2020, o ano em que morre um ídolo e nasce uma lenda

No último post do blog em 2020, vamos fazer uma homenagem a uma das maiores personalidades latinas de todos os tempos, que nos deixou este ano: Diego Armando Maradona. O texto a seguir é do poeta gaúcho, Fabrício Carpinejar.

O velório de Maradona

Os argentinos sabem doer. Sabem fazer um morto se sentir importante. Sabem homenagear os seus heróis. Sabem se despedir com música e langor. Sabem expor a paixão de seu sofrimento. Sabem se desesperar. Sabem uivar aos céus, com os lobos de suas lágrimas.

Nunca se testemunhou uma comoção nacional tão grande desde o velório de Evita Perón. Maradona é capaz de superar as duas milhões de pessoas nas ruas de 1952. E isso no meio de uma pandemia. Ele morre e continua jogando futebol, ele morre e continua arrastando multidões para vê-lo. Não é um homem, mas um estádio.

Por mais frio e indiferente que qualquer um seja, não existe como não se arrepiar, mesmo quem não gosta do esporte ou quem cultivava ressalvas sobre o posicionamento político de esquerda do craque ou quem apontava os seus problemas pessoais, como as drogas e seus casamentos acidentados. É uma demonstração monstruosa de fé na eternidade que só é testada com a morte.

Como diz o escritor argentino Roberto Fontanarrosa, “não me importa o que Maradona fez com a vida dele. Eu me importo com o que ele fez com a minha”.

Ele transformou corações, garantiu ao seu povo sofrido e massacrado por golpes militares e sucessivas inflações a possibilidade de ser feliz por noventa minutos. Ele venceu uma Guerra das Malvinas paralela dentro do campo, deixando os adversários ingleses no chão e trazendo uma Copa do Mundo para casa. Ele saiu de um bairro pobre de Buenos Aires, privado de luz, com a eletricidade de suas próprias pernas. E pensar que ele não jogava futebol para se exibir, mas para sobreviver – na infância, disputava campeonatos para conseguir um refrigerante e um sanduíche.

Maradona superou a pobreza através do futebol.

A magia nos gramados começou cedo demais. Não teve tempo de ser adulto. Estreou profissionalmente aos 15 anos – El Pibe de Oro -, com uma inacreditável habilidade de girar e mudar a sua direção e a sua velocidade. Driblou a miséria, enganou sucessivos escândalos, recomeçou sempre. Foi um exemplo de sinceridade passional, com as suas glórias e pecados, não querendo nunca ser um modelo para ninguém. Mantinha a consciência de que custava muito sangue ser Maradona todo o dia.

Dom Diego é a maior celebridade da Argentina de todos os tempos. Nem a política, nem a religião produzirão um ídolo igual.

Na sua lápide, constará: Obrigado, bola!

E a bola responderá: Eu que agradeço, eu não sou a mesma desde que você me amou.

Fonte: Facebook

Maradona, by Kusturica

No último dia 30 de outubro, o maior craque de futebol da Argentina, e um dos maiores do mundo em todos os tempos, completou 60 anos. Para homenagear este gênio indomável, o blog indica hoje um dos melhores materiais já feito sobre ele, o documentário: Maradona by Kusturica.

O filme dirigido pelo sérvio Emir Kusturica mergulha na intimidade do astro e nos faz conhecer melhor Diego. O diretor estabelece uma amizade com o Pibe de Oro, e dessa forma, as entrevistas selecionadas para o filme, são muito espontâneas. O astro comenta sobre as dificuldades que viveu na infância, seu senso de justiça social, sua predestinação a ser uma estrela do futebol, além de relatar suas maiores culpas e arrependimentos.

Kusturica nos mostra todo o carisma de Maradona e sua genialidade em campo, além de ressaltar seu lado humano, naturalmente fragilizado. Você vai se divertir ouvindo as histórias sobre o famoso gol com “La Mano de Dios” e com os rituais da Igreja Maradoniana.

A trilha sonora também é uma delícia, 🎼 click abaixo para conferir o filme e não deixe de ativar as legendas 😉

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