Duas noites que nunca vão acabar

No último dia 27 de janeiro, se completou 10 anos de uma das maiores tragédias brasileiras: o incêndio da Boate Kiss. Para evitar que algo tão triste e revoltante se repita é fundamental que o fato não caia no esquecimento e a mídia, sem dúvida, é uma grande aliada nesse sentido. Para marcar uma década da tragédia, duas grandes plataformas de streaming lançaram uma série sobre o tema: “Todo dia a mesma noite” pela Netflix e “Boate Kiss” a tragédia de Santa Maria, pela GloboPlay. Apesar do assunto ser o mesmo, as abordagens são diferentes: a produção da Netflix é uma obra ficcional baseada no livro da jornalista Daniela Arbex, que leva o mesmo nome da série, já a obra da Globo Play é uma série documental, dirigida pelo jornalista Marcelo Canellas, com relatos reais de sobreviventes, amigos, familiares, réus, entre outros envolvidos diretamente no acontecimento.

Eu, particularmente, gostei bastante das duas séries, e acredito que vale a pena assisti-las para se ter uma percepção mais aprofundada sobre ângulos diferentes, apesar de alguns momentos serem muito duros para acompanhar em ambas as produções… A série da GloboPlay me chamou a atenção, especialmente, por um fato específico: a equipe da Globo foi até a Argentina para contar uma história extremamente semelhante à tragédia de Santa Maria e que eu nunca tinha ouvido falar: o incêndio na boate República Cromañón, localizada em Buenos Aires, no dia 30 de dezembro de 2004.

A tragédia argentina também foi consequência do lançamento de um equipamento pirotécnico utilizado por um dos integrantes da banda que se apresentava no local naquela noite, a Callejeros. Ao entrar em contato com o teto composto de material inflamável, começou um incêndio que vitimou quase 200 pessoas fatalmente e deixou feridas outras 1.432. Antes da tragédia de Santa Maria, esse era o incidente em casa noturna que mais contabilizava vítimas em toda a América Latina. Foi inevitável pensar, que sabendo que algo tão grave já havia acontecido no país vizinho, a tragédia em Santa Catarina poderia ter sido evitada se houvesse mais consciência pelos responsáveis pelo funcionamento da boate, autoridades municipais e também pelos integrantes da banda que se apresentou naquela terrível noite na Kiss.

Na série documental da GloboPlay podemos ver como as famílias argentinas e brasileiras se uniram para combater a dor de perder seus entes queridos e também para clamar por justiça.

Fonte: Portal Uol Notícias

Half time

Sabe aqueles artistas que você se lembra de ser fã, desde sempre, mas quando conhece sobre a vida da pessoa, um pouco mais a fundo, se torna ainda mais fã? Foi exatamente assim que me senti depois de assistir ao documentário sobre a musa latina Jennifer Lopez na Netflix. “Half Time” mergulha nos bastidores da vida da estrela pop no momento em que ela está completando 50 anos e se prepara para uns dos maiores desafios de sua carreira: fazer o show do intervalo do SuperBowl, o maior evento esportivo dos Estados Unidos e um dos maiores do mundo.

O nome do documentário, “Half Time”, além de fazer clara referência ao show do intervalo da final do campeonato de futebol americano, também dialoga com a vida pessoal de JLO, que chega à meia idade em plena forma e cheia de planos. Em uma de suas falas no filme, ela diz que sente que sua vida está apenas começando – uma evidente prova da energia e determinação contagiante que ela tem. Quem a vê falar assim, talvez não imagina que ela já traçou um vasto caminho, desde os tempos de bailarina no Bronx, em sua cidade natal, Nova York, até se tornar uma grande estrela da música pop mundial e também de Hollywood.

Durante o filme, percebemos como foi constante a luta de JLO para ser valorizada por seu trabalho e não somente por suas curvas esculturais. Ao fim, percebemos que ela finalmente parece ter conseguido esse objetivo, apesar de que ainda o preconceito por ser mulher e latina, na maior potência do mundo, ainda é algo presente, infelizmente.

Justamente essa questão da luta contra o preconceito é um dos pontos centrais de “Half Time”, já que ao ser escolhida para o evento do SuperBowl, juntamente com a colombiana Skakira, Jennifer fez questão de não apenas entreter, mas também transmitir uma mensagem importante ao público: os latinos também são parte dos Estados Unidos e não são uma parte inferior, muito pelo contrário, são um dos pilares da nação e por isso todos devem ter orgulho de sua origem.

Além de conhecermos o esforço dela para produzir um show inesquecível no Super Bowl, na produção da Netflix mergulhamos um pouco na vida pessoal de JLO, especialmente na sua relação com seus pais e filhos, principalmente com a filha, que demostra ser um companheira inseparável e um porto seguro para a mãe famosa.

Mesmo que você não seja tão fã como eu sou, vale muito a pena assistir esse documentário que propõe muitas reflexões acerca de temas importantes, como o protagonismo feminino e o papel da mídia e de Hollywood na manutenção de estereótipos, além de outros pontos interessantes que se relacionam à história dessa grande mulher que ousou ser o que ela sonhou: uma artista verdadeiramente completa…

La casa onde nem tudo são flores

Hoje o blog vai dar uma dica de série, pra quem é fã de uma drama mexicano com um toque de comédia. “La casa de las flores” é uma ótima opção pra quem busca um entretenimento que foge ao padrão. A série mexicana, produzida pela Netflix, tem 03 temporadas que você consegue assistir rapidamente, já que os episódios tem duração média de 30 minutos. A história se passa ao redor dos segredos da família De La Mora, uma das mais respeitadas e tradicionais da cidade. A boa fama do clã, porém, já começa a ir por água abaixo logo no primeiro episódio, quando um grande segredo do patriarca Ernesto é revelado. E daí por diante, os mistérios não param de ser desvendados, culminando nas revelações mais inusitadas que acontecem na última temporada, em surpreendentes flashbacks.

Um dos acertos do diretor Manolo Caro é retratar assuntos muito importantes e atuais como a luta contra a homofobia e a transfobia, contando com um elenco de primeira, como a maravilhosa Cecília Suárez, que dá vida à marcante Paulina De La Mora. A abertura da série é um show à parte, enredando a história dos personagens com as flores que são também nomes dos episódios, tudo muito bem pensando pra envolver quem assiste. Embora o enredo caia um pouco de nível na segunda temporada, vale muito a pena ficar ligado em “La casa de flores” para ir desvendando os segredos dos imprevisíveis De la Mora… 🌹 🌹 🌹

Imagem: Divulgação Netflix

O meteoro “La Bamba”

Existem músicas que parecem ser feitas para serem eternas. “La Bamba“ seguramente é uma delas. A melodia do folclore mexicano conquistou o mundo através da performance de vários artistas.

Sem uma gravação específica, a canção já era extremamente popular em seu país natal, mais especificamente no estado de Veracruz. As versões originais combinavam elementos da música espanhola, indígena e africana e sequer tinham uma letra definida.

Com o passar do tempo, a divertida faixa passou a ser gravada por diversos artistas que ajudaram a impulsionar seu reconhecimento. As diferentes versões incluem os toques pessoais de nomes como Trini Lopez, Harry Belafonte, Los Lobos, entre outros…

A versão que vou destacar neste post é a de um jovem roqueiro californiano, de ascendência latina. O ano é 1958 e o rock, com grande base em elementos do blues, ganhava popularidade enquanto um gênero de música juvenil. Um dos pioneiros neste movimento foi o cantor norte-americano Ritchie Valens.

Valens, orgulhoso de suas raízes mexicanas, adaptou “La Bamba” para a estética dançante do rock n’ roll. Esta foi a primeira versão a sair do folclore mexicano para conquistar o mundo comercialmente. Não à toa, a canção permanece viva no imaginário musical não apenas do México, mas como de todo o mundo.

Se você tem acesso à Netflix, ou ao Youtube, pode conferir a cinebiografia desse grande astro da música. O emocionante e trágico enredo do filme “La Bamba” (1987) narra a história de vida do garoto Ritchie, que embora muito jovem, chamou atenção pelo enorme talento musical e pela voz marcante.

Com somente 16 anos, ele começou sua primeira banda, a The Silhouettes. O grupo fazia pequenas apresentações locais em algumas cidades próximas na Califórnia. Uma delas chamou a atenção do produtor Bob Keane, que presidia uma gravadora na época. Com sua ajuda, Ritchie acabou se tornando um sucesso com suas composições que misturavam rock e música latina. Em 1958, seu primeiro single “Come On, Let’s Go” se tornou um pequeno sucesso. Entretanto, foram as músicas seguintes que renderam grande fama ao cantor: a dançante “La Bamba” e a belíssima “Donna”, uma homenagem a sua namorada do colégio, Donna Ludwig.

O cantor morreu com apenas 17 anos, cerca de 8 meses após ter alcançado a fama, em um acidente de avião que também vitimou os músicos Buddy Holly  e J.P. Richardson. Posteriormente, a tragédia ficou conhecida como “o dia em que a música morreu” na canção “American Pie”, do cantor Don McLean.

Richard Steven Valenzuela nasceu em maio de 1941 em Pacoima, uma pequena cidade da Califórnia, próxima a Los Angeles. Filho de operários mexicanos, ele desenvolveu o gosto pela música desde pequeno, aprendendo a tocar uma série de instrumentos.

Após a fatalidade que tirou a vida jovem astro, a música “La Bamba” continuou sua trajetória e até hoje se mantém como essencial para a cultura da América Latina. “La Bamba” é descrita, por representantes da Biblioteca do Congresso dos E.U.A., como “culturalmente, historicamente e esteticamente relevante”.

Em 2004, a revista Rolling Stone  lançou uma edição especial em que elenca as 500 Melhores Músicas de Todos os Tempos. A lista conta com a versão de “La Bamba” de Ritchie Valens, que, por sinal, é a única música cantada em um idioma sem ser o inglês. A canção ocupa a 354ª colocação na lista, à frente de sucessos de artistas como Elton John, 2Pac e de nomes da época como Elvis Presley e Muddy Waters.

Ritchie Valens teve uma carreira meteórica que deixa marcas até hoje. Se você é fã de música boa, não deixe de conferir essa comovente e incrível trajetória 🎼

* Com informações dos sites: “Tenho mais discos que amigos” e “Globo.com”

Alguém tem que morrer

Se você quer compreender um pouco sobre como era a sociedade espanhola no período da ditadura franquista, não deixe de assistir a minissérie: “Alguém tem que morrer””, disponibilizada na Netflix. Ambientada nos anos 50, a trama apresenta a poderosa família Falcón, composta por Amparo (Carmen Maura), a matriarca da família, seu filho Gregorio (Ernesto Alterio), a esposa Mina (Cecilia Suárez) e pelo seu neto Gabino (Alejandro Speitzer). A reputação da família é posta à prova quando Gabino retorna do México acompanhado de um amigo bailarino, Lázaro (Isaac Hernández).

A série não perde tempo em estabelecer sua trama, a relação entre os personagens enquanto planta mistérios e intrigas suficientes para instigar o espectador a criar teorias sobre os segredos escondidos. Ao longo de seus três episódios, de aproximadamente 45 minutos, todo drama se desenrola. Quando a amizade de Gabino e Lázaro começa a ser questionada, o ponto central da história começa a se mostrar: O preconceito arraigado em uma sociedade extremamente conservadora e moralista. A família Falcón, que se destaca na alta sociedade, principalmente por seu favorecimento pelo governo e liderança conservadora da matriarca, não pode aceitar conviver com um filho homossexual.

Em uma época que a homossexualidade era tratada como pecado, doença e até mesmo crime, os “desviados” eram detidos e sofriam um “tratamento” a base de violência, sendo torturados em alguns casos até a morte. Alguém tem que morrer prova que certas coisas não mudam com o tempo. Infelizmente, muito do que é retratado na minissérie ainda, é visto nos tempos de hoje. Em um período que a religião era imposta através da cultura do medo, e a violência era exercida em nome da Igreja e do patriotismo. O conservadorismo e o poder militar ditavam as regras. Fica claro o discurso de “pátria limpa”, utilizando a religião para justificar o ódio, a violência e o preconceito no sentido amplo da palavra.

Através de seus temas, o enredo evidencia todos os problemas de uma sociedade conservadora e de um regime ditador. As tramas são movidas pela repressão e a violência. Algumas cenas são desconfortáveis e se tornam ainda mais dolorosas sabendo que ainda hoje acontece muito daquilo que é apresentado. A série chega a provocar uma certa revolta, ao refletirmos sobre como a imposição de padrões e regras comportamentais, podem causar inúmeros sofrimentos… Vale a pena conferir!

Fonte: mixdeseries.com.br

Toc, Toc

“De perto ninguém é normal” já diz o conhecido ditado popular. Todos nós temos nossas manias e jeitos peculiares de viver o dia a dia. Mas até que ponto nossos hábitos podem cruzar a linha da “normalidade” até se tornarem algo prejudicial?

“Toc Toc”, de Vicente Villanueva, diretor e roteirista espanhol, traz à tona, com muito humor, um assunto cercado de preconceitos, o transtorno obsessivo compulsivo (TOC).

Baseado na peça francesa de Laurent Baffie, o filme conta a história de seis pacientes que estão juntos em uma sala de espera para uma consulta com o Dr. Palomero, especialista em transtorno psicológico. A estressada secretária do consultório informa aos pacientes que, devido a um erro, todos tiveram seus horários marcados para a mesma hora. Além da confusão nos horários, o vôo de Palomero estava atrasado. Para se distraírem, os seis desconhecidos resolvem fazer uma terapia em grupo, lidando com seus problemas.

A ambientação é praticamente inteira dentro do consultório, exceto nos momentos de flashbacks. O filme é de baixo orçamento, mas o elenco consegue entregar atuações excelentes, dando a imersão necessária para o público. E, para os amantes de plot twist, o final do longa nos revela uma grande reviravolta. Sem dúvidas, uma obra que promove um pensamento crítico, abordando um assunto com pouco espaço dentro do cinema.

O filme nos faz refletir de uma maneira leve e divertida sobre os transtornos que acometem os personagens e nos leva a ter uma grande empatia sobre eles. A produção passa a mensagem de que conversar sobre o assunto e perceber que existem mais pessoas que sofrem de problemas semelhantes, é um grande passo para alcançar uma melhora na qualidade de vida de quem sofre desse mal e por que não de muitos outros males psicológicos também…

O que é o Toc – Transtorno Obsessivo Compulsivo?

Trata-se de um quadro de difícil manejo, marcado por pensamentos inconvenientes que invadem a cabeça sem aviso prévio. Eles são seguidos por um rito ou um comportamento repetido, que serve de escape para acalmar a mente. “É o caso do sujeito com um pavor irracional de bactérias que deixa de tocar em maçanetas e lava as mãos compulsivamente para não se contaminar”, exemplifica o médico Antônio Geraldo da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Apesar de afetar tanta gente, pouco se sabe sobre as origens do problema. “Acreditamos que ele seja o resultado da interação de uma falha genética com fatores ambientais”, conta o psiquiatra Leonardo Fontenelle, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Situações como traumas no parto, abuso nos primeiros anos de vida e até infecções estão associadas à gênese do transtorno.

O Toc no Brasil

Uma boa notícia é que o Brasil está na vanguarda científica e obteve avanços memoráveis no que se sabe sobre o transtorno. Em 2003, experts de diversas universidades se reuniram para formar um time voltado exclusivamente a pesquisar o TOC. Eles entrevistaram 1 001 portadores espalhados pelos quatro cantos do país.

A partir das informações, montaram o maior banco de dados sobre o tema do mundo. “Esse esforço coletivo já gerou mais de 50 artigos científicos e permite fazer conclusões certeiras que vão beneficiar diretamente essa comunidade”, comemora o médico Euripedes Constantino Miguel, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e fundador do consórcio.

Um dos principais achados foi a relação do TOC com uma série de distúrbios psiquiátricos: 68% dos respondentes sofriam ao mesmo tempo com depressão, 63% conviviam com quadros de ansiedade generalizada e 35% foram diagnosticados com fobia social. Ou seja: por aqui, ter mais de uma encrenca mental é regra, e não exceção, o que modifica o tratamento receitado.

“Os levantamentos ainda mostraram que um terço dos pacientes já teve desejos de se suicidar e 10% haviam efetivamente tentado se matar, o que reflete a gravidade desses pensamentos e comportamentos”, acrescenta o psiquiatra Ygor Arzeno Ferrão, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

É Toc ou não?

Mas como diferenciar uma pessoa com TOC daquela que apenas gosta das coisas devidamente organizadas? “Se os rituais começam a tomar tempo, interferem na qualidade de vida, atrapalham a capacidade de estudar e trabalhar ou geram angústia e solidão, é preciso buscar ajuda”, responde a psiquiatra Albina Rodrigues Torres, da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista. A preocupação se inicia quando eles ocupam mais de uma hora por dia e fazem o indivíduo se atrasar ou até desistir de seus compromissos.

E é aí que deparamos com outro dilema: a demora entre o início do transtorno e o seu diagnóstico. “A média é de dez a 14 anos para procurar o médico, o que faz do TOC a doença do segredo”, lamenta a psiquiatra Roseli Gedanke Shavitt, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Os gargalos são a falta de conhecimento dos próprios profissionais de saúde sobre a enfermidade e, mais uma vez, o estigma de ser tachado de “louco” numa sociedade que não encara as condições psiquiátricas com muito respeito. “O paciente compreende que suas atitudes são absurdas e os ritos desnecessários, mas não consegue deixar de segui-los”, esmiúça Roseli.

O Tratamento

A partir do diagnóstico, feito no consultório por meio de uma conversa e uma avaliação, o médico começa a traçar a rota de recuperação. “A primeira coisa a se fazer é a psicoeducação para explicar direitinho o que é o TOC, suas características e seus riscos”, diz a psiquiatra Maria Conceição do Rosário, da Universidade Federal de São Paulo.

Na sequência, vêm a terapia cognitivo-comportamental e os remédios da classe dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina, normalmente prescritos no combate à depressão. A união dessas duas estratégias em um tratamento de longa duração é a que costuma trazer os melhores resultados – cerca de 60% mantêm um bom controle com o esquema.

Para ter sucesso, é necessário abrir o olho para as doenças que seguem de mãos dadas ao transtorno, como a fobia social e a bipolaridade. “Algumas delas pioram se forem utilizados determinados medicamentos, o que demanda adaptações nas doses e na escolha do fármaco”, avisa o psiquiatra Pedro Antônio do Prado Lima, do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Não dá pra se esquecer da família nesse processo. Muitas vezes, os parentes participam dos rituais, pois sabem que desobedecer as regras do indivíduo desemboca em atritos. O correto seria não ceder a exigências e manias. “Ele até pode ficar ansioso ou agressivo, mas isso vai durar pouco. Se compactuar com as compulsões, todos se tornam reféns do TOC para sempre”, recomenda Ferrão.

A ajuda da família é muito importante para superar o problema.

O esforço de negar as vontades e agir com firmeza deve ser orientado pelo profissional de saúde. Ao longo das terapias, o paciente é incentivado a questionar seus pensamentos e modificar os comportamentos.

A ciência não está satisfeita e se debruça sobre uma lista grande de novas possibilidades terapêuticas. O mindfulness, técnica de atenção plena que se inspira em alguns conceitos da meditação, mostrou ótimo desempenho em pesquisas e surge como um potencial complemento aos comprimidos.

“Existem perspectivas sobre a neuromodulação, que estimula ou inibe regiões do cérebro com eletricidade ou ondas magnéticas”, vislumbra a psiquiatra Juliana Belo Diniz, do Hospital das Clínicas paulistano. Alguns apostam até na implantação de marca-passos e eletrodos na massa cinzenta para os casos que não reagem às alternativas disponíveis.

Porém, de nada vai adiantar essa batelada de tecnologias se as pessoas prejudicadas não puderem falar abertamente sobre o assunto e procurarem ajuda especializada.

Leda Sampaio, de 37 anos, não conseguia mais ficar sozinha com seus filhos após sofrer um trauma nove anos atrás. Depois de cinco anos de altos e baixos, buscou apoio e, hoje, se sente bem melhor. “Há uma vida toda nos esperando depois do TOC”, declara. Sábio conselho de quem viu, viveu e está vencendo suas próprias obsessões.

Fontes: portaldonic.com.br , saude.abril.com.br e Google Imagens.

Pepe, uma vida suprema

Há pessoas que nos lembram com sua postura que o mundo também se transforma com pequenos gestos. Em um momento de profunda crise e dúvidas em relação às lideranças latino-americanas, o popular ex-presidente José Mujica, ou Pepe Mujica, como é carinhosamente chamado, caminha na contramão. É um raro político que não depreciou essa prática.

Com seu voto de simplicidade, com seu desapego aos bens materiais e uma vida dedicada ao bem comum, tornou-se um símbolo, incômodo, não só para adversários, mas principalmente para seus aliados, de como a política deveria ser exercida.

É um desafio enorme documentar alguém tão coerente em suas escolhas. Como retratar um dos mais simpáticos e apaixonantes líderes políticos da história contemporânea, sem incorrer no risco de mitificá-lo? É curioso que este desafio foi encarado não por um latino-americano, mas por um sérvio, Emir Kusturica.

Kusturica, 65 anos, é um dos mais celebrados diretores de sua geração, autor de obras importantes como ‘Quando Papai Saiu Em Viagem De Negócios’(1985), ‘Vida Cigana’(1988) e ‘Underground – Mentiras De Guerra’(1995). Em paralelo aos seus filmes dedica-se também à carreira de músico, com sua banda The No Smoling Orchestra. Sua trajetória é repleta de prêmios e menções em festivais importantes, como Cannes, Berlim e Veneza, onde ‘El Pepe uma vida suprema’ foi exibido.

Retratar ídolos latino-americanos não é uma novidade para esse diretor. Antes, ele realizou uma cinebiografia de ninguém menos que Diego Maradona, o controverso craque, que alguns incautos consideram melhor que Pelé. ‘Maradona by Kusturica’ (2008) é um documentário divertido e afetivo, que nos aproxima do maior ídolo do futebol argentino, revelando suas fraquezas, sua visão de mundo, seu talento incontestável e a idolatria em torno de sua figura _ há até mesmo uma ‘Igreja Maradoniana’, formada por pessoas do mundo todo para celebrá-lo com a um Deus.

Assim como fez no seu filme sobre Maradona, em ‘El Pepe uma vida suprema’ (exibido na Netflix), Kusturica investe na intimidade de seu personagem para revelar seus segredos. A estratégia, aparentemente simples, é construir o documentário como um dia na vida de um homem singular. No entanto não é um dia qualquer.

É seu último momento na Presidência do Uruguai. Antes de chegar ao posto máximo, Pepe foi líder do grupo guerrilheiro Tupamaros, lutou contra a ditadura e, após ser atingido por seis tiros, passou treze anos preso, doze deles isolado do contato com outras pessoas (esse período é retratado no filme ficcional ‘A noite de doze anos’, obra premiadíssima de Álvaro Brechner, em exibição na Netflix).

Pois eis que em seu último dia na Presidência, Kusturica o encontra a cultivar a horta na modesta chácara em que vive, nos arredores de Montevidéu, a conversar com amigos e a tomar seu mate. É bonito ver a relação de cumplicidade com sua companheira de vida Lucía Topolansky, também líder política e ex-guerrilheira, que ficou conhecida no imaginário popular na ditadura por lutar ao lado de sua irmã gêmea. Um casal feliz de idosos, que vivem uma vida austera, mas rica de significados.

Nesse dia especial, Pepe conversa com Kusturica, com a esposa e com amigos e relembra sua trajetória: revela as dores da prisão, a importância do isolamento para sua reflexão sobre a sociedade, a decisão, em comum acordo com a companheira, de não ter filhos para dedicarem-se à política, e um sincero arrependimento por essa escolha.

Mujica e sua esposa Lucía Topolansky.

Pepe cultiva a terra com seu corpo frágil, enquanto ensina algumas crianças a plantar. O trabalho na terra é, no filme, uma metáfora sobre sua vida, mas também é concreto, material. Pepe até hoje se dedica ao cultivo de flores, atividade que exerceu por toda vida, em paralelo a suas atividades na guerrilha, no parlamento e na Presidência.

Quando saiu da prisão, ele levava consigo uma flor que plantara em um penico, fazendo companhia para seu solitário confinamento. Kusturica extrai ao máximo esse simbolismo de um homem que, para além da política, tem um ofício, que é ao mesmo tempo sua sobrevivência e sua essência. E que em seu cotidiano construiu uma micropolítica em sintonia com a macropolítica que propunha.

Não é pouco. Não se trata de uma escolha de ocasião, mas de 85 anos de percurso. Nada mais longe desse personagem do que a ostentação e o consumismo. Ao olhá-lo, não podemos deixar de perguntar: não deveria ser este o comportamento de todo líder popular?

Não deveríamos pensar a política a partir do seu exemplo? Pepe não é arrivista, não faz parte da elite uruguaia, e nem aspira fazer. Há alguém mais distante do que se tornou a esquerda hegemônica na América do Sul?

Por trás da simplicidade, há os pequenos símbolos e gestos de alguém que aprendeu que a maior qualidade das pessoas é a coerência. Em um mundo de obscuridade, Pepe é o oposto. Tudo nele é límpido, inclusive sua vocação política.

Os tempos seguiram, o governo de seu sucessor chegou ao fim com graves acusações de corrupção, a direita voltou ao poder. Mas a imagem de Pepe cultivando suas flores e dirigindo seu inesquecível carro velho resiste.

O momento síntese do filme talvez seja a simbólica viagem de Pepe em seu fusca azul, modelo 1982, dos arredores de Montevidéu até o palácio de governo, onde passará a faixa presidencial. As pessoas estão nas ruas, gritam seu nome. Ele responde singelamente, apertando os olhos puxados, sorrindo. Cumpre o rito de passagem com despojamento, e depois volta para casa.

À noite, em uma roda de amigos, conversa e toma um mate, como se fechasse mais uma jornada. Aquele pequeno senhor de bigode despertou a esperança no povo uruguaio e estabeleceu uma forma de fazer política. Podemos concordar ou não com suas convicções, mas ninguém põe em dúvida a sua integridade, a maior herança que Pepe deixou para o futuro.

É um dos raros políticos que são famosos por sua sinceridade, com a qual não poupou nem seus pares (são famosas frases como “essa velha é pior que o caolho”, referindo-se, respectivamente, a Cristina Kirchner e ao falecido ex-presidente Néstor Kirchner, que era estrábico).

A viagem de fusca fecha mais um ciclo, um simbólico adeus aos tempos sombrios da ditadura uruguaia, que nós, seus vizinhos, não fomos capazes de realizar. Acompanhado do diretor Emir Kusturica, Pepe nos mostra, em sua incômoda e cativante simplicidade, que a despedida da Presidência foi apenas mais um dia na vida de alguém que lutou toda a vida.

É uma daquelas raras pessoas que o dramatugo alemão Bertold Brecht classificou como “imprescindíveis”…

Fonte: Revista Época – Coluna Thiago B. Mendonça

Gabo: A criação de Gabriel García Márquez

Se você ainda não leu nenhuma obra de Gabriel García Márquez, já vai colocando algum livro desse mestre na sua lista de livros a serem lidos antes de morrer. Gabo, como era chamado pelos mais íntimos, é um daqueles autores indispensáveis. Ele tinha a incrível habilidade de contar histórias, já conhecidas pelo público, de uma maneira totalmente espetacular. No documentário sobre sua vida, disponibilizado pela Netflix, entendemos melhor como o colombiano conseguiu elevar a literatura em língua espanhola a um outro patamar, através de seu realismo mágico.

No filme conhecemos a história de Gabo, desde a sua infância, na pequena cidade de Aracataca, na costa do Caribe colombiano. Aliás, o Caribe vai fazer parte de sua personalidade e também de sua obra durante toda vida, assim também como a criação por parte dos avós vai marcar profundamente sua existência.

O dom de escrever é algo natural para Márquez desde muito jovem, tanto que ele ganha a vida como jornalista, antes de si firmar como um grande escritor. O jornalismo é uma paixão que dura até a velhice de Gabo. O documentário mostra também como suas obras refletem a dor de uma Colômbia marcada por uma enorme violência, desde sua juventude e nos últimos tempos, especialmente relacionada aos conflitos do narcotráfico.

Gabo: a criação de Gabriel García Márquez traz depoimentos de familiares, amigos, colegas e admiradores do célebre autor de “Cem anos de solidão”. Um desses fãs é ninguém menos que o ex-presidente americano Bill Clinton, que se mostra um grande conhecedor da obra do colombiano.

Além dos depoimentos, o filme traz também entrevistas com o próprio autor, onde podemos ver características que sempre o marcaram: a doçura e a afetividade.

Se você também é fã de Gabo, não deixe de assistir ao filme, que é também uma linda homenagem… ❤

Adentrando “O Poço”

Se você ainda não assistiu, provavelmente, já ouviu falar de “O Poço”, filme lançado pela Netflix no início do ano e que se tornou um sucesso no mundo inteiro. Muitos explicam o êxito da produção ao fato dela ter sido lançada no momento de isolamento social, provocado pela pandemia do novo coronavírus. Desde o início da quarentena, temos visto cenas da vida real que nos fazem refletir sobre o que acontece no filme, afinal, qual o sentido das pessoas estocarem alimentos e produtos como papel higiênico? A única resposta está no egoísmo humano, característica largamente explorada na película.

Em O Poço, (El Hoyo) Goreng (Ivan Massagué), personagem principal da história, acorda numa cela cinza e escura, acompanhado de um senhor de idade. No meio da sala, um buraco enorme, retangular, por onde você pode enxergar tanto a cela de cima como a de baixo. Eles estão no 48º andar dessa prisão vertical.

Trimagasi (Zorion Eguileor) é o nome do companheiro de Goreng e é ele que explica para o protagonista como funciona a dinâmica do lugar. Ao soar a sirene, uma vez ao dia, uma plataforma enorme desce do andar de cima e se encaixa no buraco do chão. Nela, restos de comida, pratos sujos, copos quebrados, alimentos pisoteados. Trimagasi come com gosto o que está à sua frente, com Goreng observando assustado e enojado. 

Não é preciso ser bom em matemática para logo entender que aquela comida é o que restou do andar 47º, que comeu o que sobrou do andar 46º e por aí vai. Mas são quantos andares? Todos conseguem comer? Ninguém se importa com a higiene? São essas as perguntas que passam pela cabeça de Goreng e, consequentemente, pela nossa.

A escolha dos andares para os prisioneiros é aleatória e dura por um mês inteiro. Você pode passar um desses meses no 6º andar e receber alimentos quase intocados. Ou também pode estar no 159º e receber apenas pratos vazios durante o mês inteiro. E para nossa agonia é apenas no final do filme que descobrimos quantos andares a prisão realmente possui.

O filme espanhol dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia utiliza o roteiro da prisão para escancarar o egoísmo humano dentro de uma óbvia divisão de classes. Se quem está no topo economizasse comida, sobraria para a cela seguinte e assim todos conseguiriam comer, pelo menos um pouco. Mas as pessoas que estão nos andares de cinema abusam do privilégio ao se fartar de comida sem pensar no próximo, naquele que vai se alimentar dos seus restos.

Ao analisar o filme como obra cinematográfica, “O Poço” é um longa metragem que entretém ao nos deixar curiosos, fascinados e, ao mesmo tempo, angustiados mediante àquela realidade. É um daqueles filmes que nos dá tapas na cara ao mostrar, mesmo que numa situação absurda, como a nossa humanidade está se esvaindo. É pesado, é sangrento e mostra o pior (e até o melhor) que pode ser extraído de nós numa situação extrema.

Trimagasi, interpretado por Zorion Eguileor, é um dos destaques do filme, óbvio… Rs

O roteiro faz uma crítica ao sistema capitalista e ao socialismo ao mesmo tempo. É inevitável não lembrar do grau de desigualdade social que o sistema capitalista produz ao assistir a película; mas por outro lado, quando o personagem principal Goreng tenta estabelecer uma espécie de socialismo dentro da prisão, pra que ninguém mais passasse fome ali, ele acaba tendo que partir pra violência pra tentar alcançar seu objetivo. Nesse momento, Goreng percebe que o conceito de solidariedade espontânea, defendido por uma de suas companheiras de cela, que havia trabalhado na administração da prisão, não passa de uma grande ilusão.

Além das inúmeras reflexões sobre a sociedade que o filme produz, a obra é cheia de referências bíblicas e também à maior obra da Literatura Espanhola de todos os tempos: “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes. Apesar da temática do filme ser bem pesada, existem uns momentos de ironia, que chegam até a mesmo a nos descontrair, dando um toque de humor pra aliviar a tensão. Esses momentos surgem através do velhinho Trimagasi e sua maneira “óbvia” de interpretar os acontecimentos. Todos esses ingredientes nos fazem refletir durante toda a película e constamos que ” O Poço” será uma obra sempre atual, pois, infelizmente o egoísmo é uma característica permanente na espécie humana.

Assista ao vídeo abaixo para entender melhor como o filme dialoga magistralmente com o clássico de Cervantes. E lembre-se: mais importante que o final em si é a mensagem que o filme deseja transmitir….

Fonte: Site Jovem Pan

Conhecendo o vilão

Todos nós fãs de “La Casa de Papel” desenvolvemos um grande amor por alguns personagens, e um grande ódio por outros. Nessa última temporada, o mais odiado de todos, sem dúvida, foi o implacável Gandía. O vilão que apareceu sorrateiro na parte 3 e roubou a cena na parte 4 da série cumpriu sua função e nos deixou curiosos para saber um pouco mais sobre a carreira dele. O responsável por tantas emoções controversas é José Manuel Poga, ator espanhol de 40 anos.

Para começar, vamos exaltar o lado bom. Nos bastidores, a relação dele com Nairóbi, ou melhor, com a Alba Flores, é só amor. O perfil oficial de “La Casa de Papel” teve até que divulgar algumas imagens para conter um pouco os ânimos de quem já queria sair metralhando o ator por causa das maldades de seu personagem.

A Netflix fez questão de ressaltar que a relação entre o vilão seus companheiros nos bastidores é ótima.

Gandía é tão ruim com os personagens que mais amamos na parte 4 de “La Casa de Papel” que nem dá tempo de reparar em outras coisas. Mas muita gente que teve curiosidade e foi investigar um pouco mais a fundo sobre o ator se surpreendeu com a beleza dele em outros papéis da carreira.

O visual com barba rendeu elogios do público.

Antes de virar Gandía e ganhar o reconhecimento mundial com “La Casa de Papel”, o ator se destacou por seus papéis em “La Luz Con El Tiempo Dentro” (2015), “El Niño” (2014) e “Mel de Laranjas” (2012). Infelizmente, nenhum deles está disponível no Brasil. Mas eis aqui uma listinha de outras séries e filmes com José Manuel Poga e que você pode encontrar na Netflix:

  • “Fugitiva” (série com uma temporada);
  • Toro (filme com 1h46 de duração;
  • “A Trincheira Infinita” (filme com 2h27 de duração).

Uma notícia triste para aqueles que adoram ficar acompanhando os atores enquanto a série não volta, é que o intérprete de Gandía ainda não tem perfil nas redes sociais. Mas, para compensar, tem um monte de conta de fã surgindo para abastecer a curiosidade dos seguidores da série espanhola. Quem sabe ele não resolve criar uma conta oficial em meio ao isolamento social não é? 🤔

Fonte: Portal Uol

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