos também contam com a modalidade das “Vigílias nortunas”, manifestações feitas em silêncio à noite, concentrando-se em pontos específicos.

10 — Repressão, mas “informal”

A miríade de modalidades de protesto na América Latina também conta, na contra-mão, com vários formatos de repressão. Além da saraivada de cassetetes, balas de borracha e tiros de balas de chumbo disparados pelas forças de segurança formais, alguns governos que reprimem recorrem também às forças “informais” (quase sempre mais violentas, fortemente armadas). Esta repressão, na Venezuela, é exercida pelos “colectivos” chavistas, denominação dos paramilitares divididos em centenas de grupos dos mais diversos tamanhos (de dezenas a centenas de integrantes). Na Nicarágua, são as “turbas” sandinistas, militantes armados do partido governista, a Frente Sandinista de Liberação Nacional (FSLN).

11 — Em tempos de pindaíba, molotovs reconfigurados

Em 2017, durante as intensas manifestações populares contra o regime de Nicolás Maduro, os civis venezuelanos encontraram uma forma de tonificar suas marchas de protesto (e simultaneamente tentar conter a repressão policial) com os “Puputovs”, mistura de “Pupû” (forma infantil de se referir aos excrementos humanos) com “Molotov”, do coquetel Molotov, a famosa bomba incendiária caseira que se tornou popular em manifestações e guerras civis em todo o planeta, criada em 1940 pelos finlandeses para resistir à invasão da URSS. O nome, ironicamente, era uma referência ao ministro das relações exteriores soviético, Viacheslav Mólotov.

A “puputov” consiste em uma sacola de plástico cheia de excrementos que se arremessa sobre os policiais de Maduro para se defender da repressão. Outra alternativa é usar potes de maionese de 400 gramas que são arremessados contra os veículos da Polícia, como as “baleias” (veículos blindados que lançam jatos d’água e os “rinocerontes” (blindado que lança gás lacrimogênio).

A fedorenta “puputov” fazia os policiais vomitarem pelo cheiro que ficava em seus uniformes. A ironia é que a ideia dos puputov surgiu na Venezuela, onde a escassez de papel-higiênico assola os venezuelanos desde 2013. A vantagem econômica dos “puputovs”: o insumo é gratuito. Outro ponto, para rechaçar críticas sobre “imperialismo” e “influência estrangeira”: o insumo é 100% Made in Venezuela.

Por aqui no Brasil  o protesto que deixa todos em pânico, tanto governo quanto população é o dos caminhoneiros.  A maneira que eles agem pode até ser contestável, mas é sem dúvida umas das poucas classes que realmente podem ver atendidas as suas reivindicações de forma rápida em nosso país.

Seja qual for o  motivo, o mais importante é ter liberdade para soltar a voz,  apagar a luz, ou bater a panela, se você preferir…

Fonte: Site Revista Época (Globo.com)

Imagens: Reprodução Internet

Os 10 vulcões mais perigosos da América Latina

Os vulcões causam admiração e espanto. Promovem belas paisagens, mas ao mesmo tempo podem representar perigo. Por aqui no Brasil, não existem vulcões ativos porque o território brasileiro situa-se em uma área em que não há encontros entre placas tectônicas e é justamente nas áreas em que esse encontro acontece, que surge a grande maioria dos vulcões ativos do planeta.

Se por aqui não precisamos nos preocupar com esses poderosos agentes naturais, em outros países da América Latina, a situação é bem diferente.  A BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, listou  os 10 mais perigosos vulcões latino-americanos, confira a listagem abaixo:

1. Popocatépetl, México

Com 5.452 metros de altura, é um dos vulcões mais ativos – e, portanto, um dos mais monitorados – do México. Também conhecido com “Popo” ou “Don Goyo”, fica a 70 quilômetros da Cidade do México e uma erupção maior é capaz de afetar aproximadamente 25 milhões de pessoas.

Desde 1994, entrou numa fase de atividade com emissões de lava e explosões de cinzas. Em 2016, uma nuvem de cinza de 3 quilômetros de altura colocou em alerta o Estado de Puebla.

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Vulcão Popocatépetl – México – Reprodução Internet

2. Colima, México

É considerado o vulcão mais ativo do México. Nos últimos anos, expeliu fumaça e material incandescente várias vezes.

Com 3.280 metros de altura, fica entre os Estados de Jalisco e Colima. Entre 2015 e 2016, sua atividade provocou uma intensa nuvem de cinzas que forçou a retirada de comunidades vizinhas.

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Vulcão Colima – México – Imagem Reprodução Internet

 3. Turrialba, Costa Rica

Cravado no centro do país, Turrialba fica a 60 quilômetros de San José, a capital costa-riquenha. Em setembro de 2016, registrou sua maior erupção em décadas, espalhando uma nuvem de cinzas por aldeias locais.

Desde então, tem expelido, com frequência, cinzas, gases e material incandescente.

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 Vulcão – Turrialba – Costa Rica – Imagem – Internet 

4.  Galeras, Colômbia

Na Colômbia, o Galeras é um dos vulcões mais ativos do país. Em 1993, entrou em erupção e matou um grupo de cientistas e turistas que estavam dentro dele.

Durante os últimos anos, tem se mantido em atividade constante, mas com erupções pequenas, expelindo cinzas e fumaça ocasionalmente.

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Vulcão – Galeras Colômbia

5. El Nevado del Ruiz, Colômbia

Segundo o Serviço Geológico da Colômbia, ele apresenta uma atividade sísmica regular e também expele cinzas com frequência.

El Nevado del Ruiz, de 5.364 metros e localizado na zona cafeteira do país, provocou uma das piores tragédias naturais da história colombiana em 1985. Ele entrou em erupção e matou mais de 25 mil pessoas em Armero.

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Vulcão El Nevado del Ruiz – Colômbia – Reprodução Internet

6. Cotopaxi, Equador

O vulcão Cotopaxi tem 5.897 de altura e está localizado a 50 quilômetros ao sul de Quito, a capital equatoriana.

Apesar de a última grande erupção do Cotopaxi ter ocorrido em 1887, em 2015 ele lançou grandes nuvens de cinzas e colocou o país em alerta. Desde então, passou a ser um dos vulcões mais monitorados da região.

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Vulcão Cotopaxi – Equador – Reprodução Internet

7. Tungurahua, Equador

O Tungurahua tem 5.019 metros de altura e está a 180 quilômetros ao sul de Quito.

Ele se mantém ativo desde 1999, alterando períodos de relativa calma com outros de maior intensidade.

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Vulcão – Tungurahua – Equador – Reprodução Internet

8. Ubinas, Peru

O vulcão mais ativo do Peru fica no Departamento (Estado) de Moquegua, ao sul do país, e é vigiado constantemente pelo Instituto Geológico (Ingemmet). Entre 2006 e 2009, registrou seu último período de alta atividade, com explosões moderadas e expulsão de cinzas e fumaça.

Os gases tóxicos liberados nas erupções causaram danos significativos em plantações próximas ao vulcão. A cidade de Arequipa, com cerca de 1 milhão de habitantes, fica a 70 quilômetros do vulcão.

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Vulcão Ubinas – Peru Reprodução Internet 

9. Villarrica, Chile

No Chile, estima-se que existam cerca de 95 vulcões ativos.

O Villarrica, de 1.847 metros de altura, está localizado numa área turística ao sul do país. Ele é considerado um dos mais ativos do Chile. Depois de 15 anos sem registrar atividades importantes, ele entrou em erupção em março de 2015, espalhando cinza e lava a mais de 1 mil metros de altura.

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Vulcão – Villarica – Chile – Imagem Reprodução Internet

10. Calbuco, Chile

Depois de quatro décadas de calmaria, o vulcão Calbuco, no sul do Chile, entrou em erupção de forma inesperada em 2015.

A coluna de cinzas expelida pelo vulcão obrigou as autoridades locais a declarar alerta vermelho e a retirar mais de 4 mil pessoas dos arredores.

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Vulcão – Calbuco – Chile – Imagem Reprodução Internet 

Lindos né? Mas pra admirar bem de longe…. Rs

Fonte: Site BBC Brasil

 

 

Equador, o país da América Latina que mais recebe imigrantes

O mundo vive hoje uma crise de imigração muito grande. Seja na Europa, onde milhares chegam fugindo de guerras e da fome, seja na América do Norte, onde a cada dia centenas de pessoas arriscam a vida para  tentar entrar nos Estados Unidos em busca do sonho de uma vida melhor, a situação é dramática e muito triste. Nos últimos dias, o mundo assistiu horrorizado imagens de crianças vivendo em abrigos em situação muito precária e vivendo a pior das crueldades: a separação de suas famílias ao pisarem o solo da nação mais rica do mundo.

Se por um lado o governo Trump dá um péssimo exemplo ao mundo, por aqui na América do Sul, o Equador faz justamente o contrário: O país acolhe um total de 60.524 refugiados oficialmente dentro de suas fronteiras, uma cifra que supera a soma de pessoas que se encontram nessa situação em todos os demais países latino americanos juntos.

Tabela

“A América Latina sempre teve uma tradição de ser um refúgio, de acolher as pessoas que tem que sair de seus países. O Equador continua essa tradição já estabelecida de conceder asilo a quem necessita” – comentou ao site da BBC Mundo María Clara Martín,  representante da Agência da ONU para refugiados no Equador.

Martín considera que esse país aplica inúmeras boas práticas que podiam servir de exemplo não só aos países da região, mas também para o resto do mundo.

Razões

Como explicar que um país com menos de 20 milhões de habitantes acolhe mais  refugiados que outros  muito maiores como Brasil e México?

Martín assinala que um fator determinante  é a proximidade geográfica com a Colômbia. Até uns anos atrás, a situação complicada da Colômbia era a que mais gerava deslocamentos e os refugiados costumam sair para os países próximos da fronteira – afirma.

Como consequência disso, 98% dos refugiados em Equador são de nacionalidade colombiana.

“Essa é uma cifra histórica que se mantêm desde 1989”, indica a especialista ao destacar que os 2% restantes são compostos de afegãos, sírios, cubanos, venezuelanos, iraquianos, entre outros.

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Imagem: Reprodução Site BBC Mundo

Além de compartilhar fronteira com um Estado do qual procede um número grande de refugiados, há outras razões pela quais o Equador se destaca nesse âmbito.

Martín aponta que os equatorianos são sensíveis ao tema dos refugiados porque conhecem bem essa situação de desamparo, já que depois do ano 2000 saíram de forma massiva ao exterior.

Esta sensibilidade se traduziu agora na “Lei de Mobilidade Humana”  uma das mais avançadas do mundo, aprovada em janeiro de 2017.

“Essa norma materializa e torna muito mais efetiva essa tradição de asilo porque cria um marco legal que confere direitos, documentação e oferece soluções duradouras aos refugiados, que podem se nacionalizar depois de ter passado três anos no Equador”  – aponta Martín. Quem for acolhido no país nessas condições, tem direito a uma cédula de identidade igual a de qualquer equatoriano.

Isso evidentemente reduz a discriminação, mas também elimina um dos obstáculos que os refugiados tinham para ter acesso a diferentes serviços e inclusive ao trabalho. Antes eles tinham uma identificação de refugiados, mas nem todos os empregadores  a reconheciam – explica Martín.  

A especialista exalta alguns princípios fundamentais contidos nessa norma como o direito a unidade familiar e a não criminalização por causas de mobilidade humana.

“Essas são boas práticas  que  o Equador pode exportar ao mundo”, assegura.

Fonte: BBC Mundo

 

 

Mais uma do papa latino

O papa Francisco, o primeiro papa latino, é conhecido por seu  grande seu carisma e pela atenção que dá a todos por onde passa. Nesse primeiro mês de 2018, o Pontífice  esteve visitando o Chile e o Peru, onde foi recebido por milhares de pessoas. A viagem ao Chile foi bastante conturbada, marcada por protestos contra a Igreja em várias partes. Porém,  o fato que mais chamou minha atenção não teve nada a haver com violência, muito pelo contrário, esteve ligado ao amor:  Num gesto surpreendente, o Papa celebrou um casamento de dois comissários  durante um voo que ia de Santiago para Iquique.

Paula Podest Ruiz, de 39 anos, e Carlos Ciuffardi Elorriga, 41, contaram a Francisco que já tinham se casado no civil, e tinham programado o casamento no religioso em uma paróquia em Santiago, que ficou muito danificada no terremoto de 2010.  Devido as circunstâncias  adversas  não puderam celebrar  o matrimônio na ocasião. Após contar sua história ao Papa  eles perguntaram se ele abençoaria a união deles, mas o pontífice foi mais além. “Vocês querem que eu faça o casamento de vocês?”, indagou.

Apesar da surpresa da proposta, os noivos aceitaram e o Papa presidiu uma breve cerimônia na parte dianteira do avião. O presidente da companhia Latam, Ignacio Cueto, foi chamado para ser testemunha.

Como em qualquer casamento, Francisco abençoou as alianças e depois pediu a um dos cardeais que o acompanham para preparar a ata do matrimônio para que pudesse ser um evento com valor legal.

O porta-voz do Vaticano, Greg Burke, afirmou que a cerimônia é válida. “Tudo é oficial”, declarou.

Imagina só a emoção dos “noivos” com uma honra tão grande e inesperada!

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Fonte: Portal G1.

Por que o islã não cresce na América Latina como em outras partes do mundo?

O islã é a  uma das regiões mais populares do mundo, e está muito presente nos noticiários muitas vezes, infelizmente, relacionada a notícias negativas como atos de terrorismo, que refletem o extremismo de uma pequena parte de seus adeptos. Atualmente é uma das religiões que mais cresce no mundo. Espera-se que, até o final do século, ela ultrapasse o cristianismo para se tornar a religião com o maior número absoluto de fiéis do planeta.

Na América Latina, contudo, o aumento do número de seguidores do Corão não acompanha o ritmo registrado em outras partes do mundo.

Estudo feito pelo Centro de Pesquisas Pew, dos Estados Unidos, aponta a América Latina como a única região onde a taxa de crescimento da população estimada para 2050 supera com folga o aumento de muçulmanos.

O levantamento prevê que, entre 2010 e 2050, a região tenha uma população 27% maior e um incremento de 13% no número de seguidores do islã. Nesse mesmo período, o número de muçulmanos deve crescer 73% em todo o mundo, enquanto o crescimento populacional deve ser de 35%.

Intitulado O Futuro das Religiões do Mundo, o estudo prevê que, em 2050, o número de muçulmanos no mundo será “quase igual” ao de cristãos, e que, “mantidas as tendências demográficas atuais, o número de muçulmanos deverá ultrapassar o de cristãos até o final do século”.

No que concerne América Latina e Caribe, o estudo usa dados de 19 países. Ele estima em 940 mil a população de muçulmanos na região para 2050, número inferior à quantidade de seguidores do islã registrada em 2010 em países como Espanha ou Itália.

O que explica o fato de o islamismo ser menos popular entre os latino-americanos? Veja abaixo, três aspectos que explicam tendência:

1. Poucos fiéis e pouco apelo a imigrantes

A América Latina é considerada uma região única porque abriga uma fração mínima dos cerca de 1,6 milhão de muçulmanos no mundo e não registra um intenso fluxo migratório de pessoas procedentes de países onde o islã é a principal religião.

“Estimamos que em 2010 eram 840 mil vivendo em todos os países da região, incluindo o Caribe”, disse à BBC Conrad Hackett, demógrafo e diretor associado do Centro de Pesquisas Pew.

Segundo Hackett, não há nenhuma evidência de que o mesmo fenômeno observado nos EUA e no Canadá, onde a imigração impulsiona o crescimento do islã, esteja se repetindo em países latino-americanos.

Aumento da população muçulmana para 2050

  • Estados Unidos e Canadá 179%
  • África subsaariana 170%
  • Oriente Médio e Norte da África 74%
  • Europa 63%
  • Ásia-Pacífico 48%
  • América Latina 13%

“Na América do Norte, a população muçulmana não é muito numerosa, mas vemos uma tendência migratória em curso com grandes quantidades de pessoas chegando de países onde a maioria segue o islã. Nem todos os imigrantes são muçulmanos, mas eles são maioria”, explica o demógrafo.

Hackett diz que os EUA e o Canadá atraem imigrantes não apenas por oferecer melhores oportunidades econômicas, mas também porque têm programas para acolher refugiados e, no caso dos EUA, loteria de vistos. Em 2018 serão distribuídos, por seleção aleatória, 55 mil vistos de imigrantes a pessoas que nasceram em países com baixas taxas de imigração para os EUA.

O demógrafo admite que, por motivos econômicos, o fluxo migratório pode mudar e transformar a América Latina em destino de muçulmanos. Contudo, ele afirma que, até o momento, não há nenhuma evidência de que isso acontecerá no mesmo volume já registrado na América do Norte.

2. Conversões

O aumento de muçulmanos pode ser impactado pelo número de pessoas que se convertem ao islã.

Mas, segundo o levantamento, não há evidência robusta de que muitas pessoas estejam trocando suas religiões pelo islã na América Latina e no Caribe.

“Poderia fazer diferença se muita gente na região estivesse mudando de religião. Por exemplo, pessoas que cresceram católicas, mas se sentiram atraídas pelo islã e se convertem. Mas não há evidencia de que seja um fenômeno importante”, argumenta Hackett.

O especialista observa que trocas de religião na região ocorrem com mais vigor dentro do próprio cristianismo, com católicos passando a ser evangélicos.

“O pentecostalismo está crescendo mais rápido que o conjunto da população [na América Latina]”, afirma Hackett.

Mesquita em Palermo Buenos aires
Mesquita em Palermo Buenos Aires – Argentina

3. Número de filhos

O crescimento do islã é impulsionado também pelo alto número de filhos de muçulmanos, sua alta taxa de fecundidade.

“Na África, onde islã é muito forte, cada mulher tem 4, 5 ou 6 filhos, o que acelera o ritmo de crescimento da população tanto no caso dos muçulmanos quanto dos cristãos. Mas, na América Latina, ainda que a região já tivesse mostrado taxas elevadas no passado, em muitos países, as mulheres estão tendo 1, 2, 3 filhos”, aponta Hackett.

Para ele, é uma taxa relativamente modesta e não há evidências que indiquem que muçulmanas latino-americanas tenham mais filhos. Ele pondera, contudo, que suas estimativas são conservadoras, e que talvez a taxa de fecundidade entre as muçulmanas na região seja um pouco mais alta que a média.

Países da América Latina com mais muçulmanos

(números correspondentes a 2010)

  • Argentina 400.000
  • Venezuela 90.000
  • Brasil 40.000
  • Panamá 30.000
  • Colômbia 10.000
  • Honduras 10.000

“A Argentina é o país da América Latina com maior número de seguidores do islã, mas não temos dados específicos sobre a taxa de fecundidade dos muçulmanos. Muitas vezes, quando um grupo de religiosos é muito pequeno, o censo não tem dados e fica difícil saber quais são suas características”, observa o demógrafo.

No Brasil, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizou 35 mil seguidores do islã em todo país, mediante uma população total de 190,7 milhões, no censo de 2010. Um terço dos muçulmanos no censo estaria na região metropolitana de São Paulo – e muitos deles são convertidos.

Os números do IBGE para o Brasil, aliás, não seguem necessariamente as tendências para a região apontadas pelo Pew. Enquanto o centro americano prevê um crescimento de 13% na população muçulmana na América Latina entre 2010 e 2050, o IBGE diz que o número de muçulmanos no Brasil cresceu 29,1% de 2000 a 2010.

Mas, para Hackett, a América Latina com um todo tem uma população muçulmana tão pequena que, mesmo se houve uma grande onda de imigração de seguidores do islã na região, levaria um tempo para que ela passasse a crescer num ritmo maior que o do aumento da população total, como acontece em outros países, especialmente na Europa e na Ásia.

Fonte: BBC Brasil

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