O incêndio que devastou o Museu Nacional no início do mês foi um golpe duro, não só para o Brasil, mas para todo o continente e para a humanidade em geral. O edifício histórico que era vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, contava com o maior acervo de História Natural e Antropologia da América Latina, sendo um dos cinco maiores do mundo. Eram mais de 20 milhões de itens catalogados. O acervo do museu foi formado ao longo de mais de dois séculos por meio de permutas, aquisições e doações. Possuía coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia, antropologia biológica, arqueologia e etnologia – uma riqueza de relevância incalculável.
Entre seus principais tesouros estavam a primeira coleção de múmias egípcias da América Latina e o Bendegó, o maior meterioto já encontrado no Brasil – encontrado no sertão da Bahia no século 18 que pesa mais de 05 toneladas. O fóssil de Luzia, que revolucionou as teorias da chegada dos primeiros homens à América, possuindo assim um valor inestimável, assim como o esqueleto do primeiro dinossauro de grande porte montado no Brasil, também era parte da coleção local. A história dos povos indígenas também faz parte do acervo do museu com, por exemplo, uma coleção de trajes usados em cerimônias dos índios brasileiros há mais de cem anos.

O Museu Nacional foi residência da família real portuguesa, sendo o local de nascimento de D. Pedro II. O documento que selou a Independência do Brasil foi assinado ali pela princesa Leopoldina em 1822.
Com tanto valor histórico e cultural, chega a ser assustador e inacreditável o fato do Museu estar tão abandonado, a ponto do incêndio que praticamente arruinou com todo o acervo, ser considerado uma tragédia anunciada. Prova do descaso total das autoridades é o fato do último presidente a ter visitado o local ter sido Juscelino Kubistschek a mais de 50 anos atrás.
E pensar que o investimento que poderia ter mantido nossa história viva nem era tão alto assim: Por pouco mais de meio milhão de reais por ano o incêndio poderia ter sido evitado.
O sentimento que tomou conta de todos, principalmente dos apaixonados pela arte e cultura, foi o de desânimo total: Que futuro podemos esperar de um país que não valoriza sua História?
As notícias que se seguiram após a tragédia faziam cada vez a sensação de desânimo aumentar: Soubemos que o governo gasta somente com um deputado mais do que com a segurança do maior museu do país. Outro fato triste que tivemos conhecimento é que no ano passado o Museu do Louvre em Paris recebeu mais visitantes brasileiros do que o nosso Museu Nacional. São fatos que revelam o quão longe estamos de valorizar nossa cultura e como o Brasil despreza suas próprias riquezas. Não adianta culpar só a população pelo baixo número de visitantes: faltou investimento por parte do governo, não só em infraestrutura, mas também em divulgação. Assistir as reportagens mostrando como os museus são valorizados nos países desenvolvidos, fez ressurgir aquele velho complexo de vira-latas e até uma mesmo uma certa vergonha de ser brasileiro.
Depois de ver as imagens de tantas preciosidades se reduzirem a pó, fica a sensação de vazio e impotência. Não resta muita coisa a fazer a não ser lamentar por não ter havido uma mobilização para salvar o Museu antes que fosse tarde demais.
Se para o Nacional, não há muito o que fazer, pelo menos um grande legado ele pode deixar para o Brasil e para toda a América Latina: a conscientização sobre a importância da preservação dos edifícios históricos. Remediar, em casos como este, realmente não dá: Ou se conserva o que tem ou se perde tudo que a natureza levou milhares de anos para preservar, em poucos minutos.
A tragédia do dia 02 de setembro de 2018 não pode ser esquecida. Deve ser lembrada a cada ano com tristeza e principalmente com ação. O que nos resta agora é tentar renascer nossas esperanças em meio às cinzas.
Fonte: Portal G1