A maioria dos brasileiros que visitam a Argentina escolhe Buenos Aires, Bariloche ou Mendoza como destinos. Não suspeitam que, no noroeste do país, descortina-se um cenário de paisagens impressionantes que exaltam os sentidos. Na fronteira com os vizinhos Chile e Bolívia, estão as províncias de Salta e Jujuy, as novas apostas do turismo argentino.
A partir de julho deste ano, a companhia aérea Aerolíneas Argentinas vai inaugurar três frequências semanais e diretas de São Paulo para Salta, a porta de entrada da região. O lançamento foi feito, na feira de turismo WTM Latin America, e contou com a presença do ministro de Turismo e Esportes da província de Salta, Mario Peña.
Essa região tem paisagens muito singulares: salares brancos que espelham o céu, colinas coloridas como o arco-íris, cactos gigantescos, caminhos incas, rochas esculpidas pela ação da água e do vento, a Rota do Vinho mais alta do mundo, trem turístico, comunidades indígenas, cidades coloniais de influência espanhola e uma culinária variada e requintada.
Porta de entrada
Salta – que leva o mesmo nome da província e está 1.259 m acima do nível do mar – é uma cidade para ser explorada a pé. Na praça 9 de Julho, estão edifícios icônicos, como a Catedral, o Cabildo (prefeitura) e o Museu Arqueológico de Alta Montaña, cujo acervo exibe rotativamente três múmias de crianças incas descobertas no vulcão Llullaillaco em 1999.

A uma quadra da praça está um cartão-postal da cidade, a igreja de São Francisco, além do Museo Güemes. Para ter uma panorâmica da cidade, deve-se subir o teleférico Cerro São Bernardo (150 pesos por pessoa), que leva ao topo da colina homônima. Há, ainda, no alto, uma belíssima cachoeira artificial e cênica, que corre por toda a extensão do morro.
Rota 68
De Salta até Cachi, pela Rota 68, há pelo caminho belezas dignas de uma paradinha para foto: a Cuesta del Obispo, que o bispo de Tucumán utilizou para descansar durante a viagem em 1600; a Piedra del Molino, onde está a capela de San Rafael, no ponto mais alto da estrada, a 3.457 m; a Quebrada de Escoipe; o Parque Nacional Los Cardones, um “mar” de cactos gigantes; e a Recta del Tin-Tin, na qual se vê parte da trilha inca que ficava no país.

Cachi é rodeada de montanhas da cordilheira dos Andes de mais de 5.000 m de altura. Foi fundada no século XVI, tendo sido o lar da aristocracia colonial. Na cidade, o ponto principal é a praça 9 de Julho com a rústica e pitoresca igreja San José de Cachi, que surpreende pela sua autenticidade e simplicidade, e o Museo de Arqueología Pio Pablo Díaz, com um vasto patrimônio arqueológico de itens datados de diferentes períodos históricos.
Quebradas
Saindo de Cachi, pela Rota 40, passa-se pelo Valles Calchaquíes, com 2.000 m de altitude. O destaque é o Camino de los Artesanos, onde há uma gama de lojas de artesanatos locais, casas de chá e galerias de arte. Não se pode deixar de conhecer os povoados de Seclantás, Molinos e Angastaco, este último onde se localiza a famosa Quebrada de las Flechas.

Explicando: o turismo nessa região se dá por meio de suas quebradas, que são vales com depressões formadas pela erosão do vento e da chuva. Esses desfiladeiros são monumentos naturais, cuja origem remonta a 15 milhões ou 20 milhões de anos. Las Fechas tem rochas pontiagudas, de até 20 m de altura. O ideal é visitar essas quebradas no pôr do sol.
Cafayate
Cafayate é o ponto final da viagem. A cidade, a 160 km de Cachi, surpreende pela beleza do desfiladeiro homônimo e pela produção de vinho de uva Torrontés. A região é o segundo maior centro de produção de vinhos na Argentina e tem a Rota do Vinho mais alta do mundo. Há vinícolas que podem ser visitadas, como El Porvenir, Vasija Secreta, a mais antiga, e Bodega Nanni.

O coração da Cafayate é a praça 20 de Fevereiro, com a Catedral Nossa Senhora do Rosário e o Mercado Municipal. Nas proximidades está o Museo de la Vid y el Vino, que expõe de maneira dinâmica e interativa a origem do vinho. Uma boa dica é se hospedar em Viñas de Cafayate Wine Resort, ao pé da colina e com vista deslumbrante dos vinhedos.
No final da tarde, um passeio inesquecível é uma cavalgada na região de Los Médanos. A 8 km do centro da cidade, é um lugar que surpreende: entre vales, vinhedos, montanhas, casas e campos de golfe, surgem também dunas de areia branquinhas, como se estivéssemos perto da praia. A explicação é simples: há milênios, a região já foi um oceano.
Garganta del Diablo
De volta a Salta, pela mesma Rota 68, está a Quebrada de las Conchas, um vale em tons avermelhados e alaranjados. Nessa região, há formações esculpidas pela natureza na rocha, entre os destaques a Garganta del Diablo, paredões de rochas que lembram uma garganta, e Anfiteatro, uma abertura estreita entre dois penhascos que oferece uma boa acústica. No mirante Tres Cruces, pode-se ver todos os Valles Calchaquíes.
Uma observação curiosa: a Garganta del Diablo virou uma parada obrigatória para uma selfie dos turistas depois que o atrativo apareceu em uma cena do longa-metragem “Relatos Selvagens”, no episódio surreal e cômico dos dois motoristas que brigam até seus carros despencarem da ponte.
Trem das Nuvens
Saindo de Salta pela Rota 51, na direção de Puna, passa-se pelas cidades de Campo Quijano, conhecida como “Portal dos Andes”. Esta é a última cidade antes da Quebrada del Toro, um lugar de colinas coloridas, cactos gigantes e vista maravilhosa. No caminho é indicado tomar um café da manhã em El Alfarcito, pequena comunidade rural pelo caminho.
De volta à estrada, o viajante continua até San Antonio de los Cobres, passando pela Quebrada de las Cuevas. É nessa pequena cidade que se pega o Trem das Nuvens. O passeio de uma hora não é barato (6.800 pesos) e passa pelo viaduto La Polvorilla, 4.200 m acima do nível do mar, uma das obras mais imponentes da engenharia do século passado.

Desce-se do trem nesse ponto para conhecer o lugar e, 30 minutos depois, retorna-se a San Antonio. Se não quiser retornar, é preciso pegar um ônibus para Salta. A linha foi criada para levar e trazer cobre entre Salta e Antofagasta, no Chile, mas hoje carrega turistas. A viagem acontece às terças, quintas e sábados e cruza 29 pontes, 21 túneis e 13 viadutos.
Espelho do céu
A 90 km de San Antonio pela Rota 40, estão as Salinas Grandes, a 3.600 m de altitude, um deserto de sal relativamente pequeno se comparado ao boliviano Uyuni. Em época de chuvas, forma uma lâmina de água de 30 cm que espelha o céu. Dentro do salar, há uma proposta de hospedagem de dormir em um “glamping”, uma espécie de camping com conforto.

Depois de conhecer as Salinas, a parada obrigatória é no pitoresco Purmamarca, que significa “Cidade da Terra Virgem” na língua quéchua. O vilarejo – Patrimônio da Humanidade pela Unesco – tem arquitetura pré-hispânica e no passado foi lugar de parada do caminho inca. O destaque ali é o impressionante Cerro Siete Colores.
Humahuaca
Seguindo ao norte de Salta, na província de Jujuy, pela Rota 52, chegamos à Quebrada de Humahuaca, que guarda o assentamento indígena de Humahuaca, a cidade de Uquia e a cidadela Tilcara, com as ruínas de Pucará – o mais importante sítio arqueológico da Argentina revela a história do povo que ali viveu, os Humahuacas, ainda no século XII.

Em Uquia, a igreja de São Francisco de Pádua, construída em 1691, é monumento histórico nacional desde 1941 e exibe únicas coleções de pinturas feitas no século XVII por indígenas da Escola Cusquenha. De Uquia é possível fazer passeios à Quebrada de las Señoritas, rochas de tons cinza, azulado e esverdeado formadas por arenito vermelho e argila.
Na WTM
“Temos montanhas coloridas, como Cerro Siete Colores, em Purmamarca, e as Salinas Grandes, onde há glampings de luxo que permitem passar a noite. Na maioria, os nossos hotéis são pequenos e com atenção individualizada. Estamos com os braços abertos para receber os turistas”, afirma Diego Valdecantos, secretário de Turismo da província de Jujuy na feira WTM Latin America.
Culinária
O noroeste argentino utiliza-se muito de grãos, como feijões, lentilhas e milho, na culinária. Os pratos típicos vão desde as empanadas fritas e assadas até os tamales (massas de milho com recheios) e as humitas (cremes salgados de milho).

Pratos como o “locro” (mistura de feijão-branco com carnes, milho, abóbora, batata e pimentão) e as “tortilhas a la parrilla” (massas feitas de farinha, manteiga e sal na brasa) podem ser encontrados em qualquer esquina.
E você, ficou com vontade de conhecer essa região incrível da Argentina? Surpreendente, ¿verdad?
Fonte: Site Jornal “O Tempo”.