Brasil é país com menor rejeição à vacina, contra a Covid, na América Latina

O Brasil é o país com o menor percentual de população que declara não querer tomar a vacina contra covid-19 na América Latina. É o que concluiu uma pesquisa feita em parceria pelo Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a partir de ligações telefônicas periódicas a domicílios de 24 países da América Latina. Os dados da segunda fase do levantamento foram apresentados na segunda-feira (29/11) em Washington.

Segundo o estudo, enquanto a taxa média de hesitação vacinal na América Latina está em torno de 8%, no Brasil, ela é menos do que a metade, cerca de 3%. De outro lado, enquanto na média, 51% dos latino-americanos já estão imunizados contra a covid-19, no Brasil, o percentual ultrapassa os 80%.

Os dados indicam que as repetidas declarações do presidente Jair Bolsonaro que lançam dúvidas sobre a segurança e a eficácia da imunização não encontraram aderência na população brasileira, mesmo entre seus apoiadores.

Bolsonaro é o único líder do G-20 a afirmar não ter se vacinado. O presidente já afirmou, sem qualquer evidência científica, que quem tomasse vacina contra a Covid poderia “virar jacaré”, associou os imunizantes a desenvolvimento da AIDS e sugeriu que a Coronavac, produzida pelo Butantan em parceria com a China, causava “morte, invalidez, anomalia”.

Há um ano, ele postou em seu Twitter uma foto em que abraçava um cachorro, com a seguinte legenda: “vacina obrigatória só aqui no Faísca”.

O relatório final da CPI da Covid atribui ao governo federal atraso no início do programa vacinal brasileiro, que só começou meses depois de EUA e Europa. O presidente sempre negou ter sido responsável por qualquer atraso na vacinação.

Apesar disso, atualmente o Brasil já supera os americanos e alguns países europeus em cobertura vacinal, graças a forte adesão da população.

Especialistas em saúde pública atribuem o fenômeno à cultura de imunização alimentada por anos em campanhas massivas de vacinação promovidas pelo Sistema Único de Saúde – e em que a figura central era o Zé Gotinha.

Além disso, o fato de o programa de transferência de renda Bolsa Família e as escolas e creches públicas requererem a vacinação para garantir o benefício e as vagas também geram engajamento da população.

Para os estudiosos, no entanto, é preciso estar atento aos possíveis efeitos de longo-prazo de declarações de autoridades contra vacinas. A cobertura vacinal no Brasil vem registrando queda desde 2011 e uma das causas pode ser justamente a hesitação vacinal.

De acordo com o estudo do Banco Mundial, áreas rurais e pobres são hoje as mais afetadas por sentimentos antivacina na América Latina. “Entre os não vacinados, mais da metade afirma que sua indisposição deriva da falta de confiança e uma preocupação com a eficácia da vacina. A hesitação vacinal é particularmente alta entre as famílias rurais e indivíduos com níveis de escolaridade mais baixos. A população do Caribe apresenta os níveis mais altos de hesitação vacinal”, afirmam os pesquisadores no relatório.

O Haiti é o país com a menor taxa de vacinação contra o novo coronavírus (menos de 1%) e com a maior proporção de pessoas que dizem se recusar a tomar o imunizante (quase 60%). O Haiti também foi a última nação das Américas a receber doses para iniciar a campanha de imunização, que segue a passos lentos. Atrás dos haitianos, habitantes de Jamaica e Santa Lúcia são os que mais recusam vacina, com 50% e 43%, respectivamente.

Saúde melhorou, educação nem tanto

O relatório aponta ainda que o acesso à saúde no continente melhorou e já retornou a níveis pré-pandêmicos. Enquanto 48% da população latina, em média, buscou atendimento médico emergencial há pouco tempo, percentual semelhante (47%) afirmou ter ido ao médico recentemente por razões preventivas, o que, segundo os autores do estudo, revela que os serviços públicos e privados de saúde já não estão mais sobrecarregados pela pandemia como aconteceu no pico da contaminação na região.

O mesmo, no entanto, não aconteceu em relação ao acesso à educação. Mais de um ano após o início da pandemia, apenas 23% das crianças em idade escolar na região frequentavam aulas presenciais. No Brasil, o percentual ficou em torno de 40%. A qualidade da educação oferecida à distância e a falta de conexão à internet segura e de qualidade de parte da população geram preocupação sobre o futuro de crianças e adolescentes.

“Menor envolvimento em atividades de aprendizagem e baixo comparecimento face a face representam riscos significativos para os resultados de aprendizagem das crianças e para a acumulação de capital humano. Estimativas recentes revelam que os alunos na região perderam entre 12 e 18 meses de escolaridade. Aqueles de baixo nível socioeconômico foram particularmente afetados, o que sugere efeitos negativos duradouros sobre a mobilidade social e a desigualdade”, diz o relatório da pesquisa.

*Com informações de BBC News Brasil

Chile e Uruguai anunciam vacinação de jovens a partir de 12 anos contra covid-19

As autoridades sanitárias do Chile e do Uruguai aprovaram nesta semana a administração da vacina contra Covid-19 produzida pela Pfizer e BioNTech em menores de idade a partir de 12 anos. A imunização de adolescentes nos países sul-americanos começará depois dos Estados Unidos, Canadá e da União Europeia (UE) também terem aprovado a vacina do laboratório americano para a faixa etária.

A informação sobre a aprovação no Chile foi divulgada pelo Instituto de Saúde Pública (ISP) na segunda-feira 31. Já o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, anunciou a notícia nesta terça-feira 1º.

Em entrevista à emissora Canal 10, Lacalle Pou confessou estar preocupado com a pandemia no Uruguai e disse que até o final desta semana a programação será aberta para que jovens a partir de 12 anos possam ser vacinados. O chefe de governo insistiu que ele está confiante nas medidas implementadas por seu governo e no processo de vacinação.

A este respeito, ele confirmou que o Uruguai acaba de assinar “uma reserva de mais de 500.000 doses da vacina CoronaVac” para aumentar sua distribuição. O governo uruguaio vem cogitando administrar uma terceira dose para reforçar a eficácia dos imunizantes que estão sendo inoculadas no país, os de Pfizer e AstraZeneca e a CoronaVac.

No Chile, a vacinação de adolescentes entre 12 e 16 anos deve começar nas próximas semanas. A faixa etária se juntará às 7,9 milhões de pessoas que já receberam o calendário completo de vacinação no país, que tem 19 milhões de habitantes.

Uruguai e Chile anunciam vacinação para público entre 12 e 18 anos – Imagens: Reprodução Internet

Até hoje, o Chile recebeu quase 22 milhões de vacinas, sendo 17 milhões delas a CoronaVac. Também há 3,6 milhões de doses do imunizante da Pfizer, 693,6 mil da AstraZeneca e 300 mil da CanSino.

Além dos países sul-americanos, a vacina da Pfizer também foi aprovada em adolescentes nos Estados Unidos, no Canadá e na União Europeia. O laboratório americano solicitou no último dia 20 a aprovação da vacina em jovens a partir de 12 anos e forneceu estudos favoráveis de agências como a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA).

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) liberou na última sexta-feira a aplicação da vacina da Pfizer e da BioNTech, com tecnologia RNA mensageiro, para jovens de 12 a 15 anos de idade.

Inevitável pensar, nesse momento, que o Brasil poderia estar nesse mesmo ritmo de vacinação, não é mesmo? 😓

Fonte: Revista Veja

Vacinação reacende a esperança na Espanha

A  vacinação  libertou as residências geriátricas do jugo da covid-19 na Espanha. Com mais de 90% das pessoas em residências (idosos na maioria) imunizadas contra o coronavírus, o número de óbitos, desta faixa etária, despencou no país.

Segundo o último relatório do Instituto de Idosos e Serviços Sociais (Imserso), ligado ao Ministério dos Direitos Sociais, entre 29 de março e 4 de abril só foram registrados 45 contágios e dois mortos. É uma queda de 99,7% no número de mortos — e de 98% nas infecções — em relação à última semana de janeiro, quando a terceira onda chegava a seu auge e a vacinação ainda não havia surtido efeito. Desde então, a diminuição da onda e os efeitos da imunização maciça nas residências provocaram o desabamento dos casos e mortes, deixando as casas de repouso quase livres de covid-19: em 12 comunidades autônomas não houve contágios em Abril.

As residências geriátricas eram o local perfeito para um vírus que cresce nos espaços fechados e é mais grave nos idosos. A crise sanitária encontrou esses locais desprotegidos e o coronavírus entrou sem resistências. Pelo menos 19.012 idosos residentes com covid-19 morreram em 2020, primeiro ano da pandemia.

Mas esse número pode ser maior, já que, durante a primeira onda, o acesso a testes diagnósticos foi restrito e muitos idosos com sintomas compatíveis não foram diagnosticados. De fato, o relatório do Imserso reúne mais 10.492 idosos mortos nas residências com um quadro clínico compatível com a covid, mesmo que a doença não tenha sido confirmada. “A primeira onda foi terrível. O vírus encontrou aí um caldo de cultura para intensificar sua transmissão e destroçou as residências”, lembra Daniel López-Acunã, ex-diretor de Emergências da Organização Mundial da Saúde  (OMS).

As residências se blindaram durante boa parte de 2020, mas não conseguiram se livrar do vírus. Somente as vacinas, que começaram a chegar a conta-gotas desde 27 de dezembro e foram priorizadas a trabalhadores e idosos de residências, mudaram a realidade desses locais. Os trabalhadores e os residentes tomaram a vacina da Pfizer, de duas doses (a segunda 21 dias após a primeira). Um mês após a primeira injeção, já estavam protegidos.

O relatório do Imserso constata os efeitos da vacinação. Durante o mês de janeiro, quando as injeções nas residências aceleraram, ainda havia contágios e mortes em alta: quase 11% dos centros tinham casos na terceira semana de janeiro – 8%, na quarta – e foram contabilizados entre 18 e 24 desse mês 718 mortes. Na semana seguinte se chegou ao pico de mortes semanais de 2021, com 771. Mas a partir de fevereiro, entretanto, as novas infecções e as mortes caíram radicalmente. “Nesta curva é preciso levar em consideração como a evolução da terceira onda influenciou [no final de janeiro chegava em seu auge] e a vacinação. Os idosos se vacinaram em janeiro e precisavam de duas semanas para ter proteção suficiente. Na quarta semana, a proteção é completa, mas a partir da segunda já é de 80%”, diz Salvador Peiró, epidemiologista da Fundação para o Fomento da Pesquisa Sanitária e Biomédica da Comunidade Valenciana.

O avanço da vacinação na Espanha trouxe resultados muito positivos na luta contra a covid-19. Imagem: Reprodução Internet

No início de Abril, somente a Andaluzia e a Catalunha reportaram mortos, um em cada comunidade, mas o relatório do Imserso esclarece que os dados andaluzes correspondem a casos notificados, ou seja, que a morte pode ter acontecido em semanas anteriores. De qualquer modo, o matiz não modifica a tendência de queda a cada semana, com algum aumento pontual: na semana anterior, de 22 a 28 de março, 24 residentes faleceram com covid; de 15 a 21, se registraram 17; de 8 a 14, foram 22; entre 1 e 7 de março, 33.

Com os contágios acontece a mesma coisa: as residências registram desde meados de março por volta de 45 contágios por semana, números bem distantes dos mais de 4.000 semanais que chegaram a ser contabilizados em janeiro. “Ficamos contentes em confirmar as esperanças colocadas nas vacinas. Tínhamos certeza que iriam cortar os contágios e foi o que aconteceu. Agora estamos muito mais tranquilos, mas não podemos relaxar. Estamos recuperando as atividades nas residências e as visitas, mas com prudência”, diz Jesús Cubero, do sindicato patronal Aeste.

Após meses confinadas, as residências começaram a abrir, aceitam visitas e os idosos podem sair. Mas as medidas de segurança são mantidas, como as máscaras e também os equipamentos de proteção individual entre os funcionários. Estão mais tranquilos, mas atentos: “Sofremos muito e dá medo de falar que tudo vai bem, mas a verdade é que o efeito da vacina foi excepcional”, diz Cinta Pascual, presidenta do sindicato patronal Ceaps. Em uma das residências foi realizada uma festa na sexta-feira dia 09 de Abril, para comemorar o 25º aniversário do local: “Ousamos colocar alegria no corpo. Com medidas, em quatro refeitórios diferentes, com máscaras e distância, mas fizemos chocolate com churros, bebemos vermute e houve apresentações musicais. Precisamos nos atrever a abrir. É uma terapia que todos nós precisamos”, afirma.

Fonte: El País Brasil

Chile lidera ranking de vacinação na América Latina

Na primeira semana da campanha de vacinação em massa contra covid-19 em idosos, o Chile já havia ultrapassado o marco de um milhão de pessoas imunizadas. A meta do governo chileno é vacinar toda a população que faz parte do grupo de risco — incluindo pacientes crônicos e profissionais de saúde — ainda no primeiro trimestre de 2021, de modo a imunizar 15 milhões dos 19 milhões de habitantes do país até julho.

Em meados de 2020, o governo chileno enfrentou fortes questionamentos em relação à gestão da pandemia, à medida que o país registrava grandes taxas de infecção por covid-19. Mas agora está sendo aplaudido por seu plano de vacinação. A campanha é gratuita e voluntária. De acordo com os últimos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde do país, 2.375.725 pessoas foram imunizadas no Chile contra a covid-19 até o final do mês passado.

Até o dia 19 de fevereiro, o país havia administrado 15,03 doses da vacina para cada 100 habitantes — segundo a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Número muito superior às 3,07 doses no Brasil, 1,48 na Argentina e 1,22 no México. O desempenho até agora coloca o país como líder latino-americano e 7º no ranking mundial de taxa de vacinação contra a doença, liderado por Israel (82,40).

Mas como o Chile alcançou esse resultado?

De acordo com Luis F. López-Calva, diretor regional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da América Latina e Caribe, para que uma campanha de vacinação seja bem-sucedida, três fatores importantes devem ser levados em consideração: primeiramente, dispor de recursos financeiros para adquirir as vacinas; segundo, ter uma boa estratégia para distribuir as doses e, finalmente, ter capacidade institucional e estrutura governamental para implementá-la.

“Essas três características foram bem atendidas no caso do Chile”, afirmou López-Calva à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Compra antecipada de vacinas e diversificação

O Chile agiu rapidamente e logo assinou acordos com diferentes desenvolvedores de vacinas contra covid-19. Até agora, o país já garantiu mais de 35 milhões de doses de vacinas, das quais 10 milhões são da empresa americana Pfizer-BioNTech, outras 10 milhões da chinesa Sinovac e o restante da AstraZeneca, da Johnson & Johnson e do consórcio Covax, iniciativa liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para garantir o acesso universal à vacina.

Além disso, está em meio a negociações para comprar doses da vacina russa Sputnik V, que em breve poderá garantir as duas doses necessárias da vacina para toda a população.

O país também foi o primeiro da América do Sul a iniciar a vacinação contra o covid-19.

As autoridades começaram a imunizar os profissionais de saúde da linha de frente em 24 de dezembro com as doses fornecidas pela Pfizer/BioNTech, às quais se somaram as do laboratório chinês Sinovac na campanha de vacinação em massa que começou no dia 03 de fevereiro.

Para isso, é preciso levar em conta que o Chile dispõe de recursos para obter a vacina. Membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), possui um dos maiores PIB per capita da região, embora também deva ser levado em consideração que apresenta uma taxa de desigualdade superior à média da OCDE. Segundo López-Calva, “a compra das vacinas foi prevista com bastante tempo, houve um bom planejamento”.

“E a ideia era priorizar: primeiro os profissionais de saúde, depois os idosos — para os quais o Chile adquiriu um número significativo de doses da Pfizer — e depois ter vacinas de outras empresas farmacêuticas para o resto da população”.

Nesse sentido, López-Calva acredita que foi importante apostar na diversificação na hora da compra, diferentemente de alguns países de alta renda, por exemplo, que apostam apenas nas vacinas ocidentais.

“A diversificação de desenvolvedores tem sido muito importante porque o mercado está muito distorcido e a oferta muito limitada. Alguns países optaram por um ou outro e só recentemente estão tentando diversificar”, afirmou o diretor regional do PNUD.

Colaboração científico-clínica

Para Alexis Kalergis, acadêmico da Universidad Católica de Chile e diretor do Instituto Millennium de Imunologia e Imunoterapia, a colaboração científico-clínica foi fundamental para alcançar alguns dos acordos.

“Foi estabelecido um acordo de colaboração acadêmica-científica entre a Universidade Católica e a Sinovac, que visa o desenvolvimento recíproco e colaborativo de vacinas contra a SARS-CoV-2, por meio de estudos científicos e clínicos”, explica Kalergis à BBC News Mundo.

“Este acordo deu origem a algo muito importante, que foi a possibilidade de acesso prioritário e preferencial a um fornecimento de doses para uso no Chile, uma vez aprovado pelos respectivos órgãos reguladores”.

“Este direito obtido pela Universidade Católica foi transferido 100% para o Estado do Chile por meio de um convênio entre a Universidade Católica e o Ministério da Saúde. O que permitiu ao nosso país poder garantir um fornecimento antecipado e prioritário de doses para os próximos meses”, acrescenta.

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Capacidade institucional e coordenação

O Chile também possui uma sólida rede de atendimento primária, por meio da qual já são realizadas outras campanhas anuais de vacinação, afirma a jornalista Paula Molina. Segundo ela, tanto essa rede robusta quanto a experiência em campanhas de vacinação têm facilitado a logística. E em relação a isso, o Chile tem uma vantagem.

“Temos uma população pequena e ela está muito concentrada na região metropolitana (Santiago)”, diz Molina. Além da capacidade institucional em termos de centros de saúde, López-Calva também destaca a utilização de recursos materiais e humanos existentes para acelerar o ritmo da vacinação.

Assim, estádios, centros educacionais e esportivos foram transformados em postos de vacinação, e todo profissional de saúde capacitado — como dentistas e parteiras — foi chamado para realizar a vacinação. “É uma estratégia que tem funcionado bem e acho que outros países podem aprender com ela”, avalia o diretor regional do PNUD. Nesse sentido, a colaboração entre os diferentes níveis de governo tem sido fundamental.

“Tem havido uma coordenação do governo central mas com muita intervenção dos governos regionais, dos governos locais, viabilizando espaços ao ar livre, ginásios, estádios, para poder haver mais postos de vacinação.” Segundo López-Calva, em estruturas mais descentralizadas, onde os governos locais têm mais autonomia, como no Brasil ou no México, esse tipo de estratégia e planejamento leva mais tempo.

Contra o ‘turismo das vacinas’.

As autoridades chilenas retificaram o plano inicial de vacinação divulgado pelo Ministério da Saúde e anunciaram na semana passada que não vão vacinar estrangeiros não residentes no país contra a covid-19, com o objetivo de evitar o chamado “turismo das vacinas”.

“Os estrangeiros que estão no país com visto de turista (…), ou aqueles que se encontram de forma irregular, não terão direito de se vacinar no Chile”, declarou o ministro das Relações Exteriores, Andrés Allamand.

Para ter acesso à imunização, é necessário ter nacionalidade chilena, permanência ou residência no país, ou, na ausência disso, uma solicitação de visto em andamento, esclareceu o chanceler.

“O que se tenta evitar é o turismo da vacina, não se trata de não vacinar estrangeiros, mas de não vacinar pessoas com visto de turista”, diz López-Calva a respeito do anúncio chileno.

Pelo novo decreto, todos os migrantes em situação irregular também são excluídos da campanha de vacinação, o que deixa sem vacina os milhares de estrangeiros que entraram no país nas últimas semanas pela fronteira ao norte com a Bolívia — e que estão em quarentena preventiva.

Fonte: BBC News

Conheça a soberana, vacina cubana contra a covid-19

Alguns dos equipamentos do Instituto Finlay de Vacinas, em Havana, podem ser considerados desatualizados em outras partes do mundo. Mas o que ocorre por trás de suas paredes pintadas de branco é ciência de ponta. Ali, os pesquisadores trabalham em longos turnos naquela que é considerada a maior oportunidade para Cuba combater a pandemia: a Soberana 2, a vacina contra a covid-19 produzida na ilha. A Soberana 2 é uma vacina conjugada. Isso significa que ela traz um antígeno (substância que suscita a resposta imune do organismo) junto com uma molécula transportadora para reforçar a sua estabilidade e eficácia. Dentro de semanas, o imunizante começará a ser testado em dezenas de milhares de voluntários.

Os resultados dos primeiros ensaios clínicos foram “encorajadores” e “muito importantes”, afirma o diretor do instituto, Vicente Vérez Bencomo. Segundo a agência Efe, a vacina está na fase de estudos 2B, que avaliará, entre outros pontos, a capacidade da vacina em gerar resposta imunológica e sua segurança. Depois disso, ainda restaria a fase 3 de estudos.

O governo espera dar a vacina a todos os cubanos até o final do ano. “Nosso plano é, obviamente, primeiro imunizar nossa população”, explicou Bencomo em uma entrevista coletiva. “Quando passarmos para a produção comercial da Soberana 2, planejamos ter cerca de 100 milhões de doses ao longo de 2021, e vamos dedicar parte importante delas à imunização total do país”, completa.

Sem influência americana

A meta citada por Bencomo é ambiciosa, mas realista: Cuba tem mais de 30 anos de experiência em biotecnologia e imunologia. No final da década de 1980, cientistas cubanos produziram a primeira vacina contra a meningite B e o então líder do país, Fidel Castro, abriu o Instituto Finlay com o objetivo de encontrar maneiras de contornar o embargo americano que perdura por décadas.

Se as patentes das empresas farmacológicas dos Estados Unidos não estiverem disponíveis para Cuba, o país seria capaz de encontrar suas próprias soluções nesse campo, argumentou o representante do Instituto Finlay. No entanto, fazer 100 milhões de doses de vacina sem alguma forma de assistência internacional vai muito além da capacidade fabril da ilha.

Ainda assim, mesmo se o governo de Joe Biden amenizar as medidas restritivas reforçadas durante a administração de Donald Trump, os Estados Unidos não terão um papel importante no desenvolvimento da Soberana 2.”Nossos principais contatos são com a Europa e o Canadá. Nós também temos contribuintes da Itália e da França”, explica Bencomo.”Esperamos que no futuro seja possível avançar para a próxima etapa da cooperação com os Estados Unidos”, disse ele.

Instituições internacionais, como a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), esperam que Cuba se torne o primeiro país latino-americano a produzir do zero sua própria vacina.

“Estamos muito otimistas”, disse o médico José Moya, representante da Opas em Cuba.”Fomos informados na fase piloto e nos testes experimentais da Soberana 2 e sabemos que o país vem investigando a viabilidade de várias vacinas desde agosto do ano passado”.

José Moya, da Opas, compartilha do otimismo dos cientistas cubanos

Saúde sob pressão

As apostas de Cuba são altas. Em primeiro lugar, isso acontece porque os números de casos e mortes por covid-19 estão piorando a cada semana por lá. As infecções confirmadas aumentaram recentemente para mais de mil por dia, pela primeira vez desde o início da pandemia. Até o dia 16 de fevereiro, o país registrava 269 mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins e a OMS.

Embora essas estatísticas pareçam minúsculas em comparação com aquelas observadas em México, Brasil e Estados Unidos (os três países com o maior número absoluto em mortes por covid-19 no mundo), elas são sérias o suficiente para colocar pressão extra no sistema de saúde cubano. Em meados do ano passado, Cuba conteve em grande parte seu surto por meio da combinação de uma agressiva campanha de informação pública e o fechamento de seus aeroportos.

Durante várias semanas entre julho e agosto, a ilha registrou taxas mínimas de transmissão e poucas mortes. Mas os casos gradualmente aumentaram, para grande frustração dos cubanos.

Moya, da Opas, diz que a situação não está fora de controle e é similar à que ocorre em outros países.”Chegou um momento em todos os lugares em que era necessário começar a reabrir. E foi o que aconteceu aqui, enquanto se tentava avançar progressivamente para o chamado ‘novo normal’.”

Problemas do amanhã

Cuba está experimentando sua pior perspectiva econômica desde o fim da Guerra Fria. Logo, existe também um importante incentivo econômico para uma vacina bem-sucedida. Os bloqueios e lockdowns necessários para conter o coronavírus foram muito dolorosos para uma ilha que depende tanto do turismo.

Isso fez a economia cubana despencar 11% no ano passado. Atualmente, longas filas se formam todos os dias do lado de fora de lojas de alimentos e supermercados, enquanto as pessoas aguardam sua vez de adquirir produtos básicos.

O governo escolheu este momento para implementar uma série de reformas, desde a unificação da moeda até algum tipo de liberalização das licenças de trabalho autônomo. Embora essas medidas possam eventualmente fortalecer a economia conturbada de Cuba, elas resultam numa tormenta de curto prazo para muitas famílias, especialmente aquelas sem parentes que enviam recursos financeiros do exterior.

Os cubanos são muito resistentes e engenhosos — eles tiveram que desenvolver essas características para enfrentar o duplo desafio imposto pelas sanções americanas e pelo controle autoritário do Estado. Mas muitos estão exaustos com os meses implacáveis ​​de restrições e as dificuldades econômicas opressivas.

Um fio de esperança?

Com as crianças ainda fora da escola, as empresas falindo e um toque de recolher na capital Havana, as pessoas anseiam por notícias encorajadoras sobre a vacinação. Uma vacina viável permitiria à ilha reabrir mais cedo e sem o medo de novas ondas. A Soberana 2 também permitiria uma nova fonte de receita ao ser exportada para toda a região.Tudo isso coloca uma urgência real no trabalho dos cientistas: eles precisam aliviar a crise sanitária e econômica da ilha com muita rapidez.

Fonte: BBC News Brasil

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